quarta-feira, 30 de maio de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 12/07/92 - Flamengo 3 x 0 Botafogo




Jogos Inesquecíveis: 
12/07/1992 - Flamengo 3 x 0 Botafogo

Foi uma atuação implacável. Um primeiro tempo surpreendente e arrasador. O Botafogo entrava como grande favorito na final do Campeonato Brasileiro de 1992. Em pouco menos de 40 minutos, desmoronou este favoritismo. Com gols de Júnior, Gaúcho e Nélio, o Mengão atropelou os alvi-negros. A torcida foi para casa se dando como campeã. A tarefa ainda foi facilitada com a demissão de Renato Gaúcho, principal jogador do time, pela diretoria do Botafogo. Depois do jogo, ele ofereceu um churrasco a Gaúcho, centroavante do Flamengo, e seu melhor amigo, com a presença de outros ex-companheiros em seus tempos de Flamengo. A dretoria achou intolerável e ele nunca mais vestiu a camisa do Botafogo. No domingo seguinte, o Flamengo abrui 1 a 0 no primeiro tempo, com Júnior, e no início do segundo, ampliou com Júlio César. O Botafogo ainda empatou, com dois pênaltes inventados pelo árbitro. Mengão, Pentacampeão do Brasil!!!!!




Ficha Técnica
12/07/1992 - Flamengo 3 x 0 Botafogo
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 102.547 pagantes)
Gols: Júnior (15'1T), Nélio (34'1T) e Gaúcho (38'1T)
Fla: Gilmar, Fabinho, Wilson Gottardo, Júnior Baiano e Piá; Uidemar, Júnior, Nélio (Paulo Nunes (Marcelinho Carioca)) e Zinho; Júlio César e Gaúcho
Téc: Carlinhos
Botafogo: Ricardo Cruz, Odemilson, Válber, Márcio Santos e Renê Playboy; Carlos Alberto Santos, Pingo e Carlos Alberto Dias; Renato Gaúcho, Pichetti (Vivinho) e Valdeir.
Téc: Gil




A História do Jogo

Mais uma vez o Flamengo chegava a uma final de Campeonato Brasileiro sem ser considerado favorito. O jovem time rubro-negro terminou a 1ª Fase com a 4ª colocação, atrás do líder Vasco da Gama, do vice-líder Botafogo, e do Bragantino. Avançou entre os oito classificados, que foram divididos em dois grupos de quatro, dos quais os vencedores fariam a final. O grupo rubro-negro ainda tinha a Vasco, São Paulo e Santos. Todos os prognósticos apostavam no time vascaíno, com seu poderoso ataque formado por Edmundo e Bebeto, como favorito para avançar. Pois o Flamengo ficou com a vaga.

O Botafogo confirmou o seu favoritismo no outro grupo e se habilitou para decidir o título frente ao time de garotos comandados por Júnior, o Maestro, já então com 38 anos. O time rubro-negro contava com 8 jogadores que tinham conquistado o título da Copa São Paulo de Juniores de 1990, principal competição Sub-20 do futebol brasileiro na época. Entre os titulares naquela tarde, Fabinho, Júnior Baiano, Piá e Nélio participaram da campanha dois anos antes, e entre os que estavam no banco de reservas, Marquinhos, Marcelinho, Djalminha e Paulo Nunes também foram campeões.

Assim, na final, mais uma vez, todo o favoritismo era dado ao adversário. Ainda mais porque o regulamento dava ao Botafogo a vantagem de obter dois resultados iguais para se sagrar campeão brasileiro. A expectativa, no entanto, ruiu por terra em apenas quarenta e cinco minutos, pois com uma atuação de gala, o time rubro-negro colocou um 3 a 0 logo no 1º tempo, naquela tarde de domingo, 12 de julho de 1992, e praticamente sacramentou a conquista do título. No dia seguinte, o Jornal dos Sports abria seu relato do jogo falando: "O Flamengo já deve ter mandado confeccionar as faixas para festejar o quinto título brasileiro. A vitória por 3 a 0 sobre o Botafogo deixou o time rubro-negro em ótima situação para ser campeão". No entanto, algumas páginas mais a frente no mesmo jornal, o título em letras garrafais chamava a atenção no alto da página: "Mengão proíbe comemorações", trazendo palavras de Júnior: "o momento exige aplicação e muito cuidado dentro e fora de campo".

Desde o começo da partida a superioridade em campo do Flamengo ficou nítida. O time rubro-negro atuava desfalcado do lateral-direito titular Charles Guerreira, e entrou em campo deslocando, como sempre fazia, o cabeça de área Fabinho para executar a função pelo lado direito do campo. E para ganhar o meio de campo, o técnico Carlinhos lançou o goiano Júlio César, um meia-atacante que jogava mais fechando o meio de campo do que no ataque, pressionando a defesa adversária. O meio de campo rubro-negro se sobrepovoou, com Uidemar mais recuado, fazendo o "trabalho sujo" na contenção, dando liberdade ao Maestro Júnior para que se movimentasse por trás de uma linha de frente na qual Júlio César, Zinho e Nélio davam o primeiro combate à saída de bola adversária, com constantes inversões de posição pelo lado esquerdo entre Nélio e Zinho. Com esta formação, Carlinhos ganhou o meio de campo, matou a articulação ofensiva do adversário, dominou a troca de passes no setor, e foi construindo gols uns em sequência dos outros. O Botafogo parecia até que estava com menos homens em campo desde a saída de bola. O meio de campo alvi-negro era completamente envolvido pelo rubro-negro.

Aos nove minutos, o time botafoguense ainda conseguiu chegar com perigo, Renato Gaúcho lançou Valdeir em profundida, mas Gilnar conseguiu se antecipar, sair do gol, e fazer a defesa. Um minuto depois, Júnior deu uma sequência de dribles desconcertantes no ponta Renato no meio da intermediária de defesa rubro-negra, incendiando as arquibancadas, que já tinham iniciado a partida animadas, e a partir dali se inflamaram ainda mais. Era o início da festa rubro-negra, pois quatro minutos depois, quando o relógio assinalava quatorze minutos do primeiro tempo, Zinho avançou pelo lado esquerdo de ataque e tocou para o lateral Piá, que passava em velocidade às suas costas, que tocou para o meio, rasteiro, o centroavante Gaúcho fez um conta-luz, a zaga alvi-negra se desorientou, e a bola encontrou os pés de Júnior, que disparou ao gol sem qualquer chance de defesa para Ricardo Cruz: Flamengo 1 a 0!

O Botafogo partiu para pressionar pelo empate, e o time rubro-negro, ainda dono do meio de campo, soube se aproveitar. Aos trinta e três minutos, Fabinho roubou uma bola e fez um lançamento em profundidade para Nélio, o "Marreco", que partiu em velocidade desde antes da linha do meio de campo. O meia, que na campanha do título da Copinha Sub-20 de dois anos antes era o centroavante do time, mostrou seu senso de goleador. Era penetrou em direção à área, perseguido pelos zagueiros do Botafogo, esperou a saída do goleiro, e tocou entre as pernas dele, a bola foi mansa, como se estivesse rolando numa mesa de sinuca, até encontrar a rede do gol: Flamengo 2 a 0!

Com os botafoguenses completamente atordoados, o time rubro-negro aproveitou para mandar o adversário direto à lona: pois quatro minutos depois, numa jogada de almanaque, a bola chegou limpa a Piá na ponta-esquerda, e ele, num dia no qual teve uma atuação majestosa, cruzou com perfeição para a pequena área, na primeira trave; Ricardo Cruz tentou sair e cortar, mas Gaúcho se antecipou e fez aquilo que fazia de melhor, uma testada fulminante para dentro do gol: Flamengo 3 a 0! O Maracanã explodia! Aos 38 minutos do 1º tempo, a fatura já parecia que podia ser dada como liquidada.

