Excelente resultado financeiro do Flamengo no 1º semestre de 2025. Comentando estes números, reproduzo artigo pulicado no LinkedIn em 4 de agosto por César Grafietti, que publicou sob o título "Flamengo e o 1º semestre de 2025: números que agradam ao torcedor". O consultor é sócio da consultoria Convocados. Reproduzo a seguir a íntegra do texto dele:
O Flamengo divulgou os números do 1º semestre de 2025. Boa notícia para alguns, ruim para outros. Vamos avaliar alguns números e tentar mostrar onde estão as forças e riscos dos dados apresentados, já iniciando com um cumprimento ao clube, que disponibiliza informações bastante detalhadas para números intermediários. Transparência é parte do processo de desenvolvimento de uma marca, especialmente numa indústria que ainda tem muito a fazer até chegar num nível operacional sustentável.
Receitas
O Flamengo atingiu R$ 657 milhões de receitas totais ao final do primeiro semestre de 2025, representando crescimento de 43% sobre mesmo período de 2024 (R$ 458 milhões), em valores nominais. Nesta análise não estou aplicando correção pela inflação, porque o efeito não é relevante no período.
Lembrando que esses números não incluem a join-venture com o Fluminense para a gestão do Maracanã. Como o caixa é segregado, a partir do momento em que a empresa distribuir dividendos eles serão considerados como entrada de caixa.
Vamos avaliar o detalhamento das receitas. E começamos pelos Direitos de Transmissão. Na nota explicativa a conta está assim distribuída:
Não há detalhes sobre a composição dessas linhas, mas algumas inferências são possíveis. Por exemplo, os Direitos Fixos representam parte do Campeonato Carioca e parte do Brasileiro. Não há informação, mas como houve adiantamento da parcela fixa dos direitos, indicada no passivo, me parece que houve alteração na distribuição, e o valor será em parcelas ao longo da competição, e não mais mensalmente como era anteriormente.
Na parcela de Participação e Performance o destaque certamente é a parte antecipada pela participação na Copa do Mundo de Clubes. Foram cerca de R$ 154 milhões, segundo a imprensa. Ainda assim o valor sem contar o Mundial seria mais que o dobro de 2024, mas também sem destaques sobre a origem. Assim como na mídias digitais. Desconsiderando a competição da FIFA, a receita seria de R$ 158 milhões, 16% acima de 2024.
Sobre as demais receitas, as Comerciais foram bem, e devem ter sido impactadas positivamente pelo Mundial, enquanto as demais seguiram comportamento menos animador, inclusive com queda de 12% no Matchday.
Ou seja, desempenho bom na parte das receitas, mas positivamente impactado pela Copa do Mundo de Clubes.
Custos e Despesas
Os Custos e Despesas caixa, sem considerar as amortizações e depreciações, que é como devemos analisar os clubes de futebol, cresceu apenas 9% no período. Digo “apenas” na comparação com as receitas, conforme indicamos acima.
O crescimento está concentrado na conta de Salários da área esportiva, basicamente ao Futebol. Aliás, uma abertura interessante, ainda que limitada, é a indicação das receitas e custos por segmento. O futebol (profissional e base) representa 88% dos Custos, contra 91% das receitas, quando adicionamos as transferências de atletas. Na indicação da tabela apresentada, os Esportes Olímpicos operam em déficit, enquanto o Futebol, o Social e “Outros” tem resultado operacional positivo. Com um pouco mais de detalhes teremos a visão completa, mas a indicação apresentada já é bastante positiva, e mostra que Futebol é quem gera receitas para pagar a área de custos, formada por Administrativo e Comercial.
Resultado Operacional (EBITDA)
No final, o semestre foi bastante positivo, conforme gráfico abaixo.
Mesmo que excluíssemos as receitas com o Mundial de Clubes o clube teria apresentado resultado operacional positivo. E na visão recorrente teria sido de R$ 43 milhões, bastante próximo do desempenho de 2024.
Dívidas
As dívidas seguem controladas, mas é preciso parcimônia na avaliação. Vamos aos números.
A dívida total manteve-se praticamente inalterada, atingindo R$ 723 milhões. Entretanto, vimos crescimento de 14% na parcela líquida de curto prazo, enquanto a parcela bruta de longo prazo foi reduzida em 12%.
Maiores ofensores são as dividas Operacionais de CP, representada por salários, e os Adiantamentos, que vão de parcelas de TV a receitas comerciais. O dinheiro já entrou no caixa mas a receita virá ao longo do ano, e até de outros anos.
Aliás, o Caixa voltou a crescer, quase na proporção dos Adiantamentos, indicando uso racional do recurso.
Ou seja, o comportamento foi aceitável, considerando o crescimento das receitas. Veremos a seguir este ponto. Quando analisamos a relação das dividas em relação às receitas, vemos um comportamento bastante tranquilo, conforme abaixo.
Mesmo excluindo a receita vinda do Mundial de Clubes o Flamengo permaneceria com o nível de alavancagem estável em relação ao ano passado, indicando que a situação está sob controle.
Eventos Subsequentes
Alguns podem perguntar sobre o impacto das contratações recentes de Emerson Royal, Samuel Lino e Carrascal. Pois bem, o clube realizou transferências de 3 atletas – Alcaraz, Gerson e Wesley -, montando € 50 milhões, enquanto as contratações representaram € 43 milhões, gerando um saldo positivo de € 7 milhões, ou algo como R$ 38 milhões brutos.
Do ponto de vista de caixa há que se avaliar o equilíbrio entre pagamentos e recebimentos, visto que são pagos e recebidos em parcelas, mas na visão de receitas o clube apresentará cerca de R$ 270 milhões adicionais, que serão deduzidos das baixas de diferidos correspondentes. Já as aquisições entram apenas na dívida, contra aumento de diferido, e o impacto será de longo prazo. É um tema contábil, mas que gera impactos nas análises, porque o resultado de 2025 tende a ser muito maior que o efeito no caixa.
Resumo
O Flamengo passou o primeiro semestre de 2025 com bastante tranquilidade, fruto tanto das receitas com o Mundial quanto dos recebimentos de negociações passadas de atletas e dos adiantamentos. Isso é importante: a operação está contabilmente positiva, mas na visão de caixa o semestre foi mais tranquilo pelos eventos não recorrentes indicados acima.
Para a sequência da temporada não há novos eventos além das transferências realizadas, mas haverá entradas de receitas variáveis do Brasileirão e das competições em andamento, como Copa do Brasil e Libertadores, caso o time evolua esportivamente pelas fases.
Os números indicam um clube saudável, que mira receitas na casa dos R$ 1,7 bi em 2025, que segue controlado, mas que precisa estar ciente de que nem todos os anos teremos mundiais, adiantamentos e efeitos externos que impulsionam a gestão. E ainda tem o estádio no retrovisor indicando potenciais riscos adicionais. Motivos para destruir há muitos, dificuldade em construir é grande.
Pelo perfil da gestão, tende a estar tudo mapeado. Ou seja, notícias boas para os flamenguistas, e ruins para a maioria dos demais clubes adversários.







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