segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Nunca antes na história do Flamengo!


Nunca em sua história no futebol o Flamengo viveu um ciclo de investimentos como o que viveu no início da temporada 2019. Primeiro e antes de tudo, pelas enormes cifras desembolsadas: Rodrigo Caio custou R$ 22 milhões, Bruno Henrique custou R$ 23 milhões e De Arrascaeta custou R$ 55 milhões (todas estas três operações entram no Top 5 de maiores aquisições da história do Flamengo, e todo o Top 5 inclusive foi realizado entre 2017 e 2019!). Além das três mega-contratações, o Flamengo ainda acertou o empréstimo do atacante Gabriel Barbosa, o Gabigol, junto à Internazionale de Milão, não havendo desembolso, mas com o clube se comprometendo a pagar 100% do salário que o atacante recebia na Itália, pagando-lhe o maior salário de seu mega-estrelado elenco.

Mas não foi só o mega-investimento que faz deste início de temporada um marco histórico. É a primeira vez na história do Flamengo que há uma mega-formação de elenco em cima de uma base já montada. Todos os outros episódios no qual o futebol rubro-negro montou super-times foram em cima de uma desmontagem de elenco, ou seja, chegava um pacote para ocupar o lugar de um pacote que deixava o clube. Vamos revisitar a história para contar estas expectativas de Super-Times Rubro-Negros!


Anos 1960 e 1970: O Desabrochar de Grandes Projetos

Até os Anos 1960 era raro a chegada de muitos reforços, as aquisições para reforçar elenco eram pontuais. O primeiro esforço maior vem entre o 1º e o 2º semestre de 1964, quando antes do início do Campeonato Carioca, sob grande expectativa, o Flamengo repatria Evaristo de Macedo, após grande passagem pela Espanha com as camisas de Barcelona e Real Madrid, e contrata o atacante Berico, do Guarani, que em São Paulo era dado como um "novo Pelé". Junto a Berico, também do Guarani, chega o ponta-direita Amauri, e junto a eles o goleiro Marco Aurélio, do Atlético Paranaense. O pacote não vingou, e o Flamengo teve um ano ruim.

Em 1972, no início do ano, antes da largada do Campeonato Carioca, o Flamengo foi juntar jogadores que haviam brilhado pelo Botafogo entre 1967 e 1970. Tirou três jogadores do próprio Botafogo: o goleiro Ubirajara Motta, o zagueiro Chiquinho Pastor e o meia-atacante Paulo César Caju, grande estrerla do futebol carioca naquele momento. Foi buscar ainda o lateral-direito Moreira, no Santos, que dois anos antes havia trocado o Botafogo pela Vila Belmiro na transação que colocou Carlos Alberto Torres no Botafogo. O pacote de reforços foi bem-sucedido na Gávea, e o Flamengo sagrou-se Campeão Carioca alguns meses depois.

Em 1976, o famoso troca-troca Fla-Flu que alimentou um super-time nas Laranjeiras. O Flamengo cedeu o goleiro Renato, o lateral-esquerdo Rodrigues Neto e o atacante argentino Doval, e recebeu o goleiro Roberto, o lateral-direito Toninho Baiano e o ponta-esquerda Zé Roberto. O Super-Time do Fluminense foi bi-campeão carioca, mas não se sagrou campeão brasileiro.

Em 1977, mais um pacote rubro-negro, quando chegaram à Gávea o veterano zagueiro Carlos Alberto Torres, do Fluminense, o lateral-direito uruguaio Sergio Ramirez, o volante Paulo César Carpegiani, do Internacional, e o centroavante Cláudio Adão, do Santos.

Até então, a rotina de reforços a cada inter-temporada se resumia à aquisição de um ou dois nomes mais badalados e uma ou duas apostas pouco conhecidas... assim girava o futebol brasileiro. Estas foram algumas das poucas vezes, no Flamengo, que a estratégia fugiu um pouco a esta linha.


1983: A Reposição à Saída de Zico

No final do Campeonato Brasileiro de 1983 o Flamengo se sagrou campeão e a diretoria anunciou após a festa que o ídolo máximo do clube, Zico, estava vendido à Udinese, da Itália.

