Seis anos revolucionários no campo da gestão financeira e administrativa, e apenas um título de expressão, a Copa do Brasil de 2013. Ano de eleição presidencial na Gávea, momento de escolher o sucessor de Eduardo Bandeira de Mello, que após dois mandatos não tinha mais direito a tentar uma reeleição. Não havia como a pressão por resultado estar maior.
Fora de campo, as vitórias seguiam se acumulando, e agosto de 2018 teve dois marcos importantes a serem acrescentados na galeria de sucessos da Gestão Bandeira de Mello: (1) a revista Exame, especializada em negócios e economia, publicou sua lista de 1.000 empresas com maior faturamento no Brasil, e pela primeira vez apareceram dois clubes de futebol: o Flamengo na 844ª posição, e o Palmeiras em 988º (detalhe importante: enquanto o Flamengo havia alavancado suas receitas com recursos próprios, financiando-se através do tamanho de sua torcida, o Palmeiras sustentava-se num "modelo mecenas", alavancado por recursos financeiros da Crefisa, empresa especializada em concessão de crédito a pessoas físicas, estratégia similar à que o próprio Palmeiras teve com a Parmalat nos Anos 1990 e o Fluminense teve com a Unimed nos Anos 2000); adicionalmente (2) em cerimônia realizada no Palácio da Cidade - com a presença do governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e do prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella - foi entregue ao Flamengo o despacho do Governador alterando os limites de uso do terreno cedido ao Clube de Regatas do Flamengo no ano de 1934, limites nos quais o clube era, até então, impedido de implementar projetos que tivessem a possibilidade de oferecer a exploração comercial de sua sede social; o novo ato governamental passou a permitir que a Gávea assumisse um novo patamar em oferta de opções de lazer e entretenimento, viabilizando novos projetos de alavancagem financeira. Foram mais dois marcos importantes na transformação revolucionária vivida pelo clube na gestão que o administrou de 2013 a 2018.
Porém, o principal e mais decisivo que agosto de 2018 ofereceria ao clube aconteceria dentro dos campos de futebol. Na volta após a paralisação durante a Copa do Mundo da Rússia, o Flamengo defenderia sua liderança do Campeonato Brasileiro, e também teria duelos decisivos contra o Grêmio, pelas quartas de final da Copa do Brasil, e o mais importante, contra o Cruzeiro, pelas oitavas de final da Copa Libertadores da América.
Em doze meses, o elenco rubro-negro havia perdido várias peças sem haver reposto. Haviam saído Rafael Vaz, Márcio Araújo, Jonas, Mancuello, Ederson, Gabriel, Everton, Vinícius Júnior, Felipe Vizeu e Leandro Damião. O elenco ainda havia perdido Orlando Berrio com grave lesão no joelho, e Paolo Guerrero, suspenso por doping enquanto serviu à Seleção do Peru durante as Eliminatórias, e que ao fim do contrato, naquele mês de agosto, acabou não renovando e transferindo-se para o Internacional. Para repor, haviam entrado apenas Marlos Moreno e Henrique Dourado. O Flamengo precisava se reforçar. Durante a Copa do Mundo, contratou o centroavante colombiano Fernando Uribe, vice-artilheiro do Campeonato Mexicano pelo Toluca.