O técnico alvi-negro mexeu no intervalo, lançando o rápido Vivinho no lugar de Pichetti, que havia sido o escolhido para substituir o titular Chicão, ausente naquela tarde. Com a rapidez de uma dupla de ataque formada por Vivinho e Valdeir, o Botafogo cresceu no jogo, e passou a ameaçar mais. Mas o time acabou derrubado por seus nervos. O zagueiro Márcio Santos - aquele que dois anos depois seria o titular da Seleção Brasileira na conquista da Copa do Mundo de 1994 - apelou com uma primeira falta dura, para matar uma chance de contra-ataque rubro-negro, e recebeu o cartão amarelo. Alguns minutos depois, aos dezessete minutos, ele fez falta dura em Júlio César na entrada da área, recebeu o segundo cartão amarelo e foi assim automaticamente expulso de campo. Mesmo após este cartão vermelho, no entanto, o Botafogo não diminuiu a intensidade e passou a estar melhor no jogo. Mas criou muito poucas chances de gol efetivamente.

Teve uma grande oportunidade aos vinte e quatro minutos, quando seu camisa 10, Carlos Alberto Dias, recebeu passe perfeito de Valdeir quase sobre a linha da pequena área. Eles estava frente a frente a um Gilmar que quase nada teria o que fazer naquela oportunidade, mas Dias isolou para longe das traves. Dois minutos depois, uma penetração de Valdeir e um chute a gol que, este sim saiu com mais perigo, passando rente à trave. Mas foi só. Administrando o resultado no segundo tempo, o Flamengo construiu uma enorme vantagem para a segunda partida da decisão, na qual poderia perder por até dois gols de diferença que ainda seria o campeão.

Para o segundo jogo, o Flamengo teria a volta de Charles, entretanto perdeu Nélio, com uma entorse no joelho, garantindo a manutenção de Fabinho entre os onze que iriam a campo. Do lado botafoguense, haveria a volta de Chicão, mas por outro lado, a diretoria ficou revoltada com Renato Gaúcho, que no seguinte à vitória neste primeiro jogo, pagou um churrasco ao amigo Gaúcho, com quem havia feito uma aposta, e decidiu expulsá-lo do clube, tendo esta sido a última vez na qual ele vestiu a camisa alvi-negra.






Geralmente, o normal é que um jogo histórico, numa final de campeonato, seja aquele no qual efetivamente é sacramentada a conquista. Porém, naquela final de 1992 não foi assim. O momento mais marcante, guardado para a história, foram os primeiros 45 minutos de jogo. Um momento épico. Com enorme vantagem, no segundo jogo o Flamengo ainda saiu na frente, com um gol de falta de Júnior logo no começo da partida que praticamente liquidava a fatura. No início do segundo tempo, Júlio César ainda ampliou. No fim, o árbitro ainda inventou dois pênaltis para o Botafogo, um convertido e outro desperdiçado, que só serviram para impedir duas vitórias rubro-negras na final. O jogo terminou empatado em 2 a 2, e o título foi rubro-negro. Mengão, Penta-Campeão Brasileiro de Futebol. Era a quinta conquista rubro-negra em treze edições disputadas entre 1980 e 1992, período no qual o São Paulo, com duas conquistas, foi o único outro clube a ter vencido mais de uma vez (Grêmio, Fluminense, Coritiba, Bahia, Vasco e Corinthians faturaram uma vez cada). Um grande encerramento para uma época de ouro da história do Flamengo!






Os primeiros importados no basquete da Gávea

Na América Hispânica, no basquete, o termo usado para jogadores estrangeiros é "importados". O primeiro estrangeiro a vestir a camisa de basquete rubro-negra foi o francês Robert Zagury em 1957 e 1958 (jogou o Campeonato Carioca de 1957, que se encerrou somente em março de 1958). De nacionalidade francesa, ele realmente nasceu em Casablanca, no Marrocos, e foi titular da Seleção da França que jogou o Campeonato Mundial de 1954 no Rio de Janeiro. Envolveu-se num relacionamento amoroso com uma brasileira, que lhe encurtaram os caminhos para que voltasse ao Rio em 1957 para vestir vermelho e preto.  

Na última página (a de nº 12) do Jornal dos Sports, 1º de outubro de 1957, a página onde sempre saíam as notícias do basquete do Rio de Janeiro, estava a manchete "Francês no Flamengo: Bob Zagury transferiu-se do Paris Universite Club" estando assim narrado: "Robert Zagury com 27 anos de idade e natural de Paris (...) já deu entrada na FMB (Federação Metropolitana de Basketball) a favor do Hexacampeão (Carioca) (...) segundo opinião de quem já o viu atuar, o novo elemento rubro-negro tem qualidades para brilhar".

Narrava a edição do Jornal dos Sports de 27 de outubro sob o título "Com uma vitória do Flamengo, o reinício do certame, apenas um jogo completando a sexta rodada do turno": "derrotado o Tijuca por 75 x 47, com a estréia do scratchman francês Robert Zagury", após 35-19 no 1º tempo, estando assim descrita a pontuação rubro-negra no jogo: Algodão (10), Otto (29), Willi (12), Godinho (10), Wálter (2), Fernando (6), Alfredo (0), Roberto (6) e Zeca (0).

Em 15 de março de 1958, estava na página 12 do Jornal dos Sports: "Vitória de Campeão a do Flamengo, a brilhante campanha dos basketballers rubro-negros, consagrando-se como Heptacampeões da cidade; o Vasco da Gama não conseguiu evitar a derrota pelo marcador de 83 x 66 (...) estiveram em noite inspirada, principalmente o gigantesco pivot Otto. Também Algodão, Fernando e Willy repetiram as suas destacadas e habituais performances, bem coadjuvadas por Coqueiro, Godinho, o francês Zagury, Válter e Zeca".

Para fechar, o Jornal dos Sports narrava que dos 17 jogadores que atuaram, somente 9 vão ser considerados campeões pela FMB, por terem participado de pelo menos a metade dos jogos da campanha: Otto, Algodão, Godinho, Zé Coqueiro, Willi, Wálter, Fernando, Zeca e Alfredo. Zagury atuou em apenas 4 partidas, não entrando na lista de campeões oficiais considerada pela Federação Metropolitana.

O investimento mais agressivo nos "importados", no entanto, só aconteceu depois que o Flamengo viveu seu maior jejum de títulos em sua história no basquete carioca, ao ficar sem ser campeão entre 1964 e 1975, a série mais longa da história do clube sem títulos nesta modalidade. No início dos Anos 1970, o Flamengo tentou pela primeira vez importar norte-americanos.

Abaixo, um registro fotográfico da passagem dos primeiros americanos pela Gávea. Na foto abaixo, de 1974, aparecem o supervisor Kanela, o técnico Marcelo Cocada, e os norte-americanos, com seus cabelos “black powers”, estão de pé ao lado deles. Da esquerda para a direita: George Thompson é o primeiro, com a camisa 8, depois com a camisa 11 está Erick McWilliams, e com o camisa 9 está James Lee.


São muito raros os registros da passagem destes estrangeiros. Paulo Murilo, em artigo publicado em 14 de setembro de 2004 em seu blog “Basquete Brasil”, sob o título “Vícios de nosso cotidiano", narra uma interessantíssima história desta experiência. Ele, Paulo Murilo, era então técnico do time juvenil do Flamengo. Eis a história: "Quando treinava a grande equipe juvenil do Flamengo de 1965, com Peixotinho, Gabriel, Pedrinho, Robertinho, todos com passagem posterior pela Seleção Brasileira, o grande Togo Renan Soares, Kanela, fazia questão que após o treino de sua categoria participassem também do treino da primeira divisão, preparando-os para assumirem a equipe no futuro. Nesta equipe havia dois norte-americanos, que pouco ou nada entendiam do português. Num destes treinos comandado pelo assistente do velho Togo, eu me deparei, vindo do vestiário, com a seguinte cena: pedia-se ao Pedrinho ou ao Peixotinho que comandasse as jogadas com ordens em inglês para o entendimento dos norte-americanos. Intervi de imediato, já que eram jogadores da minha equipe, e fiz ver a todos que o correto era que eles, os norte-americanos, procurassem entender o nosso idioma pois estavam participando de uma equipe brasileira. Após um breve mal-entendido com o assistente, eis que um dos norte-americanos se aproximou e disse arrastando nossa lingua: ‘Coach, o senhor ter razão!’, e nada mais foi discutido".

