segunda-feira, 15 de abril de 2019

Revolução Flamengo: Receitas com Patrocínio


Uma das variações de receita que melhor representam a mudança radical na capacidade de gestão profissional do futebol rubro-negro é a arrecadação com patrocínios. É visível que há um novo patamar bem definido da capacidade de arrecadação do clube quando se analisa o Resultado Financeiro de 2018.

As receitas com patrocínio tiveram uma levíssima piora em 2018 na comparação frente a 2017, porém o resultado ainda era muito bom, tendo fechado o ano em R$ 89,9 milhões, um pouquinho abaixo dos R$ 90,4 milhões do fechamento do ano anterior. O fato mais importante: estes dois resultados representavam as duas maiores arrecadações com patrocínio na história do Flamengo! O clube se assentava numa capacidade de arrecadação com seu uniforme na casa de R$ 90 milhões ao ano.

Em 2012 o clube havia arrecadado R$ 34,4 milhões com patrocínio. Nos anos seguintes foi melhorando até alcançar R$ 85,5 milhões em 2015. Teve uma queda em 2016 frente à grave situação econômica que o país viveu, mas retomou o crescimento a partir de 2017, saltando para o patamar na casa de R$ 90 milhões ao ano. Esta arrecadação simplesmente triplicou frente à de 2012, e teve um aumento de volume enorme frente a todas as gestões anteriores a 2013.

Mesmo quando aplicada a correção monetária - levando os valores ao mesmo ponto no tempo - a melhora ainda representava um resultado excepcional. A inflação ficou acumulada em 41,6% entre o início de 2013 e o fim de 2018 pelo índice oficial do governo brasileiro - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Aplicando-se esta taxa de variação de preço sobre a arrecadação com patrocínio de 2012, chegava-se a um valor de R$ 48,7 milhões (receita com patrocínio de 2012 a preços de 2018). Assim, a arrecadação de R$ 89,9 milhões representava um incremento real de 84,4%. Era quase o dobro. Muita diferença: R$ 41 milhões de geração real de valor a mais por ano gerados única e exclusivamente pela profissionalização da estrutura de marketing (um salto de R$ 55 milhões de aumento bruto).

Mesmo com a força da marca Flamengo - derivada do tamanho de sua torcida e da dispersão diferenciada dela pelo território nacional - até então não era padrão que o clube conseguisse um fácil aproveitamento disto para a captação de recursos. Pesava a falta de profissionalismo dentro do clube e, principalmente, a falta de credibilidade de muitos dos que passaram pela diretoria do clube em gestões anteriores.

Historicamente, no Flamengo, o fornecimento de material esportivo passou a estar vinculado a uma marca exclusiva a partir de 1970, tendo o primeiro contrato rubro-negro sido firmado com a Athleta, empresa brasileira, que forneceu o uniforme rubro-negro de 1970 a 1979. De 1980 a 1992, no ápice da história do futebol do Flamengo, quem era o fornecedor do clube era a Adidas (uma empresa alemã), que a partir de 2013 voltou a ser a fornecedora do clube. Entre 1993 e 1999 o fornecedor foi a Umbro (empresa inglesa), depois, de 2000 a 2008 foi a Nike (empresa norte-americana) e de 2009 a 2012 foi a Olympikus (empresa brasileira).

O contrato com a Adidas - válido a partir do início de 2013 e com um compromisso de 10 anos como fornecedora do material esportivo usado pelos atletas rubro-negros - foi o melhor contrato assinado por um clube brasileiro para o fornecimento de material esportivo até então, com a fornecedora prometendo alçar a camisa do Flamengo a estar entre as mais vendidas do mundo (não chegou nem perto de cumprir tal objetivo). Este contrato representa um dos componentes que levaram ao grande incremento no resultado com patrocínio, e foi herdado da negociação iniciada ainda em 2012. No entanto, o grande diferencial que proporcionou o salto da arrecadação do clube com patrocínio não foi a arrecadação com o fornecimento de material esportivo, mas sim a vasta capacidade de levantar recursos com a exposição da marca de parceiros na camisa de futebol.

O "patrocínio master" da camisa - maior exposição, na frente do manto rubro-negro - foi de 1984 até 2008 firmado com a Petrobras, que na maior parte do tempo expôs uma de suas marcas, o óleo automotivo Lubrax. O contrato com a estatal petrolífera brasileira ainda é o mais longo contrato de patrocínio da história do futebol brasileiro.

Depois que acabou o vínculo com a Petrobras, entre 2009 e 2012 nenhuma das marcas que ocuparam a parte mais nobre da camisa do Flamengo ficou mais de um ano estampada: em 2009 houve uma cessão promocional à Olympicos Tube (marca pertence à fornecedora de material esportivo daquele ano), mas a iniciativa não se converteu num contrato vantajoso, e no fim daquele ano se assinou um contrato curto com os postos de gasolina Ale. Este contrato durou pouco, assim como aqueles que o sucederam. Nos anos seguintes, só durante alguns meses houve alguém com contrato assinado usando o "espaço master" da camisa rubro-negra para fazer publicidade. Nenhum contrato foi estendido por mais do que alguns meses: em 2010 com a marca de iogurtes Batavo, e em 2011 com a Procter & Gamble (que expôs duas de suas marcas na camisa rubro-negra, a de aparelhos de barbear Gillette na frente, e a das pilhas Duracell nas costas).

Em 2012, durante o ano inteiro, nenhuma empresa expôs sua marca na camisa rubro-negra. Amadoristicamente, era muito comum neste período que os dirigentes rubro-negros expusessem negociações na imprensa como forma de tentar pressionar os interessados a subir os valores na negociação, e estas acabavam não se concretizando, já que a apelação assustava os interessados. Em 2012, por exemplo, era uma constante que o então Presidente do Conselho Fiscal, Capitão Léo, ex-líder da Torcida Jovem Fla, usasse a mídia para tentar intimidar interessados exigindo valores equiparados aos recebidos pelo Corinthians.

A dinâmica era muito parecida em relação a outros espaços que não o de "patrocínio master". Entre 2009 e 2012 poucas marcas expuseram, e todos com contratos curtos: Banco BMG, Brazilian Foods, Brasil Brokers e Triunfo Logística; sendo ainda que estas duas últimas marcas eram vinculadas a executivos que também eram ativos na política interna rubro-negra e ambos inclusive tendo chegado a concorrer à Presidência do Flamengo. A partir de 2013 houve uma mudança significativa: os vínculos contratuais passaram a ser mais longos e houve mais patrocinadores fora da exposição "master", com diversas marcas de diferentes segmentos estampando suas logomarcas, tendo sido o caso de Peugeot, Jeep, Vitton 44 (marca Guaravita), MRV Engenharia, Carabao (empresa tailandesa de bebidas energéticas), Yes!, Kodilar, Universidade Brasil, Descomplica e Multimarcas. Ainda houve um contrato mais longo com a TIM, o qual estava relacionado a uma estratégia da empresa de telecomunicações que também envolveu os outros principais rivais do futebol carioca. Mais diversificação na arrecadação, e mais durabilidade nos tempos de vínculo e parceria, estes dois fatores foram os geradores de uma nova realidade em termos de arrecadação com parceiros.

Com mais R$ 100 milhões ao ano vindos do contrato de TV e mais R$ 55 milhões ao ano em captação de patrocinadores, o Flamengo já se mostrava financeiramente mais robusto. Ainda assim, o salto diferencial perante todos seus concorrentes no futebol brasileiro veio através da alavancagem de recursos com sua própria torcida. Este sim foi o grande diferencial da revolução vivida pelas finanças do Flamengo.






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