Como segundo reforço o clube fez uma aposta ousada e decidiu tentar contratar um jogador europeu. O mês de agosto de 2018 foi tempo em que era preciso monitorar notícias em turco para se atualizar. O nome escolhido pela diretoria foi o do atacante holandês Ryan Babel, jogador do Besiktas, da Turquia. Um jogador de 31 anos, reserva da Seleção da Holanda nas Copas do Mundo de 2006 e 2010 e titular do Sub-23 que disputou as Olimpíadas de 2008. A proposta inicial foi de 4 milhões de euros, e os turcos pediram 8 milhões. O Flamengo aumentou então sua oferta para 6 milhões de euros, mas os turcos também aumentaram a pedida, exigindo então 10 milhões. A proposta rubro-negra subiu um pouco mais, passando a ser de 7 milhões de euros. A agressividade da diretoria rubro-negra levou a matérias na mídia da Itália e da Espanha em tom de surpresa frente ao poder financeiro do Flamengo. Na mídia da Turquia, as notícias falavam em pressão do jogador holandês sobre o clube turco em favor de que fosse aceita a oferta, já que ele teria três anos de contrato garantido no Brasil, enquanto seu contrato no Besiktas se encerraria em um ano a mais. Do técnico do Besiktas, o turco Senol Gunes, saíram comentários ironizando o interesse de um clube brasileiro ("Se eles comprarem o Babel, eu comprarei ou o Lionel Messi ou o Luis Suárez"). Frente à oferta rubro-negra de 7 milhões de euros, os turcos reduziram sua pedida para 8,5 milhões. Após uma negociação arrastada por semanas, o Flamengo então subiu sua oferta aos 8,5 pedidos, e o Besiktas aceitou fechar o negócio. Foi a vez então de aparecer quem estava blefando no processo: Ryan Babel comunicou que não aceitava jogar no Brasil, porque ainda tinha aspirações de voltar à Seleção Holandesa. Negócio desfeito, mas com o jogador conseguindo uma extensão de contrato por mais dois anos além do um ano que já tinha. O Flamengo definiu então um novo foco: Vitinho, então com 24 anos, jogador do CSKA Moscou, da Rússia. Os russos queriam 10 milhões de euros pelo atleta. Na mídia turca saía que o Galatasaray queria contratar o jogador e estava disposto a impedir o negócio. Desta vez porém não houve blefes, a negociação foi rápida, e por 10 milhões de euros o Flamengo fez a contratação mais cara de sua história até então, superando o valor pago por Everton Ribeiro no ano anterior: Vitinho foi adquirido por R$ 46 milhões. Como última cartada para fechar o elenco, o Flamengo foi à Argentina e fechou negócio com o San Lorenzo pelo volante paraguaio Piris da Motta. Estas eram as apostas para um fim de ano com glórias.
O elenco de Maurício Barbieri tinha como os onze titulares a: Diego Alves; Rodinei, Réver, Léo Duarte e Renê; Cuéllar, Lucas Paquetá, Diego e Everton Ribeiro; Vitinho e Henrique Dourado. Com um time de reservas composto por César; Pará, Rhodolfo, Juan (Thuler) e Trauco; Piris da Motta (Rômulo), Willian Arão (Jean Lucas), Matheus Sávio e Geuvânio; Marlos Moreno e Uribe (Lincoln).
O elenco de Maurício Barbieri tinha como os onze titulares a: Diego Alves; Rodinei, Réver, Léo Duarte e Renê; Cuéllar, Lucas Paquetá, Diego e Everton Ribeiro; Vitinho e Henrique Dourado. Com um time de reservas composto por César; Pará, Rhodolfo, Juan (Thuler) e Trauco; Piris da Motta (Rômulo), Willian Arão (Jean Lucas), Matheus Sávio e Geuvânio; Marlos Moreno e Uribe (Lincoln).
Na retomada do Campeonato Brasileiro, logo uma decisão no Maracanã: Flamengo (1º) x São Paulo (3º). Estádio lotado. Jogo que para quem planeja ser campeão é recomendável vencer! No 1º tempo ninguém balançou as redes. Lucas Paquetá mandou uma cabeçada na trave, porém, quem esteve taticamente melhor organizado em campo foi o time são-paulino. No início do 2º tempo, num lance no qual o ataque tricolor pegou a defesa rubro-negra bagunçada, um cruzamento para a área encontrou o ex-jogador do Flamengo Everton sozinho para escorar de cabeça fora do alcance de Diego Alves, no fundo da rede. Daquele momento em diante o time rubro-negro teve mais posse de bola, mas não conseguiu empatar. O Flamengo, derrotado, perdeu a chance de saltar 7 pontos em vantagem na liderança. Com 27 pontos, viu o São Paulo saltar a 26 pontos e assumir a vice-liderança. Atlético Mineiro e Grêmio terminaram a rodada com 23 pontos. Na continuidade, pela 14ª rodada o Flamengo decidiu o jogo logo no início e venceu ao Botafogo por 2 x 0, e pela 15ª rodada teve uma difícil missão diante do Santos na Vila Belmiro. Um gol rubro-negro logo no primeiro lance do jogo, antes do relógio completar dois minutos, deveria ter facilitado as coisas, mas uma falha coletiva de marcação, com o santista Rodrygo driblando a vontade, gerou o empate ainda no 1º tempo. E assim ficou o placar. Como o São Paulo perdeu para o Grêmio em Porto Alegre, o Flamengo ainda era o líder, com 31 pontos, sua segunda melhor campanha para 15 primeiras rodadas na história desde que o Brasileiro passou a ser por pontos corridos, atrás apenas da campanha feita em 2011, quando tinha 33 pontos.
