quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

ZICO & JÚNIOR

"Mas em tempos escassos para o futebol rubro-negro, sem que seu torcedor soubesse, o universo já conspirava para transformar os dias do time vermelho e preto na direção de momentos mais gloriosos. Não era possível se prever ainda que os dois maiores ídolos da história do Flamengo já andavam refinando suas técnicas em outros campos, começando a desenvolver as habilidades de dois garotos que, em extremos opostos da cidade, aprendiam a ganhar mais intimidade com uma bola de futebol. Um nas areias da praia, e outro em quadras apertadas de salão.


Os campeonatos de futebol de areia no Rio de Janeiro moviam nesses tempos um grande público para a praia de Copacabana. Os campeonatos eram bem organizados e os jogos costumavam ser disputados nas tardes de sábado. O público se aglomerava para ver as partidas no calçadão e no entorno da cancha. Times como o Areia, o Dínamo e o Juventus eram os mais badalados e disputavam a simpatia dos fiéis torcedores que iam à praia ver as acirradas disputas. As vagas entre os titulares destas equipes eram bastante disputadas. Só aqueles com refinada habilidade conseguiam um lugar nestes times. E não era qualquer técnica. É muito diferente jogar futebol na areia, exige muito mais resistência muscular, é uma disputa com muito mais contato físico e precisa-se estar acostumado a conduzir a bola num piso que oferece muito mais resistência e atrito, exigindo um menor contato entre a pelota e o chão. Foi nestes jogos na praia, sob a camisa do Juventus, que se avistou o talento do garoto Leovegildo Lins da Gama Júnior. Para alguns era o Léo, para a história do futebol mundial o Júnior, lateral esquerdo da seleção brasileira na Copa de 1982. Ele foi levado para treinar na Gávea e de lá só foi sair muitos anos depois, quando brilhou nos gramados italianos com as camisas do Torino e do Pescara.

No outro extremo do Rio de Janeiro, e por outro esporte também derivado do futebol, nascia mais uma estrela a brilhar pela constelação vermelha e preta. Só que esta não era qualquer estrela, era a maior delas. O refinamento de sua habilidade para o futebol se deu nas estreitas quadras do futebol de salão, esporte cujo principal reduto na cidade, naqueles tempos, era a Zona Norte. Depois de se destacar nas peladas de rua em seu bairro natal, Quintino, o garoto Arthurzico foi levado para o River Futebol Clube, do bairro da Piedade, onde treinou e jogou por três anos. Arthur Antunes Coimbra, o Zico, era irmão de dois ex-jogadores de futebol, e sua técnica, logo cedo, chamou a atenção dos que o viram jogar amadoramente. O futebol de salão é uma atividade que exige agilidade e velocidade. A quadra rápida – que naqueles tempos tinha piso de tábua de madeira corrida – com uma bola pequena e pesada, que pouco quicava, exigia rapidez de raciocínio, toques rápidos para se acertar os passes, e dribles curtos, para se desvencilhar dos marcadores adversários. O Rio de Janeiro foi pioneiro na realização de campeonatos de futebol de salão. Embora o Rio Grande do Sul e São Paulo tenham os primeiros registros da prática do esporte, criado pela Associação Cristã de Moços (ACM), a primeira competição oficial registrada foi o Campeonato Carioca organizado em 1956. Durante as vinte primeiras edições do torneio a maioria dos títulos foi parar em clubes da Zona Norte, os quais se destacavam por amplos quadros sociais. Dentre os campeões nestes tempos, destacaram-se: América, Vila Isabel, Grajaú Tênis Clube, Grajaú Country Clube, Club Municipal e Monte Sinai (ambos da Tijuca), Imperial (de Madureira) e Mackenzie (do Méier). O River, da Piedade, brigava no segundo escalão. De suas quadras para os gramados da Gávea saiu Zico, o maior ídolo da história do clube.

O Flamengo sempre teve um histórico de grande produção de pratas da casa. Os anos 70-80 seriam marcados pelo ápice da geração de talentos nas divisões de base do clube, com o nascimento do lema “Craque, o Flamengo faz em casa” (A NAÇÃO, pgs. 99-100-101)".

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