sábado, 26 de julho de 2025

Herói do Basquete Rubro-Negro: Olivinha, o Deus da Raça


Carlos Alexandre Rodrigues do Nascimento é um nome pouco conhecido para aqueles torcedores rubro-negros menos fanáticos. Ele escreveu o seu nome na história do basquete do Flamengo, mas ninguém o conhece assim. Vão reconhece-lo como o "Deus da Raça", ou pelo apelido que herdou dentro das quadras: Olivinha. Nascido em 18 de abril de 1983 na cidade do Rio de Janeiro, ele herdou o apelido por causa do irmão mais velho, também jogador de basquete, também da história do basquete rubro-negro, o pivô Carlos Henrique Rodrigues do Nascimento, que era conhecido no basquete como Olívia, em alusão à alta e magra companheira do marinheiro Popeye nos desenhos animados, a "Olívia Palito". De "irmão do Olívia", ainda na base, ele virou o "Olivinha", o "Pequeno Olívia".


Também nascido no Rio de Janeiro, o irmão do Olivinha, Olívia foi um pivô de 2,11 metros. A altura e o físico esguio do atleta lhe motivaram o apelido incomum ainda na adolescência. Com a altura diferenciada, ele se destacou no jogo de garrafão logo jovem, e acabou recrutado para testes nas equipes de basquete da cidade de São Paulo, que dominavam o cenário do basquete nacional no final dos Anos 1980 e início dos anos 1990. Nas categorias de base, Olívia jogou pelo Suzano e pelo Monte Líbano, até chegar ao Sírio, equipe pela qual se profissionalizou, e a qual defendeu de 1992 a 1995, época em que recebeu as primeiras convocações para a Seleção Brasileira.

Em 1995 o Flamengo decidiu remontar a sua atividade de basquete masculino, que havia sido interrompida por alguns anos. Contratou ao técnico Miguel Ângelo da Luz, carioca, que havia sido Campeão Mundial de 1994 com a Seleção Brasileira Feminina. Entra as peças indicadas por Miguel Ângelo para ser contratado estava Olívia, que não pensou duas vezes frente à oportunidade de voltar a estar mais perto da família, aceitando a oferta rubro-negra. Ele defendeu a camisa do Flamengo pela primeira vez de 1995 a 1998. Depois jogou duas temporadas novamente no basquete paulista, primeiro no Mackenzie, da capital, e depois no projeto que havia sido montado poucos anos antes em Ribeirão Preto, no interior do estado. Em 2000 recebeu uma nova proposta e regressou ao Flamengo, para atuar no clube entre 2000 e 2004. Nesta época, o irmão mais novo estava jogando basquete na base do Grajaú Country Clube, onde já era conhecido como Olivinha.



A chegada do irmão moveu ao jovem Olivinha para o basquete profissional do Flamengo. Olívia e Olivinha atuaram no mesmo elenco, com a camisa rubro-negra, de 2001 até 2004, quando estiveram juntos no time que se sagrou Vice-Campeão Brasileiro naquela temporada. Em 2004, Olivinha, com seus 2,03 metros, estava jogando como ala, alternando com a função de ala-pivô, na qual viria a se consagrar no auge da carreira. Era titular daquele equipe comandada pelo veterano treinador Emmanuel Bonfim, cujo quinteto titular tinha o veterano armador norte-americano Marc Brown, ao principal pontuador daquela equipe, Leandro Salgueiro, atuando como ala-armador, com Olivinha na posição três, e uma dupla de garrafão formada por Mãozão e Gema (Mãozão, o pai do futuro jogador de basquete da Seleção Brasileira, o Mãozinha). No banco estavam o irmão do Olivinha, Olívia, fazendo o rodízio no garrafão junto ao veterano armador Alberto, e a Duda Machado, irmão do já consagrado Marcelinho Machado, que estava atuando na Europa.

Depois daquela campanha, Olívia passaria pelo Beijing Ducks, da China, pelo Corinthians/Mogi, e regressaria ao Flamengo em 2005 para uma terceira passagem pelo clube, que durou de 2005 a 2007, período no qual voltou a jogar ao lado de Olivinha vestindo a camisa do Flamengo. Foi a sua última passagem pelo clube, uma relação crucial para abrir caminho para a relação de identidade e amor entre o irmão caçula e o Flamengo, aonde foi consagrado para a história como o "Deus da Raça". Ao se despedir da Gávea, Olívia passou primeiro pelo Provincial Osorno, do Chile, e na sequência para o Barreteros de Zacatecas, do México, onde atuou mais uma vez ao lado do irmão Olivinha. Em 2008, Olívia chegou para jogar basquete à cidade de Joinville, em Santa Catarina, onde acabou se casando e fixando residência. As últimas temporadas no basquete profissional brasileiro, estas já após a criação do Novo Basquete Brasil (NBB) foram mais uma vez no Rio de Janeiro, desta vez com a camisa do Tijuca Tênis Clube. Olívia se aposentou das quadras de basquete profissional em 2012, e a partir de então se fixou em Joinville, onde se envolveu a fundo com a formação de atletas para o basquete.
  
