sexta-feira, 31 de maio de 2024

MÁRCIO BRAGA: o presidente mais vitorioso da história do Flamengo


O mais vitorioso da história do Flamengo: Márcio Brasil foi presidente por dois mandatos consecutivos entre 1977 e 1980, formando a base do time que foi Tri-campeão Carioca de 1978-1979.I-1979.II e Campeão Brasileiro de 1980, e veio a ser Campeão da Libertadores de 1981, do Mundial Interclubes de 1981 e Bi-campeão Brasileiro em 1982-1983. Dez anos depois da vitória na eleição de 1976, voltou a ser eleito em dezembro de 1986 para o mandato 1987-1988, durante o qual o clube voltou a ser Campeão Brasileiro de 1987. Ganhou mais uma eleição em dezembro de 1990 e no mandato 1991-1992 foi pela quinta vez Campeão Brasileiro, em 1992. Após a pior crise da história do clube, a partir já de meados de 2001, voltou como presidente ao vencer a eleição em dezembro de 2003 para reerguer o clube, já em tempos de mandatos trienais, ocupou dois mandatos na presidência entre 2004 e 2009, período no qual o Flamengo foi Campeão da Copa do Brasil de 2006, Tri-campeão Carioca 2007-2008-2009, e Campeão Brasileiro de 2009. Por um problema de saúde, de ordem cardíaca, teve que deixar a presidência alguns meses antes do gol de Ronaldo Angelim que concretizou o sexto título nacional rubro-negro.

Entrevista dada em 12 de abril de 2024 para o site Globo Esporte (www.ge.globo.com): assim definiu o clube: "Ninguém vai entender o Flamengo direito. Basta amar". Ele contou os aprendizados com Juscelino Kubitschek, "JK", aplicados para o futebol, conta que comprou jogador com bilheteria de baile na Gávea e faz revelação de antigo desafeto: "Caixa D'Água era Flamengo". Recordou a formação e o desmanche do Clube dos 13, os times inesquecíveis e as polêmicas, que vão das Papeletas Amarelas de 1986 até os desafetos nas andanças de décadas no futebol brasileiro. Tabelião no Rio de Janeiro desde 1957, gosta mesmo é de ser chamado de presidente. Da sua maior e inexplicável paixão: o Flamengo.


Ficha técnica:
Nome completo: Marcio Baroukel de Souza Braga
Nascimento: 14 de maio de 1936, no Rio de Janeiro, RJ
Profissão: Formado em Direito, tabelião no Rio de Janeiro desde 1957, foi auditor do STJD de 1963 a 1976.
Outras atividades: Foi deputado federal em dois mandatos: Deputado federal de 1983 a 1987 pelo PMDB-RJ, Deputado federal constituinte de 1987 a 1991 também pelo PMDB-RJ.
Presidências no Flamengo: seis mandatos (1977-1978; 1979-1980; 1987-1988; 1991-1992; 2004-2006; 2007-2009). São 14 anos de duração em todos os mandatos.
Títulos no Flamengo: 32 títulos oficiais, o maior vencedor da história do clube. Entre as principais conquistas estão sete títulos estaduais (dois tricampeonatos), quatro Brasileiros e uma Copa do Brasil.


GE: Como nós devemos nos dirigir ao senhor?
— Presidente. Eu não gosto de deputado, não gosto de senhor, não gosto de tabelião. Eu sou presidente.

GE: Como o Flamengo entrou na sua vida? É verdade que o senhor quase foi botafoguense?
— Eu sou carioca e sou Flamengo de nascimento. Mas o meu padrasto, que me criou, era botafoguense doente. Naquela época eu era pequeno, menor de idade, e só podia ir ao futebol com ele. Então eu ia com ele para General Severiano. Me lembro até hoje do time que foi campeão em 1948 contra o Vasco. Eu tinha 12 anos: Era Oswaldo, Gérson e Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Pirillo, Otávio e Braguinha. Queriam que eu fosse botafoguense.