Na 16ª rodada, o Flamengo enfrentou ao Sport Recife no Maracanã e era fundamental não perder pontos diante de um adversário que frequentava a parte de baixo da tabela. O time flamenguista se impôs, provou sua superioridade e saiu de campo com uma goleada por 4 x 1, mantendo a liderança. Pela frente tinha uma duríssima sequência, com dois jogos seguidos na Arena do Grêmio em Porto Alegre, e depois dois jogos seguidos contra o Cruzeiro no Maracanã. Pela jogo de ida da Copa do Brasil o time empatou contra o Grêmio, tendo marcado o gol de empate aos 49 minutos do 2º tempo, através do novato centroavante Lincoln, de 17 anos. Pelo Brasileiro, no mesmo local, três dias depois, o técnico Maurício Barbieri optou por poupar o meia Diego e a dupla de zaga (Juan e Thuler foram os zagueiros). Contra um time gremista todo de reservas, o Flamengo não soube aproveitar, jogou muito mal, e perdeu por 2 x 0, com a vulnerabilidade da zaga formada pela lentidão de um veterano e a inexperiência de um garoto sido determinante nesta derrota. O líder do campeonato passou então a ser o São Paulo com 35 pontos, contra 34 do Flamengo. O Internacional saltava a 32 e o Grêmio tinha 30 pontos. Quatro dias depois houve o tropeço no jogo mais importante da sequência, com uma derrota por 2 x 0 para o Cruzeiro no Maracanã pelo jogo de ida da Libertadores. Três dias depois e novamente diante do mesmo adversário e no mesmo local, desta vez valendo pelo Brasileiro, sob a pressão frente à perda da liderança, o Flamengo jogou um futebol eficiente e venceu, apertado, por um magro 1 x 0. Uma vitória providencial, pois todos os times da parte de cima da tabela venceram na rodada. O time estava claramente cansado pela sequência desumana de jogos decisivos.
A sequência de partidas decisivas parecia não ter fim. Depois de vencer ao Grêmio por 1 x 0 no Maracanã pelo jogo de volta e eliminar o adversário, avançando à semi-final da Copa do Brasil, foi a vez de enfrentar o Atlético Paranaense na Arena da Baixada, em Curitiba, pela última rodada do turno. O goleiro Diego Alves sentiu o joelho e foi poupado, dando o lugar ao reserva César, que só havia entrado até então na derrota para a Chapecoense. Barbieri voltou a poupar Diego e a zaga, desta vez optando pela jovem zaga formada por Thuler e Léo Duarte, dupla que havia atuado bem no empate contra o Palmeiras em São Paulo. A atuação em Curitiba foi catastrófica, num domingo de manhã. Com 20 minutos do 1º tempo, o Atlético já vencia por 3 x 0. Menos mal que o desastre não foi maior, tendo assim ficado o placar até o fim. Ao fim da 19ª rodada, o líder São Paulo saltava a 41 pontos, o vice-líder passou a ser o Internacional com 38, seguido pelo Flamengo com 37 e pelo Grêmio com 36. Sem tempo para respirar e se regenerar, pela 20ª rodada, pressionado pelas perdas de posição, o time enfrentou ao Vitória no Maracanã. Outro duelo em casa contra uma equipe que estava na parte de baixo da tabela, sendo fundamental não perder pontos. Estádio lotado mais uma vez. O time flamenguista se impôs, provou sua superioridade, dominou o jogo, quase não sofreu perigo, e venceu com um magro 1 x 0. Várias peças davam sinal da necessidade de descanso, era necessário ser mais assertivo em se poupar alguns nomes, mas o inexperiente treinador vinha se enrolando na condução deste processo de regenerar fisicamente ao elenco. O líder São Paulo tropeçou e ficou com 42 pontos, seguido pelo Inter com 41 e pelo Fla com 40. A partir da 21ª rodada veio uma sequência que em teoria era mais fraca. Até aquele momento, o Flamengo fazia sua maior campanha nas 20 primeiras rodadas na história do Campeonato Brasileiro por pontos corridos, era a primeira vez que o clube atingia 40 pontos nas 20 primeiras rodadas; antes, havia atingido mais de 30 pontos nas 20 primeiras rodadas em apenas três oportunidades, tendo feito 32 pontos em 2008, 36 pontos em 2011 e 34 pontos em 2016.