Introduzida a história do irmão, a qual foi fundamental para construir os laços entre o Flamengo e Olivinha, que na juventude torcia para o Fluminense, é hora de se dedicar a falar no "Deus da Raça" e sua história, no basquete profissional e no Clube de Regatas do Flamengo. Em 2001 ele trocou a base do Grajaú Country pelas quadras da Gávea. Ficou no Flamengo até 2004 jogando, como já contado, ao lado irmão. Foi um dos grandes nomes na grande campanha que deu o Vice-campeonato Nacional ao Flamengo em 2004. Deu-se então um primeiro parêntesis temporal entre a história dele e do clube. Olivinha ficou duas temporadas fora, uma no Corinthians/Mogi, na capital paulista, e outra no clube/empresa Telemar/Rio de Janeiro. Regressou então ao Flamengo em 2006 para uma passagem rápida, na qual o clube voltava a reestruturar o seu basquete após um breve recesso longe das competições. A passagem foi curta, tendo ele recebido e aceitado uma proposta parta a sua única experiência no basquete profissional num torneio nacional fora do Brasil, foi para o México, onde atuou ao lado do irmão com a camisa do Barreteros de Zacatecas. Regressou ao basquete brasileiro em 2008 para defender à equipe mineira de Uberlândia. Depois, em 2009, voltou a se mudar para a cidade de São Paulo, desta vez para defender ao Pinheiros, camisa com a qual começou a construir uma expressiva história de destaque no NBB. No clube paulista encontrou o parceiro de conquistas Marquinhos. Os dois se destacaram juntos pelo Pinheiros e foram contratados no meio de 2012 pelo Flamengo, na terceira passagem de Olivinha pelo clube, a mais longeva e significativa de todas, e que o levou a escrever seu nome na galeria de heróis do esporte rubro-negro.


No NBB, Olivinha disputou as quatro primeiras edições pelo Pinheiros, em 2009, e nas temporadas 2009/10/ 2010/11 e 2011/12. Depois foram 12 temporadas consecutivas com a camisa do Flamengo na competição, da 2012/13 à 2023/24. No total foram 564 partidas disputadas de NBB, 135 pelo Pinheiros e 429 pelo Flamengo. Foram 13.939 minutos em quadra no acumulado destas 16 temporadas disputadas, com 7.051 pontos convertidos, um aproveitamento de 52,7%. Em lances-livres, converteu 1.256 de 1.647 tentados um aproveitamento de 76,3%; em jogadas de 2 pontos converteu 2.014 pontos em 3.329 tentados (aproveitamento de 60,5%) e da linha de três pontos converteu 589 em 1.692 tentativas  (aproveitamento de 34,8%). Mas onde realmente brilhou e fez história foi pegando rebotes, o recordista máximo destas 16 temporadas, apesar da estatura não ser das maiores, sempre com um grande senso de colocação, e com muita gana e raça para ficar com a bola nas mãos. Em 16 temporadas de NBB foram 3.996 rebotes (quase 4 mil!) tendo sido 2.744 defensivos, e 1.252 ofensivos. Uma média de 7,1 rebotes por partida no total das temporadas, 4,9 por jogo na atuação defensiva, e 2,2 na atuação ofensiva. Temporada a temporada, suas médias foram de: 10,3, 10,7, 8,5, e 7,1 nas quatro temporadas pelo Pinheiros. E com a camisa rubro-negras, suas médias de rebotes totais por partida foram de: 8,2, 8,1, 6,1, 5,2, 9,5, 6,3, 5,9, 6,3, 7,4, 5,7, 4,8, e 3,9, com um decaimento, como esperado, após os 38 anos.

Na galeria de títulos, antes da chegada ao Flamengo em 2012, ele tinha conquistado 2 vezes o Campeonato Carioca com o Flamengo, em 2002 e 2006, estado no elenco da Seleção Brasileira que foi Campeão da Copa América em 2009, e tinha sido Campeão Paulista de 2011 com o Pinheiros. Nas 12 temporadas disputadas com o Flamengo a partir de 2012, ele ganhou de tudo: foi 6 vezes Campeão Brasileiro, nas Temporadas 2012/13, 2013/14, 2014/15, 2015/16, 2018/19 e 2020/21, foi 3 vezes Campeão da Copa Super, em 2018, 2021 e 2024, foi Campeão da Liga das Américas e da Copa Intercontinental (Mundial de Clubes) em 2014, repetindo o feito no time que foi Campeão da Champions League Américas (Liga dos Campeões das Américas) em 2021, e novamente da Copa Intercontinental, o Mundial Interclubes, em 2022. Uma carreira super vitoriosa, e tingida de conquistas em vermelho e preto!


A garra de Olivinha em quadra deu a ele um lugar especial no coração da torcida rubro-negra, tendo ele sido um dos maiores pilares da geração que conquistou os mais importantes títulos do basquete rubro-negro na história. Com ele não tinha bola perdida, atirava-se em busca até das mais improváveis. Por sua garra, recebeu o apelido de "Deus da Raça do Basquete". Como ele mesmo sempre repetiu: "a Nação vai ter orgulho de mim em quadra pela entrega, dedicação, raça e amor que eu demonstro pelo clube e pela vontade de vencer qualquer desafio pela frente, sempre". E foi este entrega que o colocou dentro da galeria dos inesquecíveis do Clube de Regatas do Flamengo!