Já havia sido feita uma tentativa no Flamengo com norte-americanos em 1973, no mesmo ano no qual, no primeiro semestre, durante a Taça Brasil que acabou sendo conquistada pelo Vila Nova, houve uma enorme polêmica com a utilização de estrangeiros pelo time do Palmeiras, que contou nesta competição com dois norte-americanos e dois argentinos, para protestos generalizados dos adversários.

A moda chegou rápido à Gávea. Ainda em 1973 o Flamengo aderiu a ela. Naquela temporada, o clube tentava quebrar seu jejum de títulos, e queria se reforçar depois de ter perdido a Gabriel, que era o principal nome do basquete rubro-negro em fins dos Anos 1960 e começo dos Anos 1970. Foi contratado para ser o principal nome do time a Fioravante, um dos destaques da equipe então campeã carioca e hegemônica no basquete do Rio de Janeiro, o Fluminense. Adicionalmente, contratou também ao norte-americano Charles Bush. Ambos chegavam para rechear um time que tinha a Pedrinho Ferrer, Montenegro e Érico. Ainda assim, mais uma vez o título escapou, seguindo de novo para as Laranjeiras.

Em 1974, a aposta foi ainda mais ousada, com a contratação de três norte-americanos de uma vez, os já citados Thompson, Lee e McWilliams. A Confederação Brasileira de Desportos decidiu então intervir e definir que cada equipe não poderia ter mais do que um jogador estrangeiro. Com isso, decidiu-se que apnas Thompson continuaria na Gávea, tendo Erick McWilliams regressado aos EUA, e James Lee ido defender às cores da camisa do clube Mackenzie, do Méier, com quem disputou o Campeonato Carioca. Já George Thmpson seguiu por alguns anos na Gávea, onde permaneu até o fim de 1978, tendo seguido carreira então no Clube Municipal, da Tijuca, ao qual defendeu no Carioca de 1979. Thompson foi um dos destaques do time rubro-negro quando o Flamengo consegiu voltar a levantar um troféu, no Carioca de 1975, dando fim a seu jejum de títulos.


No Carioca de 75, o Flamengo venceu os dois turnos, conquistando automaticamente o título do Carioca. Em ambos os turnos venceu ao Vasco nas partidas decisivas disputadas no Maracanãzinho. No 1º turno, com uma vitória por 84 x 81, e no 2º turno superando ao Vasco por 74 x 66. Depois de 11 anos, o Flamengo era novamente o Campeão Carioca de Basquete diante de um público de 2.482 pagantes no ginásio, que viram Sérgio Maracarrão, com 18 pontos, e Thompson, com 17 tentos, lideraram a conquista em quadra. Dois anos depois, o time rubro-negro voltaria a se sagrar campeão sobre o Vasco, desta vez com uma vitória por 78 x 68 no Maracanãzinho, mas sem que o norte-americano ainda tiesse energia para estar entre os líderes da pontuação rubro-negra (ainda que tenha marcado 11 pontos nesta noite decisiva).


1975 - Campeão Carioca
Time: Peixotinho, Pedrinho Ferrer, George Thompson, Rogério e Sérgio Macarrão
Téc: Tude Sobrinho
Banco: Alberto BialJorge Maravilha


1977 - Campeão Carioca
Time: Peixotinho, Zezé, George Thompson, Charuto e Paulão Abdalla
Téc: Waldyr Boccardo
Banco: MárvioPedrinho Ferrer e Rogério


O processo de contar com jogadores norte-americanos ou de outras nacionalidades era ainda incipiente no Brasil; a nível nacional mesmo as experiências com importados ainda eram pontuais. O primeiro estrangeiro a se sagrar campeão nacional foi o norte-americano Albert de Witt, com o time do Palmeiras em 1977, exatamente em cima do Flamengo. Nos campeonatos seguintes, quando o Sírio sagrou-se bi-campeão brasileiro em 1978 e 79, sua equipe também tinha importados, a dupla Larry Dyal e Mike Daugherty. Daí para frente a quantidade de estrangeiros cresceu. E a porta se abriu não só para jogadores vindos dos Estados Unidos. Nos anos 80, jogaram por equipes brasileiras os argentinos Germán Filloy (por Sirio e Flamengo), Camissasa (pelo Corinthians), Aguirre (pelo Palmeiras) e Luis González (por Franca), além do panamenho Mario Butler, que jogou no Corinthians.

Embora não tenha dado certo na largada, a história do basquete rubro-negro foi recheada de talentos estrangeiros. Entre os muitos que passaram sob o manto vermelho e preto, os nomes que mais se destacaram foram os argentinos Germán Filloy, Federico Kammerichs, Nico Laprovittola e Franco Balbi, os dominicanos Héctor Muñoz e Victor Chacón; os norte-americanos Rocky Smith, John Flowers, Morgan Taylor, Alvin Fredericks, Brent Merrit, Leon Jones, Marc Brown, Ken Redfield, Askia Jones, Steve Worthy, Kendrick Warren, Robyn Davis e David Jackson; o canadense Greg Newton e o cubano Amiel Vega".


História do Flamengo na Taça Libertadores


A Trajetória Multi Campeã das Américas







Cada uma das Participações do Flamengo na Copa Libertadores





domingo, 27 de maio de 2012

2011-12: outro time que não ganhou

A temporada 2011-2012 foi mais uma na qual o Flamengo montou uma grande equipe, com expectativa de brigar por todos os títulos da temporada, mas terminou com planos frustrados.

Porém, diferentemente de outras oportunidades no passado, em que situações assim se deram com um projeto isolado e que durou uma temporada apenas, como ocorreu em 1984 e em 1988-89, dessa vez desta vez este foi um capítulo dentro de uma sequência de cinco temporadas que representa o melhor momento histórico do basquete da Gávea a nível nacional. Foi o 5º campeonato consecutivo no qual o Flamengo esteve presente na semi-final. Este desempenho coloca o basquete rubro-negro entre os cinco maiores projetos da história da Liga Nacional de Basquete, que começou a ser disputada em 1990: recordes de semi-final consecutivas: Franca 1990-2001 (6 vezes campeão, 1 vice e 5 vezes semi-finalista), Brasília 2007-2012 (incríveis 6 finais consecutivas), Rio Claro 1991-1996 (2 vezes campeão e 4 semi-finalista), Vasco 1998-2002 (2 vezes campeão, 1 vice e 2 vezes semi-finalista) e Flamengo 2008-2012 (2 vezes campeão, 1 vice e 2 vezes semi-finalista).

Nunca na história rubro-negra na modalidade, houve uma série tão longa e bem sucedida na elite nacional deste esporte. Vice-campeão da Taça Brasil em 1977 e em 1984. Em Liga Nacional: 6º lugar em 1990, não disputou as edições de 1991 a 1994, foi 12º lugar em 1995, 5º em 1996, 6º em 1997, 8º em 1998, 5º em 1999, Vice-campeão em 2000, 6º lugar em 2001, 8º em 2002 e 7º em 2003, mais um Vice-campeonato em 2004, não disputou em 2005, foi 11º lugar em 2006 e 7º em 2007. Daí para frente: Bi-campeão em 2008 e 2009, Vice-Campeão em 2009/10, 4º lugar em 2010/11 e em 2011/12.

A campanha em 2011-12 foi ligeiramente melhor que a da temporada 2010-11. Na temporada passada foram 20 vitórias e 8 derrotas na primeira fase, um 3 x 1 nas quartas e derrota por 3 x 0 para Franca na semi-final. 23 vitórias e 12 derrotas no total. Nesta temporada, foram 21 vitórias e 7 derrotas na primeira fase, um 3 x 2 nas quartas e derrota por 3 x 2 para São José na semi-final. 26 vitórias e 12 derrotas no total.

