segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Liga de Clubes do Brasil: mais uma chance perdida


As discussões para formação da Liga Brasileira de Clubes de Futebol em 2022 se dividiu em dois grupos de negociação reunindo os 40 clubes que disputavam as Séries A e B do Campeonato Brasileiro em 2022. O principal entrave girava em torno da divisão de receitas de TV:


LIBRA (Liga Brasileira de Clubes): grupo formado originalmente por 15 clubes
Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Santos, São Paulo, Red Bull Bragantino e Vasco.
Distribuição por Unidade da Federação: 9 de São Paulo, 3 do Rio de Janeiro, 1 de Minas Gerais, 1 do Rio Grande do Sul e 1 da Bahia
Distribuição por Região Geopolítica: 13 da Região Sudeste, 1 da Região Sul e 1 da Região Nordeste


LFF (Liga Forte Futebol do Brasil): grupo formado originalmente por 25 clubes
América Mineiro, Athletico Paranaense, Atlético Mineiro, Atlético Goianiense, Avaí, Brusque, Ceará, Chapecoense, Coritiba, CRB, Criciúma, CSA, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Londrina, Náutico, Operário de Ponta Grossa, Sampaio Côrrea, Sport Recife, Tombense e Vila Nova.
Distribuição por Unidade da Federação: 4 do Paraná, 4 de Santa Catarina, 3 de Minas Gerais, 3 de Goiás, 2 do Rio Grande do Sul, 2 de Pernambuco, 2 do Ceará, 1 do Rio de Janeiro, 1 da Bahia, 1 de Alagoas, 1 do Maranhão, 1 do Mato Grosso e 0 de São Paulo
Distribuição por Região Geopolítica: 10 da Região Sul, 7 da Região Nordeste, 4 da Região Sudeste, 4 da Região Centro-Oeste e 0 da Região Norte


Referências Históricas:

CLUBE DOS 13 que fundaram a Copa União em 1987:
Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco.

PRIMEIRA LIGA DO BRASIL, em 2015 (13 clubes):
Athletico Paranaense, Atlético Mineiro, Avaí, Chapecoense, Coritiba, Criciúma, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional e Joinville (em 2016: saída de Athlético e Coritiba, e entrada de Ceará e Londrina)


Histórico das discussões da Liga dos Clubes a partir de 2022:

16/02/2022
10 clubes assinam a fundação da LFF: América Mineiro, Athletico Paranaense, Atlético Goianiense, Avaí, Ceará, Coritiba, Cuiabá, Fortaleza, Goiás e Juventude

05/03/2022
Apresentação de 3 propostas para captação de recursos para uma Liga Brasileira de Clubes: um projeto reunindo La Liga (Liga do Futebol Espanhol) junto com a XP Investimentos e a Alvarez & Marsal, um projeto da Codajas Sports Kapital (CSK) e do banco de investimento BTG Pactual, e um terceiro da empresa LiveMode, empresa responsável pela organização da Copa do Nordeste.

03/05/2022
8 clubes assinam a fundação da Libra junto à Codajas Sports Kapital, ligada ao BTG Pactual: Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Palmeiras, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Santos e São Paulo

26/05/2022
LFF apresenta modelo de divisão dos direitos de transmissão de TV seguindo o modelo da Premier League: 50% de forma igualitária, 25% por performance e 25% por critérios comerciais. Proposta marcava posição contrária a uma divisão toda baseada na audiência de TV. Até aquele momento a proposta da Libra é de que a discussão se restringisse à assinatura de um documento conjunto de formação de uma liga única, para posteriormente se discutir direitos de transmissão.

28/06/2022
Adesão de mais 15 clubes à LFF, entre os quais Atlético Mineiro, Fluminense e Internacional

18/07/2022
Primeira reunião entre Libra e LFF durou pouco mais de duas horas, num restaurante em São Paulo

06/09/2022
LFF anunciou o banco de investimentos XP como único interlocutor dos seus 25 membros

06/09/2022
Reunião mais produtiva, com duração de quatro horas e meia, com avanço na busca por consenso nas fórmulas de cáculo. Participaram executivos da Alvarez & Marsal e LiveMode auxiliando à LFF, e da Codajas Sports Kapital, auxiliando à Libra.
Como resultado, houve um afunilamento em 3 ou 4 cenários de cálculos para o rateio das receitas, num modelo com 45% da arrecadação distribuída de forma igualitária, 30% proporcionais à performance esportiva, e 25% atrelados a critérios ainda em negociação como audiência, engajamento e média de público no estádio. A falta de consenso girava em torno da definição de como seria ajustado a variável dos 25% para que a conta não permitisse que o primeiro da fila recebesse mais de 3,5 vezes o que o último receberia.




08/11/2022
A Liga do Futebol Brasileiro (Libra) aprovou intenção de venda de 20% de seu capital para o Mubadala Capital, fundo de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, por R$ 4,75 bilhões, negócio envolvendo os direitos comerciais e de exploração do grupo.

