segunda-feira, 16 de junho de 2025

FLABASQUETE 1951-1960: o dono absoluto do basquete do Rio de Janeiro


DECACAMPEÃO CAROCA 1951-1960

Kanela e Algodão foram os grandes símbolos dos 10 títulos cariocas consecutivos conquistados pelo basquete do Flamengo. A série teria sido ainda maior se a turma da Gávea, bicampeã de 1948-49, não tivesse perdido o título de 1950 para a Associação Atlética Grajaú (que anos depois passou a se chamar Grajaú Country Club). O time do Grajaú era liderado dentro de quadra por Ruy de Freitas, armador que jogou pela Seleção Brasileira, e era o craque do time. Kanela jamais perdoou seus comandados por este vice-campeonato. Mas seus comandados não o desapontaram nos anos subsequentes; em 51 deixando o Botafogo com o vice. em 52 o vice foi do Fluminense, entre 1953 e 56 o vice-campeonato ficou com o Sírio e Libanês (clube do bairro de Botafogo), em 57 com o Vasco, em 58 e 59 por duas vezes seguidas o Fluminense foi o vice, e em 60, na campanha do deca, a segunda colocação foi do time do Tijuca Tênis Clube. A base do time vinha fazendo história desde 1948, e foi sendo reposta, primeiro com a chegada de Jamil Gedeão, do Recife, de Pernambuco (também jogador do time de basquete da Aeronáutica), depois de Augusto Vasconcellos, o "Guguta", do Icaraí, de Niterói (clube de onde já haviam chegado Tião Gimenez e Mário Hermes), e na segunda metade com as contratações de Fernando Bro Bro ao Vasco, de Waldyr Boccardo ao Botafogo, e de Otto Nóbrega ao Fluminense.

Logo no início dos Anos 1950, o scratch rubro-negro já despontava como grande sensação da cidade. Já no Campeonato Carioca de 1952 o time do Flamengo sobrava entre as demais equipes do cenário da cidade. Assim narrava a edição de 1º de janeiro de 1953 do Jornal dos Sports fazendo uma Retrospectivas dos Grandes Momentos Esportivos do Rio de Janeiro em 1952: "Por força dos resultados obtidos, pode-se estabelecer na contagem de 64 x 27 a média por que foram derrotados os demais grêmios cariocas, cujos marcadores reais foram os seguintes: 54 pontos de diferença sobre o Carioca (73 x 19), 66 sobre o Mackenzie (82 x 16), 30 sobre o Riachuelo (66 x 36), 35 sobre a Atlética (60 x 25), 23 sobre o Grajaú (61 x 38), 38 sobre o Tijuca (75 x 37), 30 sobre o Botafogo (51 x 21), 50 sobre o Vasco (75 x 25), 51 sobre o América (78 x 27), 15 sobre o Fluminense (48 x 33), e 17 sobre o Sirio (42 x 25)".


No ano seguinte, a campanha do título invicto naquele ano de 53 teve os seguintes jogos: 54 x 33 Riachuelo / 66 x 52 Sírio e Libanês / 108 x 32 Carioca / 61 x 31 Grajaú Tênis Clube / 57 x 35 Sampaio / 57 x 39 A.A. Grajaú / 62 x 50 América / 60 x 41 Fluminense / 55 x 26 Tijuca Tênis Clube / 63 x 40 Vasco / 65 x 38 Botafogo / 65 x 32 Riachuelo / 67 x 66 Sírio e Libanês / 77 x 35 Carioca / 56 x 36 Grajaú Tênis Clube / 67 x 30 Sampaio / 61 x 41 A.A. Grajaú / 65 x 58 América / 65 x 53 Fluminense / 32 x 27 Tijuca Tênis Clube / 48 x 33 Vasco / 53 x 37 Botafogo.