O time tinha a estrutura base que venceu o Bi-Brasileiro em 2008 e 2009: Marcelinho Machado, Duda Machado, Hélio, Fred e Wágner. Fred jogou a 6ª temporada seguida pelo clube, e os demais a 5ª consecutiva. A este grupo se somaram uma estrutura com três estrageiros: Federico Kammerichs, David Jackson e Christopher Hayes, e um pivô de nível de Seleção Brasileira: Caio Torres. Uma fórmula aparentemente impecável. Mas o treinador argentino Gonzalo Garcia não conseguiu dar um padrão de jogo suficiente para fazer o time brigar pelo título. A colocação final foi justa, com os quatro semi-finalistas de altíssimo nível; além de Flamengo, o Brasília de Alex Garcia, Guilherme Giovannoni e Nezinho, o Pinheiros de Marquinhos, Shamell, Juan Pablo Figueroa e Olivinha, e o São José de Murilo Becker, Fulvio e Andre Laws (além do ex-rubro-negro Jefferson, descartado por Gonzalo Garcia após o fim da temporada passada).


ELENCO 2011-2012 e suas respectivas carreiras:

HÉLIO: 1999 Tijuca (RJ); 2000-02 Uberlândia (MG); 2002-04 Londrina (PR); 2004-05 Paulistano; 2005-07 Uberlândia (MG); e 2007-12 Flamengo.
DAVID JACKSON: 2001-05 Pennsylvania State University (EUA); 2005-06 Caciques de Humacao (Porto Rico); 2006-07 Guaiqueries de Margarita (VEN); 2007-08 Defensor Sporting (URU); 2008-09 Peñarol de Mar del Plata (ARG); 2009-11 La Unión de Formosa (ARG); e 2011-12 Flamengo.
MARCELINHO: 1996-1997 Fluminense; 1997 Ginástico (MG); 1998 Tijuca Tênis Clube; 1998-2001 Botafogo; 2001 Fluminense; 2002 Corínthians (RS); 2002-03 Rimini (Itália); 2003-04 Lobos Cantabria (Espanha); 2004-05 Telemar (RJ); 2005-06 Uberlândia (MG); 2006-07 Zalgiris Kaunas (Lituânia); e 2007-12 Flamengo.
KAMMERICHS: 1998-01 Ferro Carril (ARG); 2001-02 Ourense (ESP); 2002-05 Valencia (ESP); 2005-06 Girona (ESP); 2006-07 San Sebastián Gipuzkoa (ESP); 2007-08 Murcia (ESP); 2008-11 Regatas Corrientes (ARG); e 2011-12 Flamengo. Medalha de Bronze com a Argentina nos Jogos Olímpicos de 2008.
CAIO TORRES: 2002-04 Pinheiros (SP); 2005 Paulistano (SP); 2005-08 Estudiantes (ESP); 2008-09 Melilla (ESP); 2009-11 Vive Menorca (ESP); e 2011-12 Flamengo.

Suplentes
FRED: 2002-03 Botafogo; 2003-04 Minas (MG); 2004-05 Liga Macaense (RJ); 2005-06 Rio Claro (SP); 2006-12 Flamengo
DUDA: 2000-02 Fluminense; 2002-03 Londrina (PR); 2003-04 Flamengo; 2004-05 Winner Limeira (SP); 2005-07 Universo Brasília (DF); e 2007-12 Flamengo
TEICHMANN: 1999-2000 Corinthians (RS); 2001 Vasco; 2002 South Plains College (EUA); 2003-05 Tulsa University (EUA); 2005-06 Universo Ajax (GO); 2006-09 Winner Limeira (SP); e 2009-12 Flamengo.
WÁGNER: 2000 Jequiá (RJ); 2001-02 Vasco; 2002-03 Tijuca (RJ); 2003-04 Universo Ajax (GO); 2004-05 Telemar (RJ); 2005-07 Uberlândia (MG); 2007-12 Flamengo.
ÁTILA: 2002 Bahia (BA); 2003 Liga Macaense (RJ); 2003-06 Northern Iowa University (EUA); 2006-08 Minnesota State University (EUA); 2008-09 Cherno (Bulgária); 2009 Tenerife (ESP); 2010 Bakersfield Jam (EUA); 2010-12 Flamengo.

Maiores Jogos da História do Flamengo: 08/07/01 - Flamengo 5 x 3 São Paulo




Jogos Inesquecíveis: 
08/07/2001 - Flamengo 5 x 3 São Paulo

Depois de faturar o Campeonato Carioca, com Edilson e Petkovic sendo decisivos na terceira vitória consecutiva, em finais, sobre o Vasco, o Flamengo venceu a Copa dos Campeões Regionais, torneio seletivo para a Libertadores da América, batendo na final o fortíssimo time do São Paulo, que tinha o goleiro Rogério Ceni e uma linha de frente com Kaká, Luís Fabiano e França. O time do Mengo também era forte, tinha Juan e Gamarra formando a dupla de zaga, "Pet" na armação, e Reinaldo e Edilson no ataque; equipe comandada por Zagallo. O Mengão venceu por 5 a 3 o primeiro jogo da final, em João Pessoa, na Paraíba, e perdeu o segundo por 3 a 2 em Maceió, Alagoas.



Ficha Técnica
08/07/2001 - Flamengo 5 x 3 São Paulo
Local: Estádio Almeidão, João Pessoa, Paraíba (Público: 38.000 pagantes (estimado))
Gols: Edílson (14'1T), Luís Fabiano (16'1T), Reinaldo (25'1T), Beto (36'1T), Edílson (12'2T), Rogério Pinheiro (14'2T), Luís Fabiano (25'2T) e Rogério Pinheiro (contra, 34'2T)
Fla: Júlio César, Alessandro, Juan, Gamarra e Cássio; Jorginho, Rocha, Beto e Petkovic (Maurinho); Reinaldo (Fábio Augusto) e Edílson.
Téc: Mário Jorge Lobo Zagallo
São Paulo: Rogério Ceni, Belletti, Rogério Pinheiro, Jean e Gustavo Nery; Alexandre (Carlos Miguel), Douglas, Fábio Simplício e Souza (Kaká (Júlio Batista)); França e Luís Fabiano.
Téc: Nelsinho Baptista




A História do Jogo

Em 2001 foi realizada a Copa do Campeões, um torneio classificatório para a Copa Libertadores de 2002. O torneio reuniu o campeão paulista (Corinthians) o campeão carioca (Flamengo), o campeão do Torneio Rio-São Paulo (São Paulo), o campeão e o vice da Copa do Nordeste (Bahia e Sport Recife, respectivamente), o campeão e o vice da Copa Sul-Minas (Cruzeiro e Coritiba, respectivamente), o campeão da Copa Centro-Oeste (Goiás) e o campeão da Copa Norte (São Raimundo, de Manaus).

A competição teve uma fase preliminar, na qual Goiás, Sport e São Raimundo se enfrentaram na luta por duas vagas nas quartas de final, tendo os goianos sido eliminados. Nas quartas de final, Flamengo, Cruzeiro, São Paulo e Coritiba eliminaram, respectivamente, a Bahia, São Raimundo, Sport e Corinthians. Na semi-final, o Flamengo passou pelo Cruzeiro, e o São Paulo pelo Coritiba. Assim, rubro-negros e tricolores chegaram à final, cujo campeão se classificaria à Libertadores.

A decisão foi em dois jogos, o primeiro em João Pessoa e o segundo em Maceió. O Flamengo estava embalado pela conquista semanas antes do Campeonato Carioca, quando o gol de falta de Petkovic aos 43 minutos do 2º tempo selou o título rubro-negro. Mas o favorito ao título para todos, torcedores e mídia, era sem dúvida alguma o São Paulo, de Kaká, Júlio Baptista, França e Luís Fabiano, jogadores que eram presença constante na Seleção Brasileira naquele momento.

E a primeira partida da final foi um duelo épico. Um baita jogo de futebol! Logo aos quatorze minutos do primeiro tempo, o zagueiro paraguaio Carlos Gamarra lançou Reinaldo pela ponta, ele avançou e cruzou para Edílson, o Capetinha, empurrar para dentro do gol, abrindo o placar. A euforia rubro-negra durou pouco. Logo a seguir, o lateral-esquerdo Gustavo Nery fez bela jogada e tocou para o centroavante Luís Fabiano, que completou com perfeição e empatou.