Fevereiro/2023: 2 propostas na mesa de negociação
LIBRA tem proposta do fundo de investimentos Mubadala Capital (dos Emirados Árabes) de US$ 900 milhões (cerca de R$ 4,7 bilhões) por 20% dos direitos comerciais da futura liga, condicionada a que 80% dos clubes da Série A façam parte do acordo
LFF assinou contrato com os fundos de investimentos Life Capital Partners (do Brasil) e Serengeti Asset Management (dos Estados Unidos) de US$ 950 milhões (cerca de R$ 4,97 bilhões) por 20% da liga

28/02/2023
LIBRA realizou Assembleia Geral na sede da Federação Paulista de Futebol na qual foram aprovadas por unanimidade:
- divisão das receitas com patrocínios e direitos de transmissão da Série A por um período de transição de 5 anos, ou até que se atinja R$ 4 bilhões em receitas (o que ocorrer primeiro): 45% distribuídos igualitariamente entre os 20 clubes, 30% repartido por performance, e 25% distribuídos pelo engajamento de audiência obtido pelos clubes (sem considerar tamanho de torcida ou número de seguidores em redes sociais, como foi proposto inicialmente). Antes disto a divisão seria: 40% de forma igualitária, 30% por performance e 30% pela audiência ponderada.
- reserva de 15% da receita total para ser cedido aos clubes da Série B do Campeonato Brasileiro (Liga Futebol Forte deseja que 20% seja dividido entre os 20 times da Série B (18%) e os 20 times da Série C (2%).
- criação de um comitê para apresentar o novo modelo de distribuição de receitas junto à LFF, formado por: Alberto Guerra (presidente do Grêmio), Duílio Monteiro Alves (presidente do Corinthians), Gabriel Lima (CEO do Cruzeiro), Guilherme Bellintani (presidente do Bahia), Rodolfo Landim (presidente do Flamengo) e Thairo Arruda (diretor da SAF do Botafogo).

14/04/2023 - Declaração de Leila Pereira, presidente do Palmeiras:
"Alguns clubes têm uma soberba absurda, só pensam neles mesmo. Se eles se acham tão bons, que vão jogar na Europa. O Real Madrid está lá esperando. Na LIBRA, determinados assuntos precisam ser decididos por unanimidade. Quando se tem isso, você não resolve absolutamente nada. Eu sou contra isso, e vários clubes também são, mas o Flamengo não é. E foi aí que eu fui contra, porque tem que ser tudo do jeito que o Flamengo quer?".

16/04/2023 - Declaração de Leila Pereira, presidente do Palmeiras:
"Eu luto para a cláusula de unanimidade cair. Você não consegue administrar nada com unanimidade. Quando nós fundamos a LIBRA, realmente tinha essa cláusula de unanimidade. Eu aprovei, eu assinei junto. Mas com essa unanimidade, eu acho inviável o início de uma liga independente. É melhor então que continue como está, com todos se submetendo à CBF".

30/04/2023 - Palavras de Alberto Guerra, presidente do Grêmio, no Programa Bola da Vez, da ESPN:
"Acho que tem guerras de narrativas (...) São narrativas para jogar para a torcida, e acho que não é só a Leila. E não acho isso legal, isso não contribui (...) O que eu tenho visto, e até para minha surpresa, é um alto nível nas negociações dentro da LIBRA (...) O ótimo é o inimigo do bom. Se não é o ótimo, ele tá muito bom (...) Temos que reconhecer que se o Flamengo negociar sozinho seus direitos televisivos, talvez conseguisse mais do que consegue na LIBRA (...) o Flamengo abriu mão de direitos, mas pediu para que fosse preservado outros por um tempo. E todos concordaram de forma unânime. Portanto, eu não entendi muito a colocação naquele tom da Leila".

26/05/2023 - Reunião entre LIBRA e MUBADALA em São Paulo ("DIA D da LIBRA")
Reunião entre a LIBRA e o Fundo Mubadala para destravar o impasse entre LIBRA e LFF. O fundo de investimentos dos Emirados Árabes mudou a estratégia, fazendo o movimento mais agressivo dado até então, mudando os termos de oferta, com as seguintes flexibilizações:
- valor global inalterado e mantido em R$ 4,75 bilhões para o caso de que pelo menos 34 clubes assinem contrato
- valor parcial reduzido a R$ 4 bilhões para o caso de que o número de clubes a assinarem fique entre 18 e 33, e desde que pelo menos 7 dos 10 clubes com maiores valores previstos aceitem o acordo (detalhe: na data a quantidade de membros da LIBRA era justamente 18)
- o valor parcial de R$ 4 bi fixo, pago independentemente da quantidade de clubes que assinassem a proposta; logo se 18 clubes assinam, a divisão para todos é maior do que caso sejam 33
- adicionado um pagamento de R$ 3 milhões a cada clube como "sinal de boa vontade" caso os termos sejam aceitos, com valor a ser depositado em até 30 dias após assinatura de oferta vinculante
- entrave que havia por Flamengo e Corinthians exigirem uma segurança contratual para que valores recebidos por eles fossem no mínimo iguais aos recebidos antes da Liga equacionado com a garantia estendida na proposta com tal benefício válido a todos os clubes da LIBRA

02/06/2023
15 clubes assinaram o Memorando de Entendimentos com a proposta apresentada em 26 de maio. Botafogo, Vasco e Cruzeiro sinalizaram que não assinariam.

