sábado, 13 de abril de 2019

Revolução Flamengo: Receitas com a Televisão


Fechando a 2ª Gestão sob a presidência de Eduardo Bandeira de Mello, os números publicados na Demonstração Financeira de 2018 do Flamengo ainda claramente descreviam um desempenho financeiro altamente positivo, ainda que com uma clara alteração de tendência frente aos exercícios anteriores - algo que já era esperado e até desejado, uma vez que o nível de endividamento chegou a um patamar menos incômodo (longe de poder ser considerado de todo confortável) - o clube havia partido então para consolidar investimentos que pudessem mudar o patamar de qualidade de seu futebol, investindo na busca de resultados que viessem a amplificar seu poder de publicidade, visando obter maiores retornos em mais premiações, mais receitas com patrocínio e, sobretudo, com a ampliação da capacidade de arrecadação com sua própria torcida (estádios cheios e crescimento contínuo do Programa de Sócio-Torcedor). Era um anseio coletivo e uma decisão racionalmente necessária para dar sustentação de médio prazo à capacidade de crescimento das receitas rubro-negras. Tendo conquistado estes resultados, de 2019 em diante, mais do que nunca, seria preciso um monitoramento de viés dos números financeiros para que a transformação vivida até então fosse sustentável no tempo.

Sobre o Resultado Financeiro de 2018, ele trazia sinais ainda bastante saudáveis. As contratações de reforços para o elenco do futebol haviam sido feitas utilizando os recursos arrecadados com as vendas de jogadores. A dívida havia crescido, mas pouco. E o nível de empréstimos tomados junto aos bancos havia diminuído bastante, reduzindo extremamente a exposição a risco frente aos cenários observados nos anos anteriores.

A receita operacional bruta fechou 2018 em R$ 542,8 milhões, abaixo dos R$ 648,7 milhões do fechamento de 2017. Uma queda que já era esperada, dados arrecadações pontuais que haviam inflado as receitas nos dois anos anteriores. Já a receita líquida (descontados os impostos) fechou em R$ 516,8 milhões, naturalmente também abaixo do fechamento de 2017 (R$ 623,7 milhões). Os motivos da redução do volume das receitas rubro-negras: se em 2016 entraram receitas extras com as luvas da negociação dos contratos de TV posteriores a 2019, no resultado de 2017 haviam entrado os recursos da venda de Vinícius Júnior ao Real Madrid, a maior transação de um jogador sub-20 na história do futebol até então. Todas duas foram receitas pontuais e extraordinárias.

Comparando 2017 e 2018, o resultado do 1º trimestre foi praticamente o mesmo; no 2º trimestre o resultado de 2018 foi R$ 138 milhões pior. Já no 3º e no 4º trimestres esta diferença foi sendo paulatinamente diminuída, ficando R$ 115 milhões menor no 3º Tri e R$ 107 milhões menor no 4º Tri. Ficava evidente assim que o desempenho financeiro no 2º Semestre de 2018 havia sido superior ao do 2º Semestre de 2017, o que era um sinal de que as receitas ainda tinham fôlego para continuar crescendo.

Olhando os valores quebrados da receita do futebol, a conclusão a que se chegava era a de que apesar da queda em 2018, a trajetória das receitas rubro-negras no tempo mostrava-se bastante positiva, com as finanças do Flamengo ainda evoluindo e se diversificando, num processo contínuo de melhoria de resultados.

Quebrando primeiramente o resultado da receita bruta de 2018 em duas partes, via-se que a receita bruta do futebol havia somado R$ 490,5 milhões e a receita bruta do FlaGávea (clube social) e dos Esportes Olímpicos, juntas, somaram R$ 52,4 milhões. De um ano para outro, a do futebol havia caído de R$ 599,8 milhões para R$ 490,4 milhões pelo motivo já falado (inflada em 2017 pela venda de Vinícius Júnior) e a outra havia subido de R$ 48,9 milhões para R$ 52,4 milhões; esta receita "não-futebol" mantinha um leve viés de alta, pois historicamente, até então, só ficava abaixo dos R$ 56,6 milhões arrecadados em 2016.

Nos esportes olímpicos, a receita com incentivos fiscais, uma receita que só passou a ser possível de ser obtida após o clube obter as Certidões Negativas de Débito junto aos órgãos públicos - a primeira grande conquista no 1º mandato de Eduardo Bandeira de Mello - ainda tinha espaço para crescer muito: as receitas com incentivos fiscais fecharam 2018 em R$ 14,2 milhões; em 2014, primeiro ano em que o clube conseguiu ter acesso a esta fonte de financiamento, o Flamengo havia arrecadado R$ 21,9 milhões - um montante superior ao obtido em 2018 - o que representava uma prova do quanto ainda havia de possibilidades para se obter resultados ainda melhores neste quesito.

Dentro da receita do futebol, a fatia mais expressiva continuava sendo a arrecadação dos Direitos de Transmissão da TV. A receita bruta arrecadada em 2018 foi de R$ 222,5 milhões (acima dos R$ 199,1 milhões obtidos em 2017 e abaixo dos R$ 297,2 milhões arrecadados em 2016, quando entraram as luvas recebidas a vista da negociação de extensão de contrato com a Rede Globo). Frente a 2015, houve um salto de quase R$ 100 milhões, um incremento sem dúvida bastante expressivo.

Comparando 2017 com 2018, a arrecadação dos Direitos de Transmissão da TV só melhorou de um ano para o outro, e nela está o centro da melhora de resultado no 2º Semestre de 2018. No 1º Tri, a arrecadação foi R$ 3 milhões superior à do mesmo período de 2017. No 2º Tri, a margem aumentou para R$ 8 milhões. No 3º Tri deu um salto expressivo, ficando R$ 22 milhões melhor do que o acumulado anual até o mesmo período do ano anterior. No 4º Tri, a diferença marginal se manteve muito próxima a este patamar de diferença, fechando o ano R$ 23 milhões melhor. Logo, foram sobretudo os diretos de transmissão da televisão que fizeram o 2º semestre de 2018 ter sido melhor que o mesmo semestre de 2017.

Àquela altura, os direitos de transmissão da televisão representavam 45% das receitas obtidas pelo clube em 2018. Um percentual ainda elevado frente à meta da Gestão 2013-2018, que queria inicialmente que este percentual ficasse na casa dos 33%. Mas foi um descumprimento de meta positivo, afinal aconteceu porque entraram R$ 100 milhões de reais a mais nos cofres do clube.

Ainda que 45% seja uma dependência alta, representando quase a metade da arrecadação rubro-negra, foi uma belíssima evolução frente à Gestão 2010-2012, por exemplo, quando as receitas da TV representavam quase 2/3 da arrecadação do Flamengo (64%); realidade que era a mesma antes disso, pois esta diferença de realidade também aparece quando é feita a comparação frente às gestões anteriores a 2010.

O incremento das receitas de televisão faz sim parte da Revolução Financeira pela qual passou o Flamengo, mas ele está longe de poder ser colocado como a justificativa para a transformação das contas do clube. A diretoria criou muito dinheiro novo, muito além da televisão, soube capitalizar sua torcida, e com muito profissionalismo alçou o valor arrecadado com as cotas de patrocínio. Com uma combinação de estratégias de alavancagem das receitas em diferentes frentes, conseguiu mudar por completo a realidade do clube.






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