GE: E como o Flamengo entrou na sua vida?
— Em 1950 veio a Copa do Mundo. E o Maracanã. Foi aí que eu adquiri a liberdade de ir ao jogo do Flamengo. Tinha um motorista de lotação que se chamava Orestes. Morava na minha rua, no posto 6, em Copacabana. Quando o Flamengo jogava, ele pegava a meninada toda: “Vamos para o Maracanã”. E eu ia ver o Zizinho jogar. O Zizinho era uma coisa sensacional.

GE: Como aquele garoto se tornou presidente do Flamengo?
— Bom, começa em 1970, quando eu vi o André Richer (ex-presidente do Flamengo) pela televisão. Puxando os poucos cabelos que tinha, e chorando que não tinha condição de montar um time para disputar o campeonato porque não tinha dinheiro. Eu sou tabelião desde 1957, sou muito conhecido no Rio de Janeiro. Então eu vou procurar quem é credor do Flamengo. Os credores são realmente os donos do Flamengo.

GE: Os encontrou?
— Eu saí procurando banco por banco. Até que cheguei a um senhor maravilhoso, infelizmente já falecido, que era diretor do Banco Central, Ernesto Albrecht, que acabou sendo um grande benemérito do Flamengo. Marcaram reunião minha com ele. Quando entrei, me deu um frio na espinha. Encontrei um alemão sério. Cara fechada, olhos azuis. “Pois não. O que o senhor deseja?” "O senhor vai me desculpar, talvez tenha sido inoportuno, mas eu vim falar sobre o Flamengo"; “um minuto”. Então, apertou um botão: “Dona Maria, não atendo mais ninguém”. Ele lidava com os bancos todos, e o Flamengo devia para todos. Albrecht negociava, pegava dinheiro de um, pagava o outro, pagava para lá e para cá. E deu uma vida ao Richer, que conseguiu respirar um pouco.

GE: E como isso influencia a eleição de 1976?
— Aí chegamos em 1974 ou 1975, tínhamos um grupo, mas ninguém tinha pretensão de ser nada, de participar da política interna, da administração. Era só ajudar a tirar o Flamengo daquela situação difícil. O presidente já era o doutor Hélio Maurício, que havia sido eleito, reeleito e disputaria o terceiro mandato. Ou seja, iria se eternizar. Aí é que saiu esse grupo que era chamado de banqueiros, de grupo forte, de homens da sociedade, isso, aquilo, que resolveu se declarar "Frente Ampla pelo Flamengo".

A FAF - Frente Ampla pelo Flamengo


GE: Foi uma eleição tumultuada… Era um choque de gerações também, você com 40 anos. Como foi?
— Eu almoçava na sede social do Jockey, ali no Centro, tinha uma mesinha com a bandeirinha do Flamengo. De vez em quando o João Havelange ia lá. E ele comentou com um amigo: “Márcio vai perder. Hélio Maurício tem 600 votos cativos no conselho. Ninguém tira isso”. Respondi: “Diz a ele que vou ganhar com o dobro de votos”. Você não tem o menor dúvida que devemos essa vitória muito à nossa inteligência, ao nosso charme, mas se não fosse o doutor Roberto Marinho soltar as chamadas pela TV Globo para que o sócio do Flamengo comparecesse para votar… Nós demos um banho. Eles tiveram 600 votos que o João Havelange disse. Eu tive 1.100. Não tive 1.200 porque houve um candidato, um terceiro candidato, Radamés Lattari (pai e homônimo do ex-técnico da Seleção Brasileira de Vôlei Masculino), que levou 100 votos.


GE: Tem uma foto no O Globo do dia seguinte à eleição que mostra o ex-presidente Médici no clube.
— General Garrastazu Médici veio votar contra nós. Nós viemos com um discurso de que a democracia começava pelo Flamengo. E isso acho que ofendeu um pouco os militares. O sistema era contra nós.


