sábado, 9 de agosto de 2025

Resultado Financeiro do Flamengo no 1º Semestre de 2025


Excelente resultado financeiro do Flamengo no 1º semestre de 2025. Comentando estes números, reproduzo artigo pulicado no LinkedIn em 4 de agosto por César Grafietti, que publicou sob o título "Flamengo e o 1º semestre de 2025: números que agradam ao torcedor". O consultor é sócio da consultoria Convocados. Reproduzo a seguir a íntegra do texto dele:



O Flamengo divulgou os números do 1º semestre de 2025. Boa notícia para alguns, ruim para outros. Vamos avaliar alguns números e tentar mostrar onde estão as forças e riscos dos dados apresentados, já iniciando com um cumprimento ao clube, que disponibiliza informações bastante detalhadas para números intermediários. Transparência é parte do processo de desenvolvimento de uma marca, especialmente numa indústria que ainda tem muito a fazer até chegar num nível operacional sustentável.

Receitas


O Flamengo atingiu R$ 657 milhões de receitas totais ao final do primeiro semestre de 2025, representando crescimento de 43% sobre mesmo período de 2024 (R$ 458 milhões), em valores nominais. Nesta análise não estou aplicando correção pela inflação, porque o efeito não é relevante no período.

Lembrando que esses números não incluem a join-venture com o Fluminense para a gestão do Maracanã. Como o caixa é segregado, a partir do momento em que a empresa distribuir dividendos eles serão considerados como entrada de caixa.

Vamos avaliar o detalhamento das receitas. E começamos pelos Direitos de Transmissão. Na nota explicativa a conta está assim distribuída:


Não há detalhes sobre a composição dessas linhas, mas algumas inferências são possíveis. Por exemplo, os Direitos Fixos representam parte do Campeonato Carioca e parte do Brasileiro. Não há informação, mas como houve adiantamento da parcela fixa dos direitos, indicada no passivo, me parece que houve alteração na distribuição, e o valor será em parcelas ao longo da competição, e não mais mensalmente como era anteriormente.

Na parcela de Participação e Performance o destaque certamente é a parte antecipada pela participação na Copa do Mundo de Clubes. Foram cerca de R$ 154 milhões, segundo a imprensa. Ainda assim o valor sem contar o Mundial seria mais que o dobro de 2024, mas também sem destaques sobre a origem. Assim como na mídias digitais. Desconsiderando a competição da FIFA, a receita seria de R$ 158 milhões, 16% acima de 2024.

Sobre as demais receitas, as Comerciais foram bem, e devem ter sido impactadas positivamente pelo Mundial, enquanto as demais seguiram comportamento menos animador, inclusive com queda de 12% no Matchday.

Ou seja, desempenho bom na parte das receitas, mas positivamente impactado pela Copa do Mundo de Clubes.


Custos e Despesas

Os Custos e Despesas caixa, sem considerar as amortizações e depreciações, que é como devemos analisar os clubes de futebol, cresceu apenas 9% no período. Digo “apenas” na comparação com as receitas, conforme indicamos acima.


O crescimento está concentrado na conta de Salários da área esportiva, basicamente ao Futebol. Aliás, uma abertura interessante, ainda que limitada, é a indicação das receitas e custos por segmento. O futebol (profissional e base) representa 88% dos Custos, contra 91% das receitas, quando adicionamos as transferências de atletas. Na indicação da tabela apresentada, os Esportes Olímpicos operam em déficit, enquanto o Futebol, o Social e “Outros” tem resultado operacional positivo. Com um pouco mais de detalhes teremos a visão completa, mas a indicação apresentada já é bastante positiva, e mostra que Futebol é quem gera receitas para pagar a área de custos, formada por Administrativo e Comercial.


Resultado Operacional (EBITDA)

No final, o semestre foi bastante positivo, conforme gráfico abaixo.


Mesmo que excluíssemos as receitas com o Mundial de Clubes o clube teria apresentado resultado operacional positivo. E na visão recorrente teria sido de R$ 43 milhões, bastante próximo do desempenho de 2024.


Dívidas

As dívidas seguem controladas, mas é preciso parcimônia na avaliação. Vamos aos números.


A dívida total manteve-se praticamente inalterada, atingindo R$ 723 milhões. Entretanto, vimos crescimento de 14% na parcela líquida de curto prazo, enquanto a parcela bruta de longo prazo foi reduzida em 12%.

Maiores ofensores são as dividas Operacionais de CP, representada por salários, e os Adiantamentos, que vão de parcelas de TV a receitas comerciais. O dinheiro já entrou no caixa mas a receita virá ao longo do ano, e até de outros anos.

Aliás, o Caixa voltou a crescer, quase na proporção dos Adiantamentos, indicando uso racional do recurso.

Ou seja, o comportamento foi aceitável, considerando o crescimento das receitas. Veremos a seguir este ponto. Quando analisamos a relação das dividas em relação às receitas, vemos um comportamento bastante tranquilo, conforme abaixo.


Mesmo excluindo a receita vinda do Mundial de Clubes o Flamengo permaneceria com o nível de alavancagem estável em relação ao ano passado, indicando que a situação está sob controle.


Eventos Subsequentes

Alguns podem perguntar sobre o impacto das contratações recentes de Emerson Royal, Samuel Lino e Carrascal. Pois bem, o clube realizou transferências de 3 atletas – Alcaraz, Gerson e Wesley -, montando € 50 milhões, enquanto as contratações representaram € 43 milhões, gerando um saldo positivo de € 7 milhões, ou algo como R$ 38 milhões brutos.

Do ponto de vista de caixa há que se avaliar o equilíbrio entre pagamentos e recebimentos, visto que são pagos e recebidos em parcelas, mas na visão de receitas o clube apresentará cerca de R$ 270 milhões adicionais, que serão deduzidos das baixas de diferidos correspondentes. Já as aquisições entram apenas na dívida, contra aumento de diferido, e o impacto será de longo prazo. É um tema contábil, mas que gera impactos nas análises, porque o resultado de 2025 tende a ser muito maior que o efeito no caixa.


Resumo

O Flamengo passou o primeiro semestre de 2025 com bastante tranquilidade, fruto tanto das receitas com o Mundial quanto dos recebimentos de negociações passadas de atletas e dos adiantamentos. Isso é importante: a operação está contabilmente positiva, mas na visão de caixa o semestre foi mais tranquilo pelos eventos não recorrentes indicados acima.

Para a sequência da temporada não há novos eventos além das transferências realizadas, mas haverá entradas de receitas variáveis do Brasileirão e das competições em andamento, como Copa do Brasil e Libertadores, caso o time evolua esportivamente pelas fases.

Os números indicam um clube saudável, que mira receitas na casa dos R$ 1,7 bi em 2025, que segue controlado, mas que precisa estar ciente de que nem todos os anos teremos mundiais, adiantamentos e efeitos externos que impulsionam a gestão. E ainda tem o estádio no retrovisor indicando potenciais riscos adicionais. Motivos para destruir há muitos, dificuldade em construir é grande.

Pelo perfil da gestão, tende a estar tudo mapeado. Ou seja, notícias boas para os flamenguistas, e ruins para a maioria dos demais clubes adversários.


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