terça-feira, 25 de setembro de 2018

Relatório ITAÚ: Situação Econômica do Futebol Brasileiro & Flamengo muito bem posicionado


Análise Itaú BBA mostra faturamento recorde de brasileiros, mas prevê problemas
Fonte: GloboEsporte.com, em 18/09/2018

Segundo estudo do ITAU, grandes clubes do futebol brasileiro perderam oportunidade de se organizarem. Investimento em estrutura e na base diminuiu em 2017. Os grandes clubes do futebol brasileiro ganham cada vez mais dinheiro, mas gastam cada vez mais, cada vez pior. E não cansam de desperdiçar oportunidades de crescer de maneira sustentável. Este é o diagnóstico que se extrai da "Análise Econômico-Financeira dos Clubes de Futebol Brasileiros - 2018", o já tradicional estudo anual elaborado pelo banco Itaú BBA.

O documento de 252 páginas disseca as contas dos 27 principais clubes do Brasil e chega à seguinte conclusão: "Ao longo deste relatório vimos que o futebol brasileiro se mexe para não sair do lugar. No total parece melhorar, mas olhando com lupa vemos que alguns poucos se movimentaram na direção certa. Falta gestão, visão corporativa, controle e planejamento", diz o relatório do banco.

O estudo do Itaú analisou as finanças de América-MG, Atlético-MG, Atlético-PR, Avaí, Bahia, Botafogo, Ceará, Chapecoense, Corinthians, Coritiba, Criciúma, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo, Fluminense, Goiás, Grêmio, Internacional, Paraná Clube, Palmeiras, Ponte Preta, Santos, São Paulo, Sport, Vasco da Gama e Vitória.

Rankings que levam em conta apenas o faturamento ou o endividamento dos clubes têm o defeito de não contextualizar esses números. Citando um exemplo do próprio estudo: "É melhor dever R$ 500 recebendo R$ 1.000? Ou dever R$ 1 milhão recebendo de R$ 10 milhões?". No "Redação SporTV", Cesar Grafietti explicou detalhes do estudo sobre dívidas e receitas dos clubes brasileiros. Num ranking simples, quem deve R$ 1 milhão ficaria à frente de quem deve R$ 500. Por isso, o economista Cesar Grafietti, autor da análise e consultor exclusivo do Itaú, prefere usar o conceito de "Geração de Caixa" para se referir à saúde financeira dos clubes brasileiros: "Para simplificar, o conceito pode ser entendido assim: pega todo o dinheiro que um clube recebeu, paga todas as contas e vê quanto sobra no final".

Em 2017, estes 27 clubes faturaram, somados, R$ 4,930 bilhões – um aumento de 16% em relação ao ano anterior. Sem contar as vendas de jogadores, uma variável inconstante e imprevisível, a arrecadação foi de R$ 4,113 bilhões. Em ambos os casos, resultados muito acima da inflação no período (2,95%) e do crescimento do PIB do Brasil (1%). Todas as receitas aumentaram no ano passado: direitos de TV, patrocínio, negociação de jogadores, estádio. Ou seja: dinheiro entrou, o problema foi como ele saiu. Num ano de arrecadação recorde, os clubes até que seguraram os gastos e priorizaram o pagamento de dívidas.



Os investimentos sofreram uma pequena queda: de R$ 872 milhões em 2016 para R$ 868 milhões no ano passado. O problema: os clubes gastaram menos com estrutura e categorias de base, e mais na contratação de atletas já formados.

Em 2017, os 27 principais clubes do Brasil investiram R$ 168,6 milhões nas categorias de base, uma redução drástica em relação a 2016, quando a base recebeu R$ 221,6 milhões. Um corte de R$ 53 milhões. Enquanto isso, o gasto com a contratação de jogadores já formados aumentou de R$ 558 milhões para R$ 590 milhões. Ou seja: de cada R$ 100 que os clubes gastaram com futebol no ano passado, R$ 68 foram para contrações, R$ 13 para base e R$ 19 para estrutura. Ao mesmo tempo, os grandes clubes do Brasil continuam vendendo bem – tanto internamente quanto para o exterior. Em 2017, a arrecadação com venda de jogadores foi de R$ 810 milhões, um aumento de 55% em relação aos R$ 522 milhões de 2016. De novo, o problema é o que foi feito com esse dinheiro. "O que costuma ocorrer, na prática, é que os clubes vendem mais do que contratam e usam o recurso para bancar a operação e reduzir dívidas. Tanto é que a cada ano o saldo direto entre venda e compra de atletas profissionais só aumenta, mas a qualidade do jogo não evolui dentro de campo", é a conclusão dos analistas do Itaú BBA sobre esse aspecto específico.