GE: A partir da sua vitória a relação com os militares foi tranquila?
— Eu tive uma formação política muito boa. Primeiro em casa e depois por ter desde muito jovem que conviver com o presidente Juscelino Kubitschek (Márcio Braga foi casado com uma sobrinha do ex-presidente). Então eu sei que em política você não deve transformar seu adversário de hoje em inimigo permanente. É melhor ter sempre diálogo. Se eu tivesse sido mais áspero, se tivesse aprofundado posições mais radicais… E, no fundo, no fundo, todo mundo tem um pouco de Flamengo no coração. Todo mundo tem um pontinho rubro-negro, preto e vermelho no coração, o que facilita as coisas. Ou seja, com o Flamengo as facilitam, né, desde que você realmente não seja um radical nem de esquerda, nem de direita, mas que seja radical pelos interesses do Flamengo.

Revista Placar, janeiro de 1977


GE: Como foi a montagem daquele grande time do final dos Anos 70, começo dos Anos 80?
— Eu sei que fui um bom presidente, um grande presidente. Mas nada disso a gente faz sozinho. Tomei posse em janeiro de 1977. No final de 1976, o Flamengo não tinha dinheiro para contratar um técnico. E o almirante Heleno Nunes, então presidente da CBD, sugeriu o nome do Cláudio Coutinho, que não era técnico de futebol, era preparador físico. Quando nós chegamos lá e tivemos a oportunidade de entrevistar… a conversa com o Coutinho nos impressionou muito.

GE: Por quê?
— Tem uma imagem que nunca me sai da cabeça. Eu só fiquei tranquilo quando cheguei no Flamengo e vi o Coutinho conversando no meio do gramado da Gávea com o Kanela (Togo Renan Soares, lendário técnico de basquete) e Buck (Guilherme Augusto do Eirado Silva, lendário remador e técnico de remo do Flamengo). Pensei: posso ficar tranquilo. Está salvo. Os profissionais vão tratar do assunto.

GE: E o time?
— Nós fizemos um contrato com o Coutinho. Fizemos o primeiro contrato de trabalho com o Zico. Tínhamos uma base maravilhosa: Andrade, Adílio, Leandro, Zico. Trouxemos o Nunes, que era cria do Flamengo. E mais um ou dois sugeridos pelo Coutinho: o Carpegiani e o Cláudio Adão, que eu fui comprar do Santos. O Raul, eu fui comprar o passe dele lá em Belo Horizonte, do Cruzeiro, em dez prestações. Que atletas, eu até me emociono. E formamos um time que foi campeão, bicampeão, tricampeão, campeão do Brasil, campeão da América, campeão do mundo. Foi isso. Fomos nós que fizemos isso aí, essa revolução.

GE: O senhor aparecia muito em coluna social. Tinha um glamour ser presidente do Flamengo?
— Meu padrasto, que me criou, era dono da Rio Magazine, a revista social mais importante do Rio de Janeiro. O Ibrahim Sued (antigo colunista social) é cria da revista dele. Eu sempre vivi na sociedade, tabelião, e aí me meto no Flamengo.


GE: Dessa sua vivência veio o Baile do Vermelho e Preto?
— Criamos para agradecer a nossa eleição. O primeiro foi em 1977 e foi bom. Os de 1978, 1979, 1980 explodiram o Rio de Janeiro. Vinha gente da Europa, artistas de cinema, todo mundo. A sociedade toda era Flamengo. Com o resultado de um Baile do Vermelho e Preto nós fomos no Londrina e compramos o Marinho, que foi campeão do mundo. Que atleta, meu Deus do céu!

GE: Qual foi a maior loucura que já fez pelo Flamengo?
— A maior loucura que já fiz, e raramente encontrei parceiros, era assinar notas promissórias, né? Arriscar comprometer seu patrimônio pessoal com a administração do clube. Isso eu tive que fazer algumas vezes.