O desempate rubro-negro, no entanto, não tardou. Aos vinte e cinco minutos, em uma jogada muito bem trabalhada pelo ataque rubro-negro, Petkovic cobrou falta pela esquerda, Gamarra escorou de cabeça para Edílson, que tentou fazer de bicicleta e, sem querer, colocou a bola na cabeça de Reinaldo, e o jovem atacante flamenguista não desperdiçou: 2 a 1 no placar.

Aos trinta e seis minutos, Reinaldo mais uma vez marcou presença no ataque, enfiando uma bola na medida para o meia Beto que, da entrada da área, deu um tapa no canto, longe do alcance do goleiro sãopaulino Rogério Ceni: 3 a 1.

Surpreso com a superioridade do Flamengo na primeira etapa, o treinador tricolor Nelsinho Baptista promoveu duas mudanças no intervalo, lançando o novato Kaká, grande sensação do futebol brasileiro naquele momento, no lugar de Souza, e colocando Carlos Miguel no lugar de Alexandre. As duas mudanças tinham um objetivo claro, pois os dois que entraram eram clássicos meias de armação. O técnico paulista visava passar a ter o controle do meio de campo, insatisfeito pelo domínio que Pet e Beto tiveram do setor no primeiro tempo.

Mas além do bom futebol apresentado naquela noite, a sorte estava do lado do Flamengo: aos doze minutos, Jean tentou cortar e chutou a bola em cima de Edílson, pegando Rogério Ceni de surpresa. Após a conclusão "sem querer", a bola entrou vagarosamente no gol e a vitória virou goleada: Flamengo 4 a 1!

A torcida rubro-negra do Nordeste gritava "olé", em plena euforia, quando o São Paulo resolveu mostrar que não iria se entregar facilmente. Dois minutos após o quarto gol rubro-negro, bola levantada na área em cobrança de escanteio e o zagueiro Rogério Pinheiro meteu a testa na bola. longe do alcance de Júlio César: 4 a 2.

O meia Carlos Miguel, carrasco rubro-negro na final da Copa do Brasil de 1997, quando fez o gol que deu o título ao Grêmio em pleno Maracanã, perdeu duas chances incríveis frente a frente a Júlio César. Desde o segundo gol tricolor, passaram-se mais doze minutos e a alegria rubro-negra nas arquibancadas virou apreensão. Aos vinte e seis minutos, mais uma vez em uma cobrança de escanteio com a bola alçada na área rubro-negra, Luís Fabiano meteu a cabeça na bola e marcou o terceiro. A goleada havia se transformado em drama.

E quando a reação tricolor parecia iminente, ainda mais pela superioridade técnica daquele time do São Paulo sobre aquele time do Flamengo, a sorte sorriu novamente para o lado rubro-negro. Tudo levava a crer, naquele momento do jogo, que era questão de tempo para que o São Paulo conseguisse o empate. Entretanto, aos trinta e quatro minutos, Edílson fez uma linda jogada pelo lado direito de ataque, dando um drible desconcertante em seu marcador e chutando cruzado. A bola iria sair pela linha de fundo mas, no meio do caminho, bateu no zagueiro Rogério Pinheiro e entrou, sem qualquer possibilidade de reação do goleiro tricolor. O gol sacramentou em definitivo a vitória! Um jogo sensacional, com o Flamengo vencendo por 5 a 3 e derrubando o favorito São Paulo. Mais uma vitória épica para a galeria rubro-negra, daquelas que quando não é possível na técnica e no futebol bonito, são obtidas com garra e com força de vontade. E neste caso também - por que não? - em muita sorte.

No segundo jogo da final da Copa dos Campeões, o Flamengo entrou com dois gols de vantagem por conta de sua vitória neste jogaço na Paraíba. O segundo duelo foi no Estádio Rei Pelé, em Maceió. Os sãopaulinos saíram na frente, com gol de Kaká, o Flamengo virou, com gols do zagueiro Juan e do meia sérvio Dejan Petkovic. Sete minutos após a virada, pênalti para o São Paulo, que França converteu, deixando o jogo novamente empatado, a vinte e cinco minutos do fim do jogo. O tricolor paulista pressionou muito, e conseguiu o gol da virada aos 43 minutos do 2º tempo. Nos minutos finais pressionou ainda mais, mas o placar não mudou mais. Apesar da vitória do São Paulo por 3 a 2, o título e a vaga na Libertadores de 2002 ficou com o Flamengo.




quarta-feira, 23 de maio de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 16/02/86 - Flamengo 4 x 1 Fluminense




Jogos Inesquecíveis: 
16/02/1986 - Flamengo 4 x 1 Fluminense

"Zico sentiu falta do Rio de Janeiro e decidiu, aos 32 anos, voltar para sua terra natal. Reestreou pelo Flamengo num amistoso festivo contra um time de Amigos de Zico. Depois disputou uma série de amistosos preparatórios para o Campeonato Carioca. Quisera aquele campeonato não houvesse começado. Depois de uma estreia goleando por 5 a 0 o Bonsucesso, veio a fatídica segunda rodada, quando o Flamengo empatou por 0 a 0 com o Bangu no Maracanã, partida na qual uma entrada desleal do lateral direito Márcio Nunes acertou com os dois pés o joelho esquerdo de Zico, provocando o rompimento dos ligamentos cruzados.

O time nesta partida; de pé, da esquerda para a direita: Leandro,
Cantareli, Mozer, Andrade, Jorginho e Adalberto; agachados: Bebeto,
Sócrates, Chiquinho, Zico e Adílio.


O maior jogador da história do Flamengo teve que se submeter a diversas operações e não voltou mais a jogar em 1985. Voltou na abertura do Carioca de 1986, e brilhando. O Flamengo venceu o Fluminense por 4 a 1, com três gols de Zico e um de Bebeto. Esse jogo encheu a torcida rubro-negra de esperança, mas, poucos jogos depois, o Galinho voltou a sentir a contusão e a ficar parado". (A NAÇÃO, pg. 145)



Ficha Técnica
16/02/1986 - Flamengo 4 x 1 Fluminense
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 84.303 pagantes)
Gols: Zico (10'1T), Leomir (43'1T), Zico (27'2T), Bebeto (30'2T) e Zico (34'2T)
Fla: Cantareli, Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Sócrates e Zico; Bebeto, Chiquinho e Adílio.
Téc: Sebastião Lazaroni
Flu: Paulo Vítor, Alexandre Torres (Renato Martins), Vica, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Leomir e Renê Weber; Romerito, Gallo (Édson) e Tato.
Téc: Nelsinho Rosa



A História do Jogo

Em 1985, Zico retornou ao Flamengo após duas temporadas na Udinese, da Itália. Após uma enorme expectativa pelo retorno do ídolo, uma entrada criminosa do lateral-direito do Bangu, Márcio Nunes, numa partida válida pelo Estadual de 85, quebrou-lhe a perna e gerou sérias consequências no joelho, que lhe forçaram a passar por sequenciais cirurgias para reparação dos ligamentos. O atentado carniceiro provocou nada menos que cinco lesões, entre as quais o rompimento do ligamento cruzado do joelho esquerdo.

Após meses afastado - quatro meses e meio para ser mais exato - a expectativa para o retorno do Galinho era enorme. E a festa foi marcada para a 1ª Rodada do Campeonato Carioca de 86. A expectativa ainda era maior porque a diretoria havia contratado Sócrates, e todos esperavam que os dois jogadores da Seleção Brasileira formassem um dos maiores meios de campo do país. E naquela tarde de domingo no Maracanã lá estavam os dois juntos. E nas arquibancadas a torcida rubro-negra, em êxtase, fazia mais uma vez a sua festa.

Porém, quando o camisa 10 da Gávea pisou no gramado do estádio naquele extremamente ensolarado domingo, a torcida adversária se julgou no direito de espezinhá-lo, de diminuí-lo, de decretá-lo acabado. Do lado direito das cabines de rádio, onde a torcida tricolor se aboletara, partia o grito: "Bichado! Bichado!". Há jogadores cuja personalidade, combinada obviamente a uma diferenciada qualidade técnica, não permitem que seja recomendável a provocação. Mas a dúvida era de todos. Como seu jogo estaria, do ponto de vista técnico, depois da operação?

