Se era o ápice da Crise da Gestão Azul, então os 45 dias de parada durante a Copa do Mundo seriam para pôr a casa em ordem, contratar as peças que dariam a qualidade que faltava ao plantel, treinar, entrosar o time, sair do buraco. Mas o que foi feito neste intervalo foi muito pouco, quase nada, jogando holofotes sobre a dificuldade com a gestão do futebol da "revolucionária gestão" do Flamengo.
O time teve 15 dias de férias e fez 30 dia de inter-temporada. Houve apenas dois reforços contratados e ainda assim, negociações que só foram fechadas depois que a inter-temporada já estava terminada, no recomeço do Campeonato Brasileiro. Chegaram o volante argentino Héctor Canteros, vindo do Vélez Sarsfield, e o atacante brasileiro naturalizado Eduardo da Silva, que defendeu a Seleção da Croácia na Copa do Mundo.
Os titulares de Ney Franco: Felipe, Leonardo Moura, Chicão, Wallace, Samir e André Santos; Recife, Elano e Éverton; Paulinho e Alecsandro.
Se o novo treinador, em cinco jogos, ainda não havia conseguido vencer, era de se esperar que após 45 dias para remontar o time, retomasse o trabalho a todo vapor. A volta após a parada para a Copa 2014 foi contra o Atlético Paranaense, que não fazia grande campanha, jogando em casa. O time perdeu por 2 x 1 e viu sua situação se complicar. Mantinha-se na Zona de Rebaixamento.
O duelo seguinte era frente um adversário que estava na parte de cima da tabela, o Internacional, e jogando em Porto Alegre. A derrota era mais do que previsível. A forma como ocorreu foi ainda pior, o Flamengo foi goleado por 4 x 0, tomou um passeio dos colorados. Ao fim da rodada, o time rubro-negro amargava a 20ª e última colocação. A lanterna era rubro-negra. Consequência justa para quem teve um longo período para trabalhar, mas fez muito pouco, quase nada, para reagir.
Ao fim do jogo, André Santos foi agredido por torcedores na saída do estádio. Felipe e Elano, muito vaiados. O Flamengo perdido. Rapidamente, viu-se que o que se pensava ser o ápice da crise antes da Copa, ainda não era. Ainda havia mais buraco para descer.E na última colocação, para descer ainda mais, só caindo para a Segunda Divisão. A demissão de Ney Franco se via iminente.
O filme de 2013 se repetia. A gestão de treinadores continuava sendo o mais desastroso na Gestão Azul. Se o ano anterior começou com Dorival Júnior, que acabou substituído antes da parada da Copa das Confederações por Jorginho, que teve uma inter-temporada para treinar o time, mas não conseguiu melhorar, e acabou demitido após uma passagem curtíssima de apenas 14 jogos. Foi substituído por um treinador de renome, Mano Menezes, que acabou abandonando o barco, e deu lugar a Jayme de Almeida. Desta vez o ano começou com Jayme, que acabou demitido num episódio marcado por trapalhadas memoráveis, foi substituído por Ney Franco, que teria tempo durante uma inter-temporada, pela Copa do Mundo, para treinar o time, mas não conseguiu melhorar, e acabou demitido após uma passagem curtíssima de apenas 7 jogos. Hora de buscar alguém de experiência e renome: Vanderlei Luxemburgo estava de volta à Gávea. Era o sexto treinador em apenas 1 ano e meio de gestão.
Ney Franco despediu-se sem uma única vitória. Foi a pior passagem de um treinador pela Gávea na história. Antes dele, apenas um treinador (não-interino) havia deixado o Flamengo sem conseguir nenhuma vitória. Em 1998, o técnico Toninho Barroso, recém promovido de treinador dos juniores a treinador do profissional, ficou apenas 18 dias no cargo. Ele assumiu em 26 de agosto de 1998 e seu último jogo foi 13 de setembro. Em 6 jogos, foram três empates e três derrotas. Ney Franco, em 7 jogos, teve 3 empates e 4 derrotas. Ainda pior do que Toninho Barroso.
Restava à gestão rubro-negra os argumentos de eficiência na gestão administrativa e financeira do clube: segundo a Gestão Azul, em janeiro de 2013 havia mais de 500 processos trabalhistas contra o Flamengo; em dezembro de 2013 esse número caiu para 132, tendo sido realizados 60 acordos e se pagado um total de R$ 25 milhões; no primeiro semestre de 2014, o número caiu de 132 para 88 processos, sendo pago de janeiro a junho, entre acordos e processos que se encerraram, um total de R$ 14 milhões em débitos trabalhistas. Em um ano e meio de gestão, foram pagos R$ 39 milhões (aproximadamente US$ 17 milhões) em dívidas trabalhistas, que se reduziram de 500 para 88 processos em andamento.
Mas não haveria eficiência administrativo-financeira que seria capaz de salvar a gestão se o futebol continuasse daquela forma.
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