GE: Qual foi a maior dificuldade que enfrentou como presidente?
— Dificuldade eu tive todas. Não tinha dinheiro, não tinha um tostão. E nem por isso deixamos de ser campeões. Porque sempre tratamos com os profissionais. Esta é a solução: entregar para os profissionais. Eu nunca tive problemas na administração do futebol. Porque eu não entendo de futebol. Todos os presidentes que tiveram dificuldade é porque são metidos a entender de futebol. E não entendem. Futebol é para quem é profissional do futebol.

GE: O seu grande mérito foi entender de Flamengo?
— Amar. Mais do que entender. Entender ninguém vai entender aquilo direito. Mas amar intensamente é uma boa resposta para a sua pergunta. Entender é complicado. Eu não me arrependo de nada no Flamengo.

GE: O senhor voltou ao Flamengo logo após o caso que ficou conhecido como "Papeletas Amarelas", em 1986. O que afinal aconteceu ali?
— Papeleta amarela era uma moeda interna do Flamengo. Quando você tinha que pagar alguma coisa, emitia uma papeleta amarela. E parece que estavam emitindo papeletas amarelas para comprar juiz. A acusação era essa.

GE: E tinha isso mesmo? Houve compra de juízes?
— Eu não sou capaz de falar que sim nem que não. Mas deu uma confusão enorme com a Polícia Federal. Eu era deputado federal, saí candidato a deputado federal constituinte (em 1986). Ganhei a eleição e fui candidato a presidente do Flamengo em 15 dias. Ganhei a eleição para abafar isso. Eu tomei posse com a Polícia Federal lá dentro por causa dessa papeleta amarela aí. Era um papel amarelo, um formulário que emitiam para tirar dinheiro do caixa.

GE: Hoje se fala em manipulação de resultados. Antes, houve a Loteria Esportiva, a Máfia do Apito. Acredita que há corrupção no futebol?
— Ah, a gente sempre ouve. Mas eu nunca me aprofundei nisso, não.

GE: Por que o Flamengo demorou tanto para se tornar a potência econômica que é hoje?
— Ah, porque não é fácil. Precisaríamos de uma outra entrevista só para falar dos interesses que são contrários ao interesse dos clubes. Agora mesmo estava revendo um programa sobre a Copa União (de 1987). A força dessas instituições. Repare: eu deputado federal, constituinte, com a lei na minha mão, fui eu quem colocou ali. Com o CND (Conselho Nacional do Desporto) a meu favor, a nosso favor. Com tudo isso, aquele cara da Federação lá de São Paulo, o Nabi Abi Chedid, criou problema conosco. Então essas instituições mais antigas, que tinham o duto do poder, o duto dos recursos voltado para eles, é que transformavam esses clubes todos, todos, mendigando. Nós fazemos o futebol, nós pagamos os atletas, nós montamos o espetáculo. E eles ganham dinheiro.


GE: O Clube dos 13, a Copa União, foram uma resposta a isso?
— Sim. Otávio Pinto Guimarães (presidente da CBF) foi ao Jornal Nacional e disse: “Este ano não temos condições de organizar o campeonato nacional”. Eu peguei o telefone e liguei para o Carlos Miguel Aidar (presidente do São Paulo): “Está na hora de agir. A revolução está na rua. A bandeira é de quem pegar”. Foi assim que começou. Montamos um campeonato. Veio a TV Globo, doutor Roberto Marinho comprou. A Coca Cola bancou quem não tinha anúncio na camisa. Vendemos para a Varig e fizemos o campeonato. Fizemos um campeonato que foi o mais rentável. E, para terminar, Flamengo campeão.

GE: Por que os clubes não conseguem fazer uma liga até hoje?
— Olha, naquela época foi possível porque nós demos um golpe ali, né? E agora eu não vejo condições de se dar esse golpe. E os clubes divididos fica difícil mudar as coisas. Esse pessoal de federação, das entidades de administração, é um jogo muito pesado deles. Melhorou muito. Mas continua sendo muito complicado você virar esse tipo de coisa. Então não vejo como fazer isso. E olha que eu sou de briga, mas também já estou um pouco velho.