05/06/2023
Mubadala apresentou uma nova proposta, passando de 20,0% para 12,5% dos direitos e se comprometendo a pagar 50% do total de R$ 4,75 bilhões, ou seja, R$ 2,375 bilhões.

09/06/2023
Botafogo comunica oficialmente ao Fundo Mubadala que está fora da negociação. O norte-americano John Textor, dono do Botafogo SAF, afirma que "cansou de esperar". Em entrevista ao GloboEsporte.com declara sobre o Flamengo: "Nenhum clube grande vai simplesmente dar dinheiro para todos os clubes pequenos e subsidiar a Liga. Ainda assim, o Flamengo tem sido muito flexível reduzindo, mesmo sabendo a porcentagem que eles deveriam ganhar com base no tamanho deles. Eles ajustaram a garantia mínima que receberiam, isso poderia impactar negativamente seus números em comparação com o que tradicionalmente obtêm com a Rede Globo. Eu não torço para o Flamengo em campo, mas tenho muito respeito por Rodolfo Landim e sua liderança. Acho que ele tem feito tudo que pode para unir esta Liga e vejo as pessoas ficando com raiva dele e falando sobre problemas de anos atrás".

13/06/2023
Fundo Mudabala afirma que mantém a proposta com ajuste proporcional de valores para assinar com 15 clubes.

30/06/2023
Liga Forte Futebol anuncia acordo com o Fundo Serengeti e LCP para a sessão de 20% dos direitos de transmissão de seus clubes no Campeonato Brasileiro por R$ 2,3 bilhões por um período de 50 anos. Dos 26 clubes pertencentes ao grupo, 23 aceitaram a proposta, com Atlético Mineiro, Internacional e Náutico recusando-a.

Opinião deste blog: A negociação deixou de ser pela Criação de uma Liga de Clubes para fazer a Gestão do Futebol Brasileiro, e se tornou a formação de um Bloco Comercial por Negociação de Direitos de Transmissão de TV. Mais uma Revolução foi Morta no Futebol Brasileiro!

Quem melhor definiu a pauta ideal foi Wallim Vasconcellos:
O futebol brasileiro tem um valor e uma atratividade internacional enormes. Um campeonato bem organizado aumentará a qualidade dos jogos, atrairá mais público, patrocinadores, propiciando investir em melhores atletas e reterá jogadores por mais tempo, valorizando mais o produto. Por isso, uma eventual venda de parte do capital da Liga só deveria acontecer depois desta estar consolidada, gerando maior valor aos clubes.

A criação da Liga propiciaria um aumento relevante no fluxo de recursos para os clubes brasileiros, e ela deveria ser independente do acordo sobre a divisão dos direitos de transmissão, com a definição de pontos como:
- Definição sobre calendário;
- Profissionalização da arbitragem;
- Organização e governança da Liga, com uma gestão profissional;
- Definição sobre mecanismos de FairPlay Financeiro;
- Definição sobre padrões de segurança nos estádios;
- Definição sobre condições do gramado;
- Definição sobre estrutura de órgão para assuntos disciplinares.



06/07/2023
Botafogo, Coritiba, Cruzeiro e Vasco anunciaram a formação de um bloco próprio para negociação dos Direitos de Transmissão, e assinam um outro contrato com o fundo de investimentos Serengeti e com a gestora de investimentos Life Capital Partners (LCP), separado ao contrato assinado por estas instituições com os clubes da Liga Forte Futebol

11/07/2023
Atlético Mineiro anuncia desligamento da Liga Forte Futebol e associação à Libra

07/02/2024
Libra aceita proposta da Rede Globo pelos Direitos de Transmissão entre 2025 e 2029 no valor de R$ 1,3 bilhão. Acordo a ser assinado por 9 clubes então da Série A (Flamengo, Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Red Bull Bragantino, Grêmio, Atlético Mineiro, Bahia e Vitória) e 9 então na Série B (Santos, Guarani, Ituano, Mirassol, Ponte Preta, Novorizontino, Paysandu, Sampaio Correa e ABC).

26/02/2024
Liga Forte faz proposta a Corinthians e Santos para que os dois não assinem o contrato com a Rede Globo pelos Direitos de Transmissão entre 2025 e 2029

28/02/2024
Corinthians se posiciona que se só assinará qualquer contrato pelos Direitos de Transmissão se receber a mesma quantia a ser paga ao Flamengo

01/03/2024
Assinatura de Pré-contrato entre 17 clubes da Libra (só o Corinthians não assinou) e a Rede Globo pelos Direitos de Transmissão entre 2025 e 2029

08/03/2024
Assinatura do Contrato entre Libra (sem o Corinthians) e Rede Globo

11/04/2024
4 clubes paulistas que jogavam a Série B deixam a Libra e se unem à Liga Forte Futebol: Ituano, Mirassol, Ponte Preta e Novorizontino.



Nenhum comentário:

Postar um comentário