O endividamento total dos 27 maiores clubes se manteve estável no último ano. O aumento foi de apenas 2,2% – de R$ 6,466 bilhões para R$ 6,614 bilhões. Embora não tenha piorado em 2017, a situação está longe do ideal. É o que diz a avaliação do Itaú: "As dívidas não chegam a ser um problema incontornável, mas precisam ser tratadas com mais atenção. Os clubes perderam uma oportunidade de ouro de se organizarem, reduzirem passivos e pensarem no fluxo de caixa futuro [...] Os clubes não entenderam, ou não querem entender. Estabilidade, num ano em que houve mais uma vez geração de caixa relevante extraordinária, agora com venda de atletas, é ruim. Insistimos: a conta vai chegar para a maioria", alerta o texto do relatório. O relatório do Itaú BBA também alerta sobre a capacidade dos clubes de arcar com as parcelas do Profut, o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro. O título é uma indagação: "É possível pagá-lo". A resposta vem em seguida: "Dá. Para poucos." Os analistas indicam que "alguns poucos clubes serão capazes de pagar as parcelas do Profut se a situação se mantiver como a apresentada".


Em meio a um cenário desolador, o estudo do Itaú encontra algumas exceções, alguns exemplos a serem seguidos. No primeiro escalão: Flamengo, Grêmio, Palmeiras e São Paulo são apontados como exemplos positivos. "Apesar das receitas crescerem, mesmo as recorrentes, ainda assim a origem desse crescimento veio de forma concentrada. Não houve melhor desempenho da indústria do futebol mas sim de alguns "players" deste jogo. Seja na venda de atletas, na publicidade ou na bilheteria, apenas alguns poucos foram responsáveis pelo crescimento. [...] Palmeiras, Flamengo, São Paulo e Grêmio se destacam", diz trecho do estudo. Ainda assim, os melhores do Brasil estão bem longe dos melhores da Europa. O Flamengo, disparado o clube brasileiro que mais faturou em 2017, fica no nível de pequenos da Inglaterra, como o West Bromwich. Se o critério for apenas a arrecadação, nenhum time brasileiro está no Top 25 do mundo.


Conclusão: "No Brasil, a venda de Atletas é um componente importante, mas diferentemente dos Europeus, que trabalham com Receitas mais estáveis, os Brasileiros ficam à mercê da demanda dos co-irmãos do Velho Mundo [...] Por mais esforços aplicados para aumento das receitas do clubes brasileiros, um crescimento dessa magnitude leva tanto tempo para ocorrer que o torna improvável, ao menos a curto e médio prazos".


SITUAÇÃO DO FLAMENGO

Análise Itaú BBA: Flamengo tem situação financeira segura e dívida controlada

Relatório sobre as finanças dos clubes brasileiros em 2017 diz que clube precisa resistir à tentação de repetir gastanças exageradas do passado. Mas do ponto de vista das finanças, o Flamengo está pronto para encarar o futuro. Esta é a conclusão do relatório anual do Itaú BBA sobre as finanças dos 27 principais clubes brasileiros.

Os analistas do banco usaram uma metáfora do mundo do carnaval para explicar a situação do Flamengo: "10! Nota 10!"

A análise não deixa de lembrar que, se as conta são excelentes, o desempenho em campo nem tanto: "Alguns dirão que os títulos não vieram. O Flamengo está crescendo em desempenho". Em seguida, completa: "O desafio agora é ser capaz de vencer mais, manter a austeridade e não sucumbir ao desejo de montar 'ataque dos sonhos'".

Os gráficos mostram crescimento "elevadíssimo" das receitas em função da venda de atletas. Mas, mesmo na base recorrente, observa-se crescimento de 17%, com destaque para patrocínio e programa de sócio-torcedor. Com aumento de receitas, aumentaram também os investimentos: "Os investimentos cresceram substancialmente em 2017. Na base (formação de atletas) saiu de R$ 6 milhões para R$ 9 milhões, mas na montagem do elenco profissional o clube aportou R$ 83 milhões. Com o equilíbrio financeiro chegou o momento de abrir o caixa".

Também aumentou de forma significativa o custo do departamento de futebol, mas de forma consciente, opinam os analistas: "Crescimento significativo dos custos diretos do futebol (de R$ 223 milhões em 2016 para R$ 314 milhões em 2017), mas em linha com o crescimento das receitas recorrentes".

A dívida permaneceu no mesmo patamar do ano anterior. O fluxo e a geração de caixa também foram apontados como pontos positivos, com manutenção de "ótimo desempenho operacional": De modo geral, a análise chama atenção para o fato de "despesas e custos continuarem crescendo e ocupando o salto de receitas", ao passo que "investimentos gerais não mudaram muito, nem as dívidas. E lembra: "O Profut começará a vencer, as regras de distribuição de direitos de TV mudarão, e isso vai pressionar o fluxo de caixa dos clubes em 2019".





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