Revista Esporte Ilustrado de 1953


As Equipes Ano a Ano do DecaCampeonato Rubro-Negro:

1951
Time: Algodão, Godinho, Alfredo da Motta, Gedeão e Affonso Évora
Téc: Kanela
Banco: Tião Gimenez e Mário Hermes

1952
Time: Algodão, Arthur Ayres, Alfredo da Motta, Gedeão e Zé Mário
Téc: Kanela
Banco: Godinho, Tião Gimenez e Mário Hermes

1953
Time: Algodão, Arthur Ayres, Alfredo da Motta, Guguta e Zé Mário
Téc: Kanela
Banco: Godinho

1954
Time: Algodão, Arthur Ayres, Alfredo da Motta, Guguta e Zé Mário
Téc: Kanela
Banco: Godinho

1955
Time: Algodão, Arthur Ayres, Godinho, Guguta e Zé Mário
Téc: Kanela
Banco: Alfredo da Motta e Válter de Almeida

1956
Time: Algodão, Arthur Ayres, Fernando Bro Bro, Guguta e Válter de Almeida
Téc: Kanela
Banco: Alfredo da Motta, Willi Pecher e Otto Nóbrega

1957
Time: Algodão, Godinho, Fernando Bro Bro, Otto Nóbrega e Willi Pecher
Téc: Kanela
Banco: Robert Zagury, Válter de Almeida e Zé Coqueiro

1958
Time: Algodão, Barone, Fernando Bro Bro, Otto Nóbrega e Zé Coqueiro
Téc: Kanela
Banco: Válter de Almeida

1959
Time: Algodão, Barone, Fernando Bro Bro, Otto Nóbrega e Waldyr Boccardo
Téc: Kanela
Banco: Paulinho

1960
Time: Algodão, Barone, Fernando Bro Bro, Mical e Waldyr Boccardo
Téc: Kanela
Banco: Paulinho




O momento mais marcante da histórica sequência rubro-negra se deu numa tragédia: "As emoções que esta geração de basquete proporcionou acabaram por incluir um mártir na história do clube. Na final do Campeonato Carioca de 1955, entre o Flamengo e o Sírio-Libanês, uma cesta do jogador Guguta, no último segundo, do meio da quadra, deu a vitória e o título para o Flamengo, com um placar de 45 a 44. O presidente Gilberto Cardoso passou mal diante de tanta emoção e teve de ser levado às pressas a um hospital, onde não resistiu e faleceu". (A NAÇÃO, pg. 182)

O técnico do Sírio e Libanês era Ruy de Freitas, e nas palavras dele é narrada a cesta decisiva e histórica que deu o pentacampeonato ao Flamengo e causou o infarto fulminante que matou o presidente rubro-negro Gilberto Cardoso: "Na histórica partida de 1955, além da sorte do Flamengo, nós desconfiamos que o cronômetro não correu. Faltavam 7 segundos, o Sírio tinha dois lances livres e o Olivieri perdeu os dois; o Algodão pegou a bola, jogou para o Alfredo no meio da quadra; o Alfredo pegou a bola, bateu devagar, atravessou a quadra, balançou o corpo e deu para o Arthur, que enganchou; a bola não entrou, veio o Guguta, deu um tapa e fez a cesta. Tudo isso faltando 7 segundos. Até hoje fica a interrogação: parou ou não o cronômetro?".

O jogo que garantiu a conquista do Deca-Campeonato aconteceu em 25 de novembro de 1960, uma vitória por 63 x 42 sobre o Tijuca Tênis Clube (placar do 1º tempo: 22 x 14) que assegurou o título com uma rodada de antecipação, Na histórica partida daquela noite, os sessenta e três pontos rubro-negros foram marcados: Barone (15), Waldyr Boccardo (12), Algodão (11), Paulinho (11), Mical (8) e Fernando Bro Bro (6). Félix, Sérgio, Acácio, Zeca e Eduardo não pontuaram.

Jornal dos Sports de 26/11/1960

Entre 1948 e 1964, a hegemonia do Flamengo no basquete carioca foi extrema. Em 17 edições do Campeonato Carioca neste período, o Flamengo sagrou-se campeão em 14 oportunidades. O último deste títulos, em 64, saiu com uma cesta de Coqueiro nos últimos segundos de jogo, num time cujo principal jogador era Waldyr Boccardo, e que revelou o goiano César Sebba, jogador que viria a jogar na Seleção Brasileira e que marcou uma época do basquete do Rio de Janeiro, tendo sido campeão carioca em 64 com o Flamengo, em 65 pelo Vasco, tri-campeão em 66, 67 e 68 pelo Botafogo e bi-campeão em 70 e 71 pelo Fluminense. Sebba ainda foi Campeão da Taça Brasil de 67 com o Botafogo e de 73 com o Vila Nova, de Goiás (time cujo treinador era Kanela). O curioso, é que depois de tantos títulos, o Flamengo enfrentou após o campeonato de 64 a maior sequências sem títulos no basquete de sua história, só voltando a ser campeão em 1975.