Aquela tarde de 16 de fevereiro de 1986 era o dia seguinte à convocação do grupo de 29 jogadores escolhidos por Telê Santana para a preparação visando à Copa do Mundo a ser disputada no México. Em campo no Maracanã, seis selecionados: Leandro, Mozer, Sócrates – que fazia naquele dia a sua estreia oficial como rubro-negro – e Zico pelo lado do Flamengo; além do goleiro Paulo Vitor e do lateral Branco pelo lado do Fluminense.

Havia ainda aqueles que eram cotados, mas que acabaram ficando de fora da lista final, e tinham no clássico uma vitrine para tentarem uma última cartada, aproveitando-se de um ou outro corte que pudesse vir a acontecer. Eram os casos dos rubro-negros Andrade, Adílio e Bebeto, e dos tricolores Ricardo Gomes, Jandir e Tato. Por fim, o Fluminense também contava com Romerito, nome certo da Seleção do Paraguai naquela Copa do Mundo.

O primeiro a entrar em campo foi o Fluminense, então tri-campeão carioca, e desfalcado naquela tarde do meia Delei e do centroavante Washington. Em seguida entrou o Flamengo, com o camisa 10 puxando a fila na subida do túnel, sob os gritos tricolores de "Bichado! Bichado!". Bola rolando, e em sua primeira participação, o Galinho de Quintino ajudou Bebeto a desarmar Romerito no rebote de uma cobrança de falta e ligou um bom contra-ataque com Sócrates. O jogo em campo era muito bem jogado, e diga-se de passagem, de lado a lado. Era uma excepcional partida de futebol, e os primeiros minutos já mostravam isto.

O cronômetro se aproximava dos onze minutos quando Zico deu um bom passe para Bebeto, e foi derrubado. A jogada ia seguindo, mas o árbitro Luís Carlos Félix preferiu ignorar a lei da vantagem, voltar e marcar a infração no Galinho um pouco mais para trás, o que irritou a torcida rubro-negra. Zico então cobrou a falta rasteira, tabelou com Adílio, recebeu de volta, contornou a marcação e passou para Bebeto na entrada da área. O jovem Alexandre Torres, filho de Carlos Alberto Torres, improvisado naquela tarde como lateral-direito e que era estreante com a camisa tricolor, fez o corte por baixo, mas a bola sobrou para Adílio na esquerda, que cruzou a meia altura para o mergulho de Zico, num peixinho sensacional. Gol! Era seu 15º gol num Fla-Flu e o 698º da carreira. Imediatamente os gritos de "bichado" silenciaram no Maracanã.


O Flu reiniciou o jogo, e Zico mostrou o quanto estava com vontade de jogo. Primeiro fez um desarme na lateral, quando Alexandre Torres desceu pela direita, logo depois ganhou uma dividida forte no "pé de ferro" com o duro volante tricolor Jandir, e minutos depois faz um grande lançamento para Jorginho na direita, com o lateral cruzando e o centroavante Chiquinho furando. Zico parecia estar em todas as partes do campo.

Aos dezenove minutos, Zico acertou o bico do travessão de Paulo Vitor em sensacional cobrança de falta. Zico sobressaía e não errava um lance sequer. Sócrates, também se recuperando de uma fratura na tíbia esquerda, teve atuação mais discreta, mas orientava os mais jovens e jogava mais recuado, quase como um volante ao lado de Andrade. Já o camisa 10 da Gávea era visto dando combate, armando, desarmando, lançando, tabelando. Uma atuação impecável que ia se desenhando.

Na segunda metade da etapa inicial, o jogo esfriou um pouco e o Fluminense ameaçou em cabeçada forte de Ricardo Gomes, espalmada por Cantareli, em lance de muito reflexo. Zico respondeu aos trinta e dois, servindo Chiquinho na entrada da área com uma bola passada pelo buraco da agulha em meio às pernas tricolores, mas o centroavante não deu sequência. O Flamengo era melhor e tinha mais controle no meio-campo, mas sofreu o empate aos quarenta e quatro. Romerito escapou pela esquerda da área e foi travado com um carrinho por Andrade. O árbitro apitou pênalti, que Leomir bateu à meia altura, no canto esquerdo, deixando tudo igual. Os tricolores foram comemorar perto da bandeirinha de escanteio com gestos e acenos de adeus para a torcida rubro-negra.

Logo aos três minutos, Adílio passou para Bebeto na linha da pequena área, mas, desequilibrado, o camisa 7 perdeu a claríssima chance do gol de desempate. Aos seis, após uma boa troca de passes, Zico mandou um chute venenoso, encaixado pelo arqueiro tricolor. Aos nove, o Galinho girou sobre Vica na área e deu um passe genial de calcanhar entre as pernas do zagueiro tricolor para Adalberto, que bateu forte, mas Paulo Vitor espalmou. O time rubro-negro dominava amplamente. Aos vinte minutos, Adílio lançou por elevação para Sócrates na área, a zaga tricolor cortou, e a bola sobrou para Bebeto, que bateu forte e rasteiro, de primeira, com Branco salvando quase em cima da linha. O Flamengo encurrala o Fluminense, todo recuado em seu próprio campo, e o segundo gol parecia ser uma questão de tempo.

De tanto pressionar, veio a catarse: aos vinte e seis minutos, Andrade avançou em velocidade e a um passo da linha da área - a torcida chegou a pedir pênalti - foi parado com falta. Zico se apresentou e a torcida rubro-negra prendeu a respiração. Lá vai o craque, lá vai a bola alçando voo, flutuando sobre toda a superpovoada grande área, tal qual um satélite na órbita terrestre, até decair, bem ao se aproximar das traves do estático Paulo Vitor, que só pôde acompanhar com os olhos, num santo golpe de vista. Redes estufadas, bola na gaveta! Era o 16º gol de Zico num Fla-Flu, e o de número 699 na carreira.



Depois do golaço, magistral e histórico, o time rubro-negro partiu avassalador, e o Fluminense, atordoado, sentia os golpes. Era fim de tarde, já começo de noite. Zico recebeu uma boa bola de Adalberto, girou e gingou na frente de Vica, batendo forte para o arqueiro tricolor espalmar. Aos vinte e nove, Chiquinho roubou a bola quase na linha do meio-campo, entregou para Sócrates e recebeu de volta um belo passe em profundidade pela ponta direita, puxando a marcação. Abriu-se um buraco na defesa do Fluminense e o ataque rubro-negro aproveitou. O relógio chegava aos trinta, quando Chiquinho serviu a Bebeto, que apareceu como um raio, não se intimidando com a presença de Vica. Ele encheu o pé, num tiro cruzado: 3 a 1! A torcida rubro-negra explodia no Maracanã!

Atônito, o Fluminense começou a bater, revezando-se nas faltas. Vica entrou para rachar em Chiquinho. Zico relataria uma conversa que teve com Romerito naquele momento, com a bola parada: "Ele começou a mandar o seu time bater. Cheguei perto dele e pedi para que não fizesse isso. Ele me respondeu que também me quebraria". Aos jornalistas, o paraguaio contemporizou: "Apenas pedi a meus companheiros para chegarem junto".

Quatro minutos após o terceiro gol, Bebeto apanhou a sobra de uma dividida entre Branco e Jorginho, avançou em velocidade, deixou Vica para trás outra vez, e levou um trança-pé do zagueiro dentro da área, perto da linha de fundo: pênalti! E lá ia Zico mais uma vez. Era goleada: 4 a 1 Flamengo. Gol de número 17 de Zico no clássico. E o 700 da carreira.

Com o placar definido, o Galinho ainda tirou outras cartas da manga: num ataque tricolor, afastou o perigo da boca da área rubro-negra com uma bicicleta, que ligou um contra-ataque no qual quase saiu o quinto. Um minuto depois, na meia esquerda, desarmou o ponteiro Édson, avançou e passou para Bebeto, que fez o corta-luz para Chiquinho soltar uma bomba rasteira, dando mais uma vez trabalho ao arqueiro tricolor. Esmerilhando, o Flamengo tocava a bola, dava "olé" e gastava o tempo. Até o árbitro encerrar a festa.