Pelo jogo de volta, o time venceu ao Cruzeiro por 1 x 0 em Belo Horizonte, mas pelo saldo de gols acabou mais uma vez eliminado prematuramente da Libertadores. Na outra frente, avançou para fazer a semi-final da Copa do Brasil em setembro diante do Corinthians. O mês de agosto de 2018 teve um peso crucial na luta de Eduardo Bandeira de Mello - que tentaria se eleger deputado federal - para eleger seu sucessor. Um título era fundamental às aspirações políticas de seu grupo dentro da Gávea. Os candidatos no pleito estavam definidos: Ricardo Lomba, vice-presidente de futebol, era o candidato da situação, e Rodolfo Landim, vice-presidente de planejamento na Gestão 2013-2015, era o candidato de oposição - e com apoio do vice-presidente de Marketing da Gestão 2013-2015, Luiz Eduardo Baptista (BAP), do vice-presidente de Comunicação da Gestão 2013-2015, Gustavo Oliveira, e dos vice-presidentes de Finanças, Rodrigo Tostes, da Gestão 2013-2015, e Cláudio Pracownik, da Gestão 2016-2018 -.
O resultado da eleição estava fortemente vinculado ao desempenho do time dentro das quatro linhas do campo de futebol. Bem posicionado - apenas dois pontos atrás do líder, perante uma sequência em teoria mais fraca do que a enfrentada nas semanas anteriores - o Flamengo se mostrava bastante vivo na luta pelo título nacional. Porém, na 21ª rodada do Campeonato Brasileiro, o time desperdiçou dois pontos num empate frente ao América Mineiro em Belo Horizonte, distanciando-se da ponta da tabela. O time saiu na frente, mas logo tomou um gol de empate. No início do 2º tempo, voltou a estar a frente, mas teve Cuéllar expulso ao parar um contra-ataque como último homem, e não muito depois, aos 41 minutos do 2º tempo, tomou o gol de empate, perdendo a oportunidade de retomar a segunda colocação, numa rodada na qual dos seis primeiros, só o São Paulo venceu. O desempenho na rodada seguinte foi ainda pior, com o time voltando a desperdiçar a chance de voltar à vice-liderança. Já nos primeiros dias de setembro, num jogo num domingo de manhã contra o Ceará num Maracanã lotado, sob um calor escaldante de um horário de almoço de um calendário absolutamente estúpido e irracional, o time rubro-negro teve domínio total do jogo mas não conseguia traduzir em chances reais de gol. A bola sempre pune! E assim aconteceu. Aos 46 minutos do 2º tempo, num chute de longe, uma falha de Diego Alves e a vitória foi do vice-lanterna Ceará. São Paulo e Internacional empataram na rodada, uma chance de ouro desperdiçada! Ainda mais porque pela 23ª rodada havia um novo jogo decisivo: duelo contra o vice-líder Internacional em Porto Alegre. Os gaúchos balançaram as redes logo aos 5 minutos de jogo. O time rubro-negro lutou muito, insistiu, e conseguiu o gol de empate no início da etapa final, com um chutaço de Vitinho de fora da área que bateu no travessão e quicou depois da linha. Dada a saída, no entanto, houve um escanteio para o Inter: cruzamento na área e uma cabeçada violenta na pequena área colocou o time colorado a frente novamente. O Flamengo seguia tendo dificuldade em vencer jogos decisivos, era uma rotina que vinha se repetindo desde 2016. Com a derrota por 2 x 1, o time flamenguista caiu para a 4ª posição. Ao fim da rodada, o Internacional era o novo líder, com 46 pontos, mesma pontuação do São Paulo, com o Palmeiras em terceiro com 43 pontos, e Flamengo e Grêmio empatados com 41. O título brasileiro se mostrava cada vez mais difícil. No entanto, era válido notar que se tivesse vencido a América Mineiro e Ceará, o Flamengo teria o mesmo número de pontos dos dois clubes que dividiam a liderança do campeonato. Há pontos que não se pode dar ao luxo de desperdiçar numa corrida pela liderança tão acirrada assim.
O mês de agosto de 2018 foi estratégico e crucial para os capítulos seguintes que estavam por ser escritos na história do clube. O desempenho não foi catastrófico, mas ficou aquém do desejado. Para quem precisava tanto de um título de expressão para consolidar a rota de crescimento administrativo-financeiro, era necessário mais... A luta ainda não havia acabado, mas naquele momento o sentimento geral dos rubro-negros não era de otimismo. Havia a sensação de que as forças estavam se esgotando, de que o combustível não seria suficiente para se chegar até o fim lutando por títulos.
O mês de agosto de 2018 foi estratégico e crucial para os capítulos seguintes que estavam por ser escritos na história do clube. O desempenho não foi catastrófico, mas ficou aquém do desejado. Para quem precisava tanto de um título de expressão para consolidar a rota de crescimento administrativo-financeiro, era necessário mais... A luta ainda não havia acabado, mas naquele momento o sentimento geral dos rubro-negros não era de otimismo. Havia a sensação de que as forças estavam se esgotando, de que o combustível não seria suficiente para se chegar até o fim lutando por títulos.
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