Flamengo e Corinthians foram as duas grandes potências nacionais do basquete na década de 50. Enquanto o Flamengo faturou o Deca entre 1951 e 1960, o Corinthians foi Hepta paulista de 1950 a 1956. O basquete paulista era dominado por Corinthians, Palmeiras e Espéria. Na capital, só em 1959 o time do Sirio emergiu e mudou a rotina da divisão entre os três do título do Campeonato Paulista da Capital. Mas o interior de São Paulo começava a construir sua tradição no basquete, o time de XV de Piracicaba, cujo principal jogador era Wlamir Marques, foi tetra-campeão do Campeonato Paulista do Interior entre 1957 e 1960, e conseguiu vencer por duas vezes o Campeonato Paulista, em 57 e 60.




A Morte de Gilberto Cardoso em 1955

Em 25 de novembro de 1955, o Jornal dos Sports trazia matéria: “Começa a final: reabre-se o maior ginásio do mundo para a pugna entre os mais ferrenhos rivais dos últimos tempos do desporto da cesta. O tetracampeão obterá revanche ou o Sírio confirmará seu recente triunfo? Invulgar expectativa em torno da peleja”.


Àquela altura, por maior que fosse a expectativa, ninguém poderia ter idéia do tamanho e intensidade das emoções que estavam por acontecer naquela noite.

No dia seguinte, 26 de novembro, a primeira página do Jornal dos Sports destacava em letras garrafais: “Emoção da vitória fulminou Gilberto Cardoso” seguida pela nota: “morreu esta madrugada o presidente do Flamengo. Hoje será o sepultamento. O corpo sairá às 17h da sede do Flamengo para o Cemitério São João Batista”.

No interior do jornal, os pormenores dos intensos acontecimentos daquela noite: “Notável e dramática vitória do Flamengo. Nos últimos segundos a conta de Guguta ditou o score de 45 x 44”.

Eis a descrição do jogo: “A vitória do Flamengo tornou-se mais expressiva porque foi valorizada pela dificuldade com que se definiu o empolgante confronto. Desfez-se, portanto, posto que sem qualquer desprestígio para o Sírio, a chocante impressão que causara o êxito obtido pelo team de Ruy de Freitas no derradeiro prélio, quando os 63 x 46 dessa jornada tornou imperativa a nova série”.




As descrições dos segundos finais demonstra os contornos de dramaticidade daquele jogo: “após César haver colocado o Sírio a frente com 44 x 43, Olivieri teve o direito de tentar dois lances livres, perdendo ambos. Faltavam nove segundos. Foi quando o Flamengo arrojou-se num esforço supremo do qual resultou a sensacional cesta de Guguta”.

Após o erro do segundo lance-livre, que mantinha o Flamengo no jogo, Algodão pegou a bola e a lançou para Alfredo da Motta no meio da quadra, ele deu um passe para Arthur, que a lançou com um gancho. A bola bateu no aro, e então apareceu a mão salvadora de Guguta para dar um tapa para dentro da cesta. O lance sacramentou o placar de 45 x 44.


Os números daquela final, jogada em 25/11/1955:

Flamengo: Algodão (10), Guguta (16), Zé Mário (0), Artur (12), Walter (6), Godinho (0) e Alfredo da Motta (1).

Sírio e Libanês: Ardelin (3), Caco (6), Vinagre (4), Olivieri (15), César (16) e Álvaro (0).


Ainda ditando as páginas do Jornal dos Sports: “As vibrações chegaram ao transbordamento quando nos derradeiros segundos surgiu a cesta que seria a do espetacular triunfo. Daí saiu o grande presidente, sozinho, em seu próprio carro, mas batido pelo estado emocional em que se encontrava, não logrou passar do ponto da Avenida Presidente Vargas de frente do ‘Última Hora’. Conduzido ao pronto-socorro, foi medicado, mas logo sofreu crise mais séria. Os recursos da ciência foram em vão. Chegara o instante fatal. E o Flamengo sofreu todo o peso da dolorosa e inesperada perda”.


Gilberto Cardoso







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