Trancado no vestiário após o jogo, Zico se lembrou de tudo que enfrentara até aquele retorno e chorou. Foram dez minutos de desabafo de um atleta que derrotou na raça e no talento as desconfianças e os limites do próprio corpo. De um craque que nunca mais perderia para o Fluminense até o fim da carreira no Flamengo – encerrada, aliás, com mais uma goleada sobre os tricolores, 5 a 0 em Juiz de Fora, em dezembro de 1989, depois de outra vitória elástica, 4 a 0, em abril daquele ano. De um ídolo que ainda daria muitas alegrias ao povo rubro-negro, entre elas a campanha memorável na reta final da Copa União no ano seguinte. E de um gênio que acabava de presentear seu público com uma das maiores atuações individuais que o gigante Maracanã havia visto.




segunda-feira, 21 de maio de 2012

Uma Breve História da Política do Flamengo

Entender a política do Flamengo não é nada simples. Por ser o clube mais popular, há diversos atores no cenário político com as mais diversas origens. Ao mesmo tempo, e isto é importante ser ponderado para quem não é do Rio de Janeiro e não conhece a cidade, a sede do clube está localizada na interseção de 4 bairros de mais alta concentração de renda da cidade: Leblon, Lagoa, Gávea e Jardim Botânico. E essa "posição estratégica" será atriz preponderante na história do clube.

A história moderna da política do Flamengo começa com José Bastos Padilha, que foi presidente do clube de 1933 a 1938. Ele foi um revolucionário, que modernizou o clube no momento de transição da Era Amadora para o Profissionalismo no futebol brasileiro. Ele foi ainda o responsável por levar o clube do bairro do Flamengo para o da Gávea. Era um cara a frente de sua época. Ele é o avô de José Padilha, que ficou nacionalmente conhecido no Século XXI como diretor dos filmes Tropa de Elite e Tropa de Elite 2.

Após a Gestão Padilha, na década de 1940, os nomes mais fortes da política rubro-negra foram Gustavo de Carvalho (presidente de 1939 a 42) e Dario de Melo Pinto (presidente em 1943/44 e depois em 1949/50). Até que na década de 1950 estabeleceu-se um novo marco na política rubro-negra com Gilberto Cardoso, o presidente-mártir, o homem que morreu de infarte por amor ao clube após uma cesta no último segundo que deu o título carioca de basquete de 1955 para o Flamengo. Ele presidiu o clube de 1951 a 55.

Após a morte de Gilberto Cardoso, as lideranças que mais marcaram a política da Gávea, e ocuparam a Presidência do C. R. Flamengo, foram as de Hilton Gonçalves dos Santos, Fadel Fadel, Luís Roberto Veiga Brito, André Richer (que posteriormente foi presidente do Comitê Olímpico Brasileiro - COB entre 1990 e 1995) e Hélio Maurício (que dá nome ao Ginásio de basquete da Gávea). Uma vida política sempre agitada, bastante democrática, e com muita alternância de poder sempre! Essas são marcas destacadas do clube.

Até que na eleição de 1976, o clube passou por uma nova revolução política, realizada pelo grupo que formou a Frente Ampla pelo Flamengo, do qual faziam parte Otto Lara Resende, Wálter Clark, Luiz Carlos Barreto, Márcio Braga, George Helal, Antônio Augusto Dunshee de Abranches e Joel Tepet. O grupo venceu a eleição e liderou o clube no período mais vitorioso da história do futebol da Gávea, fincando sua influência na política do clube pelas décadas seguintes. Lara Resende era um notório escritor e jornalista, pai do economista André Lara Resende, ex-diretor do Banco Central e ex-presidente do BNDES. Wálter Clark era diretor das Organizações Globo. Barreto, ou Barretão, era um dos principais cineastas do país. Junto deles estavam Márcio Braga, dono de cartório, e o advogado Dunshee de Abranches, os dois responsáveis por operacionalizar o planejado pela FAF.

O grupo ganhou a eleição, colocando Márcio Braga na presidência por dois mandatos (1977/78 e 1979/80) e Dunshee de Abranches por outros dois (1981/82) e (1983/84). Porém o segundo mandato foi interrompido com a renúncia do Presidente após a imensa pressão política que tomou conta da Gávea após a decisão de vender Zico para a Udinese, da Itália. Nas gestões de Braga e Abranches, os nomes que cuidaram do futebol foram os de Eduardo Motta, vice-presidente de futebol, e Domingos Bosco, que entre 1978 e 1982 foi Supervisor (Gerente Executivo) do futebol. Bosco trabalhou entre 1976 e 77 no Fluminense, quando foi convidado por Márcio Braga para implementar um moderno modelo de gestão que foi revolucionário no futebol brasileiro, e amplamente replicado em outros clubes após a Era de Ouro do Flamengo. Ele, de certa forma, foi o primeiro gestor profissional de futebol no Brasil.

A sucessão após a renúncia do presidente Dunshee de Abranches em 1983 também ficou dentro do grupo da Frente Ampla pelo Flamengo. Houve um pequeno racha que formou dois grupos políticos, um liderado por Márcio Braga e outro por George Helal. Estes dois grupos se sucederam no poder nas 4 eleições seguintes. Quem venceu a eleição de 83 foi George Helal (presidente de 1984 a 86), que teve como homens-fortes do futebol em sua gestão a Josef Berensztein, vice-presidente de futebol, na função executiva, e o Gerente de Futebol, Isaías Tinoco, na função operacional.

Na eleição seguinte venceu o grupo que reelegeu Marcio Braga (presidente em 1987 e 88). O Gerente de futebol, Isaías Tinoco, trocou o Flamengo pelo Vasco, e foi substituído por Luiz Henrique de Menezes. A gestão seguinte, no biênio 1989-90 foi do presidente Gilberto Cardoso Filho, com George Helal como Vice-presidente de futebol e Josef Berensztein como Vice de Finanças. No segundo ano da gestão, 1990, tentou-se uma nova revolução administrativa, contratado-se Francisco Horta como Gerente Executivo do Futebol para ser um Manager num modelo moderno de gestão. Horta, que fora presidente do Fluminense de 1975 a 1977, havia revolucionado o mercado do futebol ao montar a Máquina Tricolor. A escolha de Horta foi um amadurecimento do conceito de gestor profissional no futebol, que tinha tido um embrião em Domingos Bosco, que trabalhara com Horta no Fluminense. É fundamental notar que ainda não havia no futebol brasileiro gestores profissionais.

Mas a gestão do filho de Gilberto Cardoso foi a menos vitoriosa desde que a FAF assumiu o clube em 76 e isso teve um preço. Apostou-se então na volta de Márcio Braga para o biênio seguinte, que trouxe Isaías Tinoco de volta ao clube, novamente como Gerente de Futebol.

Apesar do título brasileiro naquele ano, o caldeirão político da Gávea seguia em ebulição, e desta vez imperou o desejo de renovção. A eleição no fim daquele ano marcou pela primeira vez desde 1976 a vitória de um candidato sem ligações com a Frente Ampla pelo Flamengo, que chegava prometendo mudanças. O jovem empresário Luiz Augusto Veloso presidiu o clube no biênio 1993-94, tendo a seu lado, como homem forte do futebol a Paulo Dantas, que assumiu como Vice-presidente de futebol. Prometendo conter despesas, a linha de trabalho foi em massificar o elenco com jovens vindos das divisões de base. O grupo inexperinte não conquistou títulos no futebol, e isso na política do clube é fatal. O insucesso de Veloso abriu a porta para emergir um novo grupo político no clube, liderado por Kléber Leite, que assumiu o clube tendo a Plinio Serpa Pinto como seu braço direito, na Vice-presidência de futebol, e Paulo Angioni como Superintendente de futebol, mesmo cargo que ele ocupou no Vasco entre 1979 e 1994. Kléber agitou o futebol carioca com contratações de impacto, ao estilo de Francisco Horta no Fluminense nos anos 70. A ousadia foi bem aceita e ele foi reeleito, tendo sido presidente por duas gestões 1995-96 e 1997-98. Mas para o segundo mandato o clube perdeu Angioni, que foi contratado pelo Corinthians. Kléber Leite era jornalista esportivo, trabalhou como radialista na Rádio Globo, onde cobria as partidas sentado atrás do gol e entrevistando os jogadores em campo; enriqueceu ao se meter no negócio de exploração de placas de publicidade do Maracanã e no mundo do entretenimento, investindo em casas de espetáculo. Seu modelo de gestão foi altamente gastador e isto levou a dívida do clube, que já vinha crescente e preocupante desde o final dos anos 80, a estourar de vez.