Para silenciar as críticas, melhorar o clima junto à torcida e fazer todos acreditarem que o clube seguiria forte, a diretoria rubro-negra comprou um pacote de três revelações do futebol brasileiro. Chegaram o meia-atacante Cléo, do Palmeiras, o ponta-direira Lúcio, do Guarani, mas que antes brilhara na Ponte Preta, e o centroavante Edmar, do Grêmio. O trio não faz sucesso, e o time perdeu o Campeonato Carioca no 2º semestre, encurtando a passagem de todos estes nomes pela Gávea.



1988: Hora de Reformulação

Em meados dos Anos 1980, o Flamengo ensaiou grandes projetos: em 1986 repatriou Sócrates e montou um super meio-campo formado por Andrade, Adílio, Sócrates e Zico. Muita qualidade técnica, mas todos já envelhecidos, resultado: não deu certo. Em 1987 o Flamengo foi contratar a grande estrela do futebol brasileiro naquele momento, o ponta-direito Renato Gaúcho, do Grêmio. Deu certo, e o Flamengo foi o Campeão da Copa União, conquistando seu quarto título nacional.

Mas o Flamengo via sua geração de ouro envelhecer. Depois da perda do título do Carioca de 1988 para o Vasco, o segundo vice-campeonato consecutivo perante o rival, a diretoria entendeu que era hora de reoxigenar a geração multi-campeã e que mantivera o clube no topo do futebol brasileiro entre 1978 e 1987. Ao fim do Campeonato Carioca, Andrade e Renato Gaúcho foram comprados pela Roma, da Itália, o zagueiro Edinho foi para o Grêmio, o volante Flávio para o São Paulo, e o meia Júlio César Barbosa foi vendido para o Racing Santander, da Espanha. Para reconstruir o time foi adquirido o primeiro grande pacote de reforços da história do Flamengo: chegavam à Gávea o veterano zagueiro uruguaio Dario Pereyra, do São Paulo, o volante Paulo Martins, também do São Paulo, o ponta-direitra Sérgio Araújo, do Atlético Mineiro, o meia Luvanor, do Santos, que havia brilhado com o Goiás dois anos antes, e a grande revelação do futebol do Rio, o meia Renato Carioca, do América (junto a ele chegavam também, pouco badalados, o lateral-esquerdo Paulo César e o volante Delacir).

O time do 1º semestre de 1988: Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Ailton e Zinho; Renato Gaúcho, Bebeto e Alcindo; o técnico era Carlinhos.

O time do 2º semestre de 1988: Zé Carlos, Jorginho, Dario Pereyra, Aldair e Leonardo; Delacir, Ailton e Renato Carioca (Zico); Sérgio Araújo, Bebeto e Zinho; o técnico era Candinho.

O desempenho no Campeonato Brasileiro de 1988 não foi de todo um fracasso pela ótica do tempo, o Flamengo reformulado terminou em 6º lugar. Mas para a ótica dos Anos 1980 o grande investimento foi dado como um grande fracasso, afinal o Flamengo havia sido 1º lugar em 1980, 1982, 1983 e 1987, 5º lugar em 1984 e 6º lugar em 1981. Piores do que 1988, só o 9º lugar em 1985 e o 13º lugar em 1986, dois anos de baixo investimento. Frente ao fracasso considerado, o investimento foi desfeito: Dario Pereyra foi para o Palmeiras, Delacir, Paulo Martins e Luvanor foram dispensados. Só Renato Carioca e Sérgio Araújo ficaram para a temporada 1989.



1995: O Super-Time do Centenário

Depois do maior período de conquistas de sua história, entre 1978 e 1987, seguido por uma entre-safra infrutífera em 1988 e 1989, o clube voltou a ter um período vitorioso, com uma nova geração, entre 1990 e 1993, ano em que os sinais de crise financeira começaram a ficar mais explícitos. Em 1994, com um time bastante modesto frente esta dificuldade financeira, o Flamengo teve um ano desastroso.