GE: O senhor se sente traído pelo que aconteceu depois? Por quem?
— Ah, sim. Pelo Eurico Miranda, que se fechou aqui com o Caixa D’Água (Eduardo Viana, ex-presidente da FERJ) e elegeram o Ricardo Teixeira presidente da CBF, que veio com a proposta das federações. Quem votava eram as federações. Acabaram com o Clube dos 13. E se encheram de dinheiro, tanto as federações quanto eles e os seus bolsos.

GE: Como era sua relação com o Eurico?
— No fundo, no fundo, não era má pessoa. Não era um Nabi Abi Chedid. Ele viveu a vida inteira dessa briga com o Flamengo. Era inteligente, se elegeu deputado duas vezes graças à briga com o Flamengo. E jogava com o poder, se juntava com o presidente da Federação, tudo para ficar contra o Flamengo. Tudo que o Eurico desejava era destruir o Flamengo, e fizeram essa dupla aí.

GE: Teve alguma relação mais marcante com dirigentes de Botafogo ou Fluminense?
— Nunca tive maiores problemas. Sempre fui muito amigo, de infância, do Francisco Horta, uma grande figura, um grande presidente do Fluminense. Nós chegamos a fazer um time Fla-Flu, que ganhou da Seleção Brasileira. Botei o Horta de chefe de delegação do Flamengo na Europa.

GE: E com o Castor de Andrade?
— O Castor de Andrade era muito amigo. Vou contar uma história boa do Castor. Houve um jogo Flamengo e Bonsucesso que o Caixa D’Água marcou numa quarta-feira à noite. Não tinha nada pior do que isso, botar o Flamengo para jogar com o Bonsucesso num campo tal… eu não sabia o que fazer. Aquela briga danada que nós tínhamos com a federação, com o Caixa D’Água, com o Eurico. Botar lá (longe)... era de um desprestígio. Eu pensei: o que eu vou fazer, como vou sair dessa? Liguei pro Castor: “Castor, tô com um problema. Será que você podia me ajudar. O Caixa D’Água acaba de marcar um jogo do Flamengo assim, assim, contra o Bonsucesso numa quarta-feira à noite”. E nós naquela época não tínhamos seguranças como têm hoje. Eu não sei o que fazer, Castor. “Deixa comigo. Não se preocupa. Não vai acontecer nada. Mas não vá ao jogo. Deixa comigo. O Castor mandou um batalhão para lá. Fechou (o quarteirão), tomou conta, isso e aquilo, não ocorreu nada. O Flamengo ganhou o jogo e foi tudo mundo embora. Eles armavam tudo. Contra o time. Não tinha segurança nenhuma. Não tinha como se tem hoje. Não tinha. Não era. Eu acho que naquela época não tinha nada. Nós tínhamos o Pinheiro no Flamengo como chefe da segurança, que está até hoje. Mas não é como hoje em dia. O Castor foi lá, botou, acabou. Jogou, o Flamengo jogou tranquilo.

GE: Qual é a sua avaliação da gestão Rodolfo Landim?
— Ele não é má pessoa. É um bom rubro-negro, mas está conduzindo essa história do futebol muito mal. A forma de ele conduzir o Flamengo não me parece condizente com o momento exitoso que vive o Flamengo. Do lado da economia ele vai bem, mas no lado da política – interna e externa – ele deixa a desejar. Eu tenho muitas dúvidas se ele ganha a eleição (em 2024), se quem está na situação ganha. Landim está se unindo com o submundo do Flamengo para se manter no poder e ter voto.

GE: Tite lhe agrada? É do nível do Jorge Jesus?
— Não vejo ele nesse nível todo, não. De qualquer maneira, é excelente técnico. E me parece que está indo muito bem no Flamengo. Agora o Jorge Jesus é um fenômeno. Ele era realmente uma pessoa muito especial. Ele se preocupava com a grama do Flamengo. Ele chegava na concentração às 7 da manhã, discutia a torneira que estava quebrada. Ele realmente foi excepcional. Eu gostaria de tê-lo de volta. Gostaria muito.