A sua primeira temporada no Flamengo foi a última do lendário Oscar Schmidt. Juntos, os dois conquistaram o título de Campeões Cariocas de 2002. E as palavras de Oscar reverenciam o reconhecimento do "Mão Santa" à carreira do "Deus da Raça". Nas palavras de Oscar: "o Olivinha é um cara com muita raça, que quer jogar, não tem bola perdida para ele, vai em todas, não desiste nunca. Por isso, é o companheiro ideal que a gente pode ter no time". A relação de Olivinha com a torcida também foi de idolatria mútua. Não à toa, em jogos do Flamengo dentro de casa, como mandante, os torcedores sempre se orgulhavam de exaltar o "Orgulho da Nação".

A prova de que a força da relação de amor ferveu mesmo foi somente a partir de 2012 foi contada pelo próprio Olivinha em entrevista concedida ao Programa Bola da Vez, da ESPN Brasil: "Eu nunca tinha ido ao Maracanã para ver o Flamengo. Quando eu fui pela primeira vez foi uma coisa surreal. Eu senti uma energia que fiquei todo arrepiado. Eu falava: 'o que está acontecendo aqui?'. Depois de 2012 até os dias de hoje, a torcida me abraçou de uma forma absurda. Ai não teve como". Palavras dadas para a emissora de televisão em 2024.


Em junho de 2024 ele encerrou sua história como jogador profissional de basquete e com a camisa do Flamengo. O "Deus da Raça" se despediu das quadras como jogador profissional em 13 de junho no Maracanãzinho, diante da torcida que o aclamou como herói. Não foi do jeito que gostaria, a derrota para o SESI Franca por 69 a 59 que deu o título nacional para o rival. O jogador de 41 anos encerrou a carreira como Vice-Campeão Brasileiro da Temporada 2023/24. Mas nada jamais apagaria o que Olivinha fez pelo Flamengo e pelo basquete nacional, um dos maiores de seu tempo, com 6 títulos de NBB conquistados, e se aposentou como o líder histórico de rebotes da competição até então. O ala-pivô encerou a sua carreira como líder nos números de partidas (564 até a temporada 2023/24), tendo superado a marca de 7.000 pontos durante aquela temporada, tendo sido o 4º atleta a conseguir tal feito na história do NBB.


Muitas reverências ao camisa 16 do Flamengo, incluindo a homenagem singela de seus companheiros de equipe, que subiram todos ao pódio para receber a medalha de prata vestidos com a mesma camisa 16 que consagrou Olivinha no panteão rubro-negro. Foi no Maracanãzinho, um dos maiores templos do basquete brasileiro, que Carlos Alexandre Rodrigues do Nascimento, o Olivinha, pendurou seu tênis e entrou em definitivo para um hall seleto na história do esporte do clube.  Após tudo isto, ainda abalado pela derrota, ele fez questão de atender a todas as entrevistas, demonstrar suas emoções para receber cartazes de crianças, tirar selfies e dar autógrafos. Recebeu abraços dos jogadores adversários de Franca, que acabam de derrotá-lo em sua despedida, em reconhecimento a um atleta que extrapolou fronteiras de camisas e cidades. Aos microfones, as últimas palavras como atleta profissional: "já chorei um bocado, quase chorei novamente, o sentimento do término é o melhor possível, eu me entreguei ao máximo dentro da quadra, não só no Flamengo, mas em todos os clubes que passei. Foi uma honra estar aqui, desfrutando do esporte, o basquete é minha vida, sem dúvida nenhuma. Passei 30 anos jogando basquete, mas chega a hora para todo mundo. Meu corpo está pedindo isso, estou com muitas dores, me dediquei ao máximo. Tenho um orgulho muito grande da minha carreira. Não diminuo nos outros lugares, mas minha carreira aqui no Flamengo é uma coisa que tenho orgulho muito grande, por tudo o que aconteceu. Foram 19 anos no Flamengo, o clube em que eu fiquei a maior parte da minha carreira, um clube que aprendi a amar, que tenho um respeito, uma paixão muito grande. Não tenho nada o que reclamar, só agradecer pelo apoio de todos. Obrigado à Liga Nacional de Basquete por tudo o que fizeram por mim. Agora é hora de me afastar um pouco das quadras, minha jornada como jogador profissional termina aqui. Todo o tempo que não pude estar ao lado da minha família, agora vou aproveitar bastante. É tudo o que eu queria. Muito obrigado a todos, foi uma honra". O Flamengo e os flamenguistas é que sempre repetiram: "Obrigado, Deus da Raça". Um cara que lutou dentro de quadra como nenhum outro por cada bola que parecia perdida, por cada rebote que parecia improvável. Um mito na história do basquete do Flamengo, que o homenageou com um busto da entrada do Museu do Flamengo, na Gávea, o único jogador de basquete na história rubro-negra a ter recebido tal honraria.




Nenhum comentário:

Postar um comentário