Em 1995 era o ano do centenário de fundação do clube, e um novo presidente assumia o Flamengo, o jonalista e radialista Kléber Leite. E ele deu início a uma era de mega-investimentos, que só fez aumentar a debilidade financeira do clube. Para festejar os 100 anos de fundação do Flamengo, Kléber Leite contratou um pacote de reforços como nunca se havia visto. Para começar, contratando Romário, do Barcelona, da Espanha, numa das maiores transações financeiras do futebol mundial de até então. Também foram contratados o goleiro Emerson Ferreti e o zagueiro Agnaldo Liz, ambos do Grêmio, o veterano lateral-esquerdo Branco, os zagueiros Válber e Jorge Luís, o meia Willian, ex-Vasco, o lateral-direito Gustavo, do Palmeiras, e o atacanate Mazinho Oliveira, que chegava após uma infrutífera passagem pelo Bayern Munique. De quebra ainda chegava o técnico bi-campeão brasileiro e paulista com o Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo. Uma "SeleFla"!

O time perdeu o título do Campeonato Carioca para o Fluminense, e Kléber Leite desmontou o time inteiro e contratou mais uma leva de reforços, cujo principal nome era o atacante Edmundo, do Palmeiras, que chegava para montar o "Melhor Ataque do Mundo" - Edmundo, Romário e Sávio - também foram contratados um trio de jogadores do Fluminense - o lateral-esquerdo Lira, o volante Márcio Costa, e o meia Djair - além do goleiro Paulo César, do veterano lateral-direito Luís Carlos Winck, da dupla de zagueiros Cláudio e Ronaldão, além dos meio-campistas Pingo e Uéslei. Com a campanha ruim no Brasileiro daquele ano (21º lugar) o time foi todo desfeito ao fim do ano.

O time do 2º semestre de 1994: Gilmar Rinaldi, Henrique, Gélson, Marçal (Paulo Paiva) e Marcos Adriano; Fabinho, Marquinhos, Hugo e Nélio; Magno e Sávio; o técnico era Edinho.

O time do 1º semestre de 1995: Roger, Marcos Adriano, Jorge Luís, Válber e Branco; Charles Guerreiro, Fabinho e Marquinhos; Mazinho Oliveira, Romário e Sávio; o técnico era Vanderlei Luxemburgo.

O time do 2º semestre de 1995: Paulo César, Fabiano, Cláudio, Ronaldão e Lira; Pingo, Márcio Costa e Djair; Edmundo, Romário e Sávio; o técnico foi primeiro Edinho e depois Washington Rodrigues.



1998: Uma Nova Seleção de Craques

Depois do fracasso de 1995, Kléber Leite voltou a investir pesado com as contratações do argentino Mancuso e do atacante Marques, e foi Campeão Carioca em 1996. No Campeonato Brasileiro tentou reeditar a dupla Bebeto e Romário, mas este último, insatisfeito, optou em ir para a Espanha, e a campanha no Brasileiro foi bem fraca (13º lugar). Em 1997, Romário voltou para o Carioca, mas voltou para a Espanha e não disputou o Brasileiro de 1997.

Kléber Leite, acumulando insucessos, deu um nova cartada pesada com um pacote de grandes contratações antes do Carioca de 1998. Mais uma vez trouxe Romário de volta da Espanha, e para jogar com ele contratou o lateral-esquerdo Zé Roberto, trocado por Sávio com o Real Madrid, da Espanha; trouxe ainda os meias Rodrigo Fabbri, considerado a grande revelação do futebol brasileiro, adquirido à Portuguesa, e Palhinha, destaque anos antes no São Paulo e que voltava após uma passagem infrutífera pelo Mallorca, da Espanha. Chegavam ainda os laterais-direitos Pimentel, do Palmeiras, e Alberto Valentim, do Cruzeiro, o volante Marcos Assunção, do Santos, e o meia-atacante Cleisson, do Cruzeiro. Para fechar o pacote, chegava o veterano Renato Gaúcho, o jovem centroavante Caio Ribeiro, ex-São Paulo e então no Santos, e o meia Arinélson, do Santos. Um time inteiro de reforços!

O "Sexteto de Ouro" formado por Zé Roberto, Marcos Assunção, Palhinha, Rodrigo Fabbri, Cleisson e Romário não vingou, Kléber Leite manteve seu padrão e desmontou o time, refazendo o elenco inteiro para o Campeonato Brasileiro, no 2º semestre.