GE: O senhor consegue escalar um Flamengo de todos os tempos?
— Ah, não sou capaz de montar um time. Tem que citar muitos. Entre os goleiros indiscutivelmente o Raul, que não é cria do Flamengo. Lá atrás teve o Jurandir. Laterais sem dúvida o Júnior e o Leandro. O Leandro está para mim quase no mesmo, se não no mesmo patamar que o Zico. Entre os beques tem que lembrar Mozer, Rondinelli, o Deus da Raça. Aldair era um jogadoraço. Andrade, Adílio, Zico. Carpegiani. Zizinho. Dida.

GE: Alguém que joga hoje entra nessa conversa? Gabigol?
— Eu não gosto de falar dos “vivos”. Mas... cadê o Gabigol, ele sumiu? Não está nem escalado. Não consegue se escalar. Não dá para ter uma perspectiva maior para compará-lo a estes outros que nós citamos.

GE: Ainda convive com o meme do "acabou o dinheiro"?
— Todo dia me lembram dessa frase. E não é coisa muito antiga. E essa imagem tem uns sete anos, oito anos, nove anos. Hoje está aí o Flamengo com uma receita de R$ 1,37 bilhão. É fenomenal. Mas naquele momento, o que estava acontecendo era a pressão do esporte olímpico, do esporte amador, para fazer contrato dos atletas de ginástica olímpica. Queriam ganhar tanto quanto o Zico. Aí eu abri a reunião e disse “acabou o dinheiro. Vocês estão entendendo? Acabou o dinheiro". E não tenho condições mais de tirar recursos dessa ordem do departamento de futebol, porque quem sustenta tudo é o futebol. Qual era a outra receita que tinha o Flamengo que não fosse do futebol para investir no esporte olímpico? E o pior de tudo, aqueles atletas concorriam com o escudo do Brasil, e não do Flamengo. Era preparar para eles concorrerem pelo Brasil e não pelo Flamengo. E nem reconhecerem que o Flamengo era o formador daquilo tudo. Olha, que luta. Acabou o dinheiro. Para isso aí, acabou o dinheiro.



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A BIOGRAFIA "CORAÇÃO RUBRO-NEGRO"

No fim de 2013 foi publicada a biografia de Márcio Braga, entitulada "Coração Rubro-Negro", onde todas as histórias desta entrevista estiveram contadas em muito mais detalhes. Márcio Braga incorpora três dos estereótipos mais apedrejados do Brasil: o tabelião, o cartola e o político. Foi o dirigente que ficou mais tempo à frente do Flamengo, assumindo o clube em situações dramáticas e comandando as conquistas mais importantes. É o notário mais antigo em atuação no país, um dos nomes mais prestigiados da profissão. Viveu a política desde os tempos de JK e participou de episódios decisivos da Campanha das Diretas, da Nova República e da Constituinte ao lado de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outros grandes nomes da história da redemocratização.

Segundo Mário Braga, por ele mesmo, um lutador e combatente das boas causas. Este livro é uma coleção de histórias dessas brigas nos mundos do futebol, da política e dos negócios. É também uma coleção de lembranças, desde a origem judaica e a saga dos antepassados na Amazônia até a intimidade com o presidente Juscelino Kubitschek e as delícias dos Anos Dourados no Rio de Janeiro, a euforia no jet set e os amores de cinema. Cenários e personagens se multiplicam. Épocas e aventuras se sucedem. E em todas as histórias do livro está viva a paixão da maior torcida do mundo – a Nação Rubro-negra. Mesmo sendo parte desta seita faz tanto tempo, Marcio não se atreve a explicar o que é a entidade mágica chamada Flamengo, essência e comunhão de gente de todo jeito e todo lugar, pelo Brasil e pelo planeta. Ele aprendeu e ensina que esse mistério, que está em cada palavra deste livro, nunca será desvendado por qualquer ciência. Sabe-se que habita a alma do torcedor enlouquecido e assombra o espírito do adversário.




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