Kléber Leite, como radialista, cobrindo a era do duelo Zico x Roberto Dinamite

O presidente seguinte foi Edmundo Santos Silva, eleito para o biênio 1999-2000 e reeleito para 2001-02. Seu Vice-presiente de Futebol foi Wálter Oaquim. Na primeira gestão eles voltaram a tentar implementatar um modelo moderno de gestão, com um executivo autônomo gerindo o futebol. Entre janeiro de 1999 e fevereiro de 2000 este gestor foi o ex-goleiro de Flamengo, São Paulo e Seleção Brasileira Gilmar Rinaldi, o Gerente Executivo do futebol. Entre fevereiro e maio de 2000, o escolhido foi o treinador Renê Simões, que nunca tinha trabalhado no clube e assumiu como Superintende de futebol. O modelo moderno entrou em conflito com os "diretores amadores", não remunerados, ex-chefes de Torcidas Organizadas, e que foram levados para dentro da política do clube por Edmundo, pois haviam sido peças-chave na sua vitória nas eleições do fim de 98: Leonardo Ribeiro - o Capitão Léo (ex-presidente da Torcida Jovem do Flamengo) e Eugênio Onça (ex-presidente da Raça Rubro-Negra). O mesmo Capitão Léo que foi peça ativa na demissão de Renê Simões, também foi personagem principal, 10 anos depois, no pedido de demissão de Zico do cargo, só que, então, Capitão Léo exercia a função de Presidente do Conselho Fiscal do clube.

Edmundo dos Santos Silva fechou parceria milionária com a empresa suíça de marketing ISL, a mesma envolvida anos depois nas investigações de corrupção dentro da FIFA envolvendo os nomes de Joseph Blatter, João Havelange e Ricardo Teixeira. Em 2002 a ISL faliu na Suiça, o Flamengo não tinha recebido todos os recursos do contrato, não tinha como cobrar da massa falida na Suiça, e já tinha gastado de forma antecipada o que tinha por receber. Os cofres ficaram com um rombo enorme, levou anos para as finanças serem reorganizadas. O presidente Edmundo Santos Silva sofreu Impeachment. Assim como a Presidência da República sofrera 10 anos antes, em 1992, o Flamengo foi o único clube no Brasil a interromper um mandato por incapacidade de gestão. Gilberto Cardoso Filho assumiu como presidente interino e convocou eleições, vencidas por Hélio Ferraz para um mandato-tampão de pouco mais de um ano, entre outubro de 2002 e dezembro de 2003. Com ele o futebol foi gerido pelo Vice-presidente Geral, Radamés Lattari, ex-técnico da Seleção Brasileira de Vôlei, pelo Vice-presiente de Futebol, Paulo Dantas, que tinha tido a mesma função na gestão de Luiz Augusto Veloso, e pelo Superintendente de futebol Paulo Angioni, que trabalhou no Corinthians em 1997, no Palmeiras em 1998-99 e no Fluminense em 2000-01. Houve então a mudança para que presidência fosse ocupada por triênios e não mais biênios.

Em dezembro de 2003 foi novamente eleito Márcio Braga. O clube estava em meio a um caos financeiro e conseqüentemente político. Ele conseguiu unir as diferentes correntes e reorganizar muita coisa, acabou reeleito por isso. Esteve na presidência nos triênios 2004-05-06 e 2007-08-09. Em 2004, uma nova tentativa de modernização: o Vice-presiente de Futebol continuou sendo Paulo Dantas, o Diretor-Executivo era José Maria Sobrinho e o Diretor Técnico do Fla-Futebol escolhido foi Júnior. O ídolo rubro-negro exerceu a função entre janeiro e dezembro de 2004. Para 2005, reformulação: o Vice-presidente de futebol foi Gérson Biscotto e o Gerente de Futebol foi Anderson Barros (Jan/2005 até Nov/2005). Anderson Barros que anos depois veio a ocupar o mesmo cargo no Botafogo. Sem baixar a poeira das turbulências, mais uma reformulação, assumindo como Vice-presidente de futebol o ex-presidente Kléber Leite, adversário de Márcio Braga no pleito anterior, e com Isaías Tinoco, voltando depois de vários anos no Vasco, como Gerente de Futebol. A dobradinha Márcio Braga-Kléber Leite funcionou de dezembro de 2005 até julho de 2009.

Em 2009, Márcio Braga se afastou do cargo por problemas de saúde - cardíaco e de pressão - e durante todo o ano o Presidente foi Delair Dumbrosck (Fevereiro-Dezembro). Delair, antes, era ferrenho adversário de Márcio, quando como Presidente da Associação de Moradores do bairro lutava contra a construção de um novo estádio na Gávea, projetos idealizados nas gestões de Kléber Leite e depois Márcio Braga. De adversário virou aliado, assumiu a Vice-presidência geral e em 2009, como substituto, foi Presidente. Em julho, Kléber Leite se demitiu, seu substituto, como Vice-presidente de futebol, foi Marcos Braz (Ago a Dez/2009). O Gerente de Futebol ainda era Isaías Tinoco.

No fim de 2009 a eleição mais disputada da história do clube, com 7 candidatos. Delair Dumbrosck era o candidato do grupo político liderado por Márcio Braga; Plinio Serpa Pinto, do grupo de Kléber Leite; o advogado criminalista Clóvis Sahione, do grupo que elegera Edmundo Santos Silva; a ex-nadadora Patrícia Amorim, candidata dos esportes amadores em outras eleições, dessa vez tinha o apoio dos ex-presidentes Hélio Ferraz e Luiz Augusto Veloso; o candidato dos esportes olímpicos era o ex-jogador de basquete Pedrinho Ferrer; e com um discurso modernizador e profissionalizante tinha João Henrique Areias, profissional de gestão e marketing, que se lançou como candidato independente (a falta de apoio custou caro, ele ficou em último). Venceu, surpreendentemente, a vereadora Patrícia Amorim, a primeira mulher a sentar na cadeira de presidente da Gávea.


No triênio 2010-12, Patrícia começou apostando na continuidade para cuidar do futebol, entre janeiro e abril de 2010, o Vice-presidente de futebol foi Marcos Braz, do grupo político de Márcio Braga e Delair, com o Gerente de Futebol ainda sendo Isaías Tinoco. Em junho, uma nova tentativa de gestão com um executivo profissional e autônomo: Patrícia conseguiu atrair Zico para a política do clube. De junho a setembro de 2010, o Vice-presidente de futebol foi Vinícius França, com o Diretor Executivo do futebol sendo Zico e o Gerente de Futebol ainda sendo Isaías Tinoco. Acusações de Capitão Léo levaram ao pedido de demissão de Zico, Vinícius França se demitiu junto. De outubro de 2010 a fevereiro de 2012, a cúpula do futebol ficou com o Vice-presidente de futebol, Luiz Augusto Veloso, e o Gerente de Futebol, Isaías Tinoco, com Vanderlei Luxemburgo sendo o técnico e não-oficialmente exercendo a função de Diretor Executivo do Futebol. Em fevereiro de 2012, toda a cúpula foi demitida e renovada. O novo Vice-presidente de futebol passou a ser Paulo César Coutinho, filho do ex-treinador Cláudio Coutinho (assumiu em Fev/12 e foi demitido em Set/12), o Diretor Executivo do futebol, Zinho (assumiu em começo de Mai/12) e o Gerente de Futebol, Jairo dos Santos (que só ficou no cargo por três meses, de começo de Mar/12 a fim de Mai/12). Ao longo da gestão de Patrícia um nome que foi peça chave na gestão do futebol e sobreviveu a todas as mudanças foi Michel Levy, Vice-presidente de Finanças.


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