O time do 2º semestre de 1997: Clemer, Fábio Baiano, Júnior Baiano, Luiz Alberto e Gilberto; Jamir, Bruno Quadros, Piekarski (Lê) e Iranildo; Lúcio e Sávio; o técnico foi Sebastião Rocha, e depois Paulo Autuori.

O time do 1º semestre de 1998: Clemer, Pimentel, Júnior Baiano, Luiz Alberto e Zé Roberto; Marcos Assunção, Jorginho, Palhinha e Rodrigo Fabbri; Cleisson e Romário; o técnico foi Paulo Autuori, e depois Joel Santana.



2000: O Super-Time do Mecenas Furado

Em 2000 o Flamengo fechou parceria com a multinacional suíça de marketing ISL, parceira da FIFA. O clube recebeu um montão de dinheiro, gastou tudo montando um super-time, mas a ISL entrou em falência e o dinheiro que o clube contava para fechar os super-investimentos não chegou, deixando um rombo financeiro gigantesco.

No 1º semestre de 2000 foi contratado o meia sérvio Dejan Petkovic. No 2º semestre, um pacotão de uma nova "SeleFla" veio para o Campeonato Brasileiro, para o qual foram contratados o zagueiro paraguaio Carlos Gamarra, do Atlético de Madrid, da Espanha, os meias Denilson, do Bétis, da Espanha, e Alex, do Parma, da Itália, e o atacante Edílson, do Corinthians.

Em crise financeira, atrasando salários, a campanha no Campeonato Brasileiro foi um fiasco e o time não passou de um 15º lugar.

O time do 1º semestre de 2000: Clemer, Maurinho, Juan, Fabão e Athirson; Leandro Ávila, Mozart, Beto e Rodrigo Mendes; Reinaldo e Tuta; um time que teve três técnicos: Paulo César Carpegiani, depois Carlos César, e depois Carlinhos.

O time do 2º semestre de 2000: Clemer, Maurinho, Juan, Gamarra e Athirson; Leandro Ávila, Rocha, Petkovic e Alex; Denilson e Edílson; tendo o técnico sido primeiro Carlinhos e depois Zagallo.



2002-2007: Pacotões Pobretões

Em forte crise financeira, os Anos 2000 foram marcados por grandes pacotes que traziam quantitativamente muitas contratações, mas que qualitativamente eram muito limitadas.

Antes do Brasileiro de 2002 foram contratados 14 jogadores, entre eles Liédson. Antes do Carioca 2004 foram contratados 11 jogadores, entre eles o veterano Zinho. Antes do Carioca 2007 foram contratados 14 jogadores, entre eles o veterano Juninho Paulista.


2009-2011: Grandes Estrelas

Recupeerando-se financeiramente frente ao pior período de sua história, entre 2002 e 2006, o Flamengo passou a conseguir fazer mega-contratações pontuais. Assim foi com a chegada de Adriano, o Imperador, em 2009, e com a chegada de Ronaldinho Gaúcho em 2011.



2019: Mega-Investimentos sobre uma Base Pronta

Nunca em sua história no futebol o Flamengo viveu um ciclo de investimentos como o que viveu no início da temporada 2019. Em 2016 havia sido contratado Diego, em 2017 foi contratado Everton Ribeiro, em 2018 foi contratado Vitinho. Com uma base já forte: 3º lugar no Brasileiro 2016, vice-campeão da Copa do Brasil de 2017, vice-campeão da Copa Sul-Americana de 2017 e vice-campeão brasileiro de 2018.

No início de 2019, dos titulares o Flamengo só perdeu o zagueiro Réver e o meia Lucas Paquetá. E entraram quatro reforços de peso: Rodrigo Caio, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol.
       
O time do 2º semestre de 2018: Diego Alves, Pará, Réver, Léo Duarte e Renê; Cuéllar, Lucas Paquetá, Diego e Everton Ribeiro; Vitinho e Uribe; o técnico primeiro foi Maurício Barbieri e depois Dorival Júnior. 

O time do 1º semestre de 2019: Diego Alves, Pará, Rodrigo Caio, Rhodolfo (Léo Duarte) e Renê; Cuéllar, Willian Arão, Arrascaeta (Diego) e Everton Ribeiro; Bruno Henrique (Vitinho) e Gabriel Barbosa (Uribe); o técnico